Em tempo:
Depois de ter publicado esta nota, alguns amigos me colocaram uma ou outra questão a que já respondi individualmente.
No entanto, para completar os esclarecimentos que me propus fazer com esta contribuição, passo a acrescentar o que, em meu entender, deverá ter sido a sequência e cronologia do que aconteceu.
Jo Berardo e a sua Fundação pretendiam tomar uma posição de relevo, qualificada, no BCP.
De acordo com a regulamentação e legislação em vigor, a questão tinha que ser previamente colocada ao Banco Central para que a apreciasse e desse indicação de objecção ou não impedimento.
Terá havido uma posição de não objecção. Não foi uma aprovação do crédito, claro, e é por isso que usar as palavras "aprovação" ou "autorização" é incorrecto e jogando com elas em várias sedes e momentos, leva á confusão do publico menos informado sobre estes procedimentos. Pode ser isso mesmo que se pretende, e daí a gravidade das imprecisões.
Vitor Constancio pela sua acção de menor protagonismo, de falar apenas o essencial, usar apenas a linguagem técnica não só agora mas enquanto foi Governador, prestou-se a estes ataques e a amealhar raivas publicas pela acção de supervisão do BdP.
E, uma primeira questão, do meu ponto de vista, pode ser colocada. A não objecção á tomada da participação qualificada. Por mim, teria reservas quanto quer á finalidade da operação de financiamento quer quanto ao perfil do investidor, de Berardo ou da sua Fundação.
Até pelo facto de ser desfavorável, em absoluto a este tipo de financiamentos bancários para compra de acções. É o esquema de investimento, aquisição com o "pelo do próprio cão", com o que não concordo, não simpatizo em absoluto.
Na altura, o BdP teve por certo as suas razões ou não razões para não objectar. Eu, teria objectado mas isso é uma posição pessoal e,agora,comoda.
Importante: e aqui não há que falar das garantias que foram balofas pois isso competia mais tarde, em sede de decisão e aprovação do crédito, à CGD e não ao Banco dE Portugal.
Mas estes passos devem ficar obrigatoriamente esclarecidos e postos nos momentos reais nesta discussão ou em sede da Comissão de Inquérito da AR !
Retomando a sequência: o BdP não objectou, Berado e a CGD prosseguiram com a operação.
Em seguida a CGD e Berado terão discutido os detalhes e negociado. A taxa de juro, o momento, as garantias. E, nesse ponto, a Administração da CGD teve a sua responsabilidade que lhe deve ser cometida.
Deixou-se enrolar com garantias que nada garantiam, com coisas de encher o olho mas que na primeira curva de percurso desvalorizariam inevitavelmente e passariam a não garantir o que quer que fosse. Como aconteceu.
E, agora á posteriori da concessão de crédito pelo Conselho de Administração da CGD, coloco a questão de o BdP, já de posse dos elementos que a evolução do chamado mercado, da compra das acções, do incumprimento no pagamento e tudo o que se lhe seguiu, deveria ter intervindo muito mais cedo. Penso sinceramente que sim. Mas não é uma culpa que possa ser atribuída a Vitor Constancio que já nada terá tido a ver com isso.
Constancio tornou-se um ponto de mira que se colocou muito a jeito neste processo. Até pelas funções que veio a desempenhar, pelo seu posicionamento politico como ex Secretario Geral do Partido Socialista, pelo que os portugueses sofreram com as políticas do governo do tempo da Troika, o país a necessitar de fundos, ele no comando da nau que os poderia fornecer ou não... por tudo um pouco.
Continuo a pensar que foi urdida uma teia nos meios de comunicação e politicos para dar a ideia que Constancio ou o Banco de Portugal decidiram aprovar ou autorizar o crédito concedido e. aí sim, decidido e aprovado pela Administração da CGD. Utilizando essas palavras em contextos diversos e em sedes diversas, também.
E é esta simples, singela contribuição que me sinto á vontade para dar, tanto mais que toda a vida fui profissional deste metier, obrigatoriamente conhecedor destes meandros. Por vezes, com o que vejo, chego a pensar "oxalá fosse mais ignorante" !
CPM
O crédito a Jo Berardo “autorizado ou aprovado” por Vitor Constancio !A aprovação ou recusa de uma operação de concessão de crédito é da competência exclusiva da instituição de crédito, do Banco que a concede, como é natural.Ao Banco compete analisar o risco, as garantias a exigir, as garantias propostas a prestar, a bondade da operação, a qualidade do credor e a rendibilidade do projecto a financiar.A quem empresta é exigido, para seu governo, que o faça e que o faça bem, com o maior rigor e com a melhor análise técnica de que disponha.Não há, nunca houve nem nunca haverá um Banco Central, um supervisor ou um regulador que possa aprovar ou dar ordens sobre um crédito a conceder por uma entidade bancária do sistema a que preside. Pela simples razão de que quem concede o crédito não é o Banco Central, é o Banco que avança com os capitais. Refiro-me aqui ao facto noticiado de er sido o Banco de Portugal a autorizar ou aprovar o crédito da CGD a Berardo.Outra coisa, muito diferente, é o Banco Central, o supervisor, pronunciar-se sobre a situação de conforto, de observação dos racios prudenciais de uma determinada instituição, um Banco do sistema bancário, caso o seu balanço tome determinada configuração pela concessão desse crédito.Outra ainda é um Banco Central pronunciar-se sobre a autorização ou não para que determinada entidade, pessoa singular, colectiva ou instituição tome posição accionista qualificada num Banco ou Instituição Financeira já existente e a operar. Refiro-me aqui á objecção ou não por parte do Banco de Portugal em que Berardo ou a sua Fundação tomassem uma posição qualificada no Capital do BCP.Posto isto, há que colocar uma dúvida muito forte sobre o titulo colocado na sua primeira página pelo jornal Publico sobre o financiamento de 300 e tal milhões pela CGD a José Berardo.O titulo do jornal não só insinua como afirma mesmo que foi Vitor Constancio e o Banco de Portugal quem autorizou e aprovou o crédito a Berado. E, isso, é impossivel que tenha acontecido.Tanto os jornalistas do Público, como os comentadores que se seguiram na praça publica nos ultimos dias, como as estações de televisão, ou desconhecem por ignorancia, e sendo assim não deveriam estar a fazer noticias nessa área, ou fizeram-no com outra intenção, e isso será ainda mais condenável.Qualquer profissional da área financeira sabe que as Instituições reportam á posteriori, mensalmente, quer para a Central do Banco de Portugal quer para os serviços de Supervisão a informação relativa aos grandes riscos em que incorreu a respectiva instituição, sobre o crédito concedido e sobre os mutuários. E, em particular, o crédito vencido e o chamado mal-parado.Mais estranho ainda é que alguns Deputados conhecedores assumidos e reconhecidos destas matérias não tenham, logo de inicio, esclarecido convenientemente tudo isto e, ao invés, tenham optado pela participação e pela promoção de um circo mediático de propostas de novas audições, de duvidas e de descrédito sobre pessoas e instituições.Apenas rigor, rigor e mais rigor se deve exigir a esta gente toda. Jornalistas e politicos, claro.
E que cada um aprenda o necessário sobre as matérias das ondas e dos picos que pretende cavalgar ou escalar. Para que as quedas não sejam graves.Carlos Pereira Martins
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