domingo, 21 de julho de 2019

É tempo para dizer "PAREM" !







Durante muitos anos, dir-se-á que desde sempre,  as pessoas tiveram  receio, vergonha, e procuraram evitar deixar transparecer sinais de falta de cultura e de  ignorância. 
Ser ignorante, não ter cultura, não saber escrever ou falar com correcção, não ter um nivel médio  aceitável de cultura geral, sempre foi motivo de vergonha por ser sinal entendivel de estatuto social muito baixo, por ser motivo de falta de poder, de discriminação pela negativa.
Um aluno sentia vergonha se dava erros na escrita, se pronunciava mal uma palavra num exercício de leitura. Um professor, um jornalista e muito mais um locutor,  sentiam vergonha se lhe apontavam  erros graves na escrita ou na leitura.

Nas  décadas mais recentes, esta grelha de valores tem vindo a alterar-se muito significativamente.

A sociedade em geral, os meios de comunicação e a “moda”  actual, desenvolveram um processo  que está em curso, é dinâmico e caracteriza-se pelo desmoronar, pela perda de importância de valores fundamentais para a vida em sociedade, para a  partilha necessária,  para a convivência e para o exercício da cidadania, muito mais para uma necessidade fundamental para a vida com dignidade e com maiores niveis de felicidade, a solidariedade.

Assentou-se no pressuposto  que a falta de cultura,  a falta de conhecimentos,  o não ler uma vez na vida um unico livro e  poder falar como se entenda, basta que a sonoridade seja  parecida, o grafismo e a morfologia não interessam, não tem qualquer importancia.

Que mal faz se as pessoas se entendem? é preciso é simplificar, o menor custo possivel.

Começou a ser criado  um enorme exército  de ileterados, de  pessoas que na prática não sabem ler, escrever e falar correctamente.  Tecnicamente não são analfabetos. Andaram na escola ou tiveram mais estudos. Mas deixaram deteriorar o que aprenderam. Agora, é como se  o fossem. 
E há os que sabem ler, escrever, até falar mas  a perda de referências e de valores fundamentais tornou-os, na prática, “analfabetos  sociais”.


Quem sabe, quem pode, quem nada e quem detém os meios trata-os como analfabetos, como um exército de pessoas que não têm ambição  pelo saber, pela qualidade, pelos valores. Trata-os como lixo, indiferenciado.


E basta parar e observar como  as telvisões, as radios e os jornais  lhes fornecem  a informação  e conhecimentos,  como  lhes formatam as mentes e os gostos.
Cientes  de tudo isso, criam programas sem conteúdo, dão-lhes comédias, coisas que fazem apenas reagir os sentimentos primários, superficiais, o fazer rir ou chorar, as emoções singelas.

Atolam-nos nesses conteúdos. E não importa que quem os escreve o faça com erros, que quem com eles comunica o faça com erros  também, com palavras mal pronunciadas e escritas. A qualidade, está mesmo fora de questão e dá-se-lhes até a ideia que com esta facilidade, sem pressão de escrever ou falar bem, todos são muito mais felizes. Por isso mesmo  as capas de jornais aparecem cheias de erros primários, as legendas na televisão seguem o mesmo caminho. Já não há quem corrija pois já não é sequer preciso.

E bem pode dizer-se que, no entanto,  tudo o que é oferta, produção, o Mercado, está atento e funciona  em  função deste exército de ignorantes  e incultos. As televisões, os jornais e as radios degladiam-se na criação de conteúdos dirigidos a esta “espécie”  de  cidadãos.  Conteúdos para gente que quase não sabe falar e escrever, gente sem valores e, muito mais grave, sem vontade para os ter, para ser diferente.

E, quando esses  conteúdos que provocam as reacções emocionais  de comédia ou choro já não chegam,  atolam-se as pessoas com as imagens das mais horrendas tragédias e crimes. Sem qualquer rede de protecção, sem crivos de salvaguarda dos direitos de quem quer que seja. É preciso é fazer sentir, emocionar, ocupar e interessar.


É já uma arrepiante maioria  de gente assim  criada. Que apenas quer o que é superficial, elementar, frivolo, o horrendo,  mas que distrai ou diverte.  De forma a que esta maioria possa entender  e digerir.

Tudo isto, o que agora ficou escrito, não é sequer novidade, toda a gente o sabe, certamente.

Mas por isso mesmo e porque está a fazer uma enorme escola, está a propagar-se e sem critica ou contraditorio visivel, é necessário partilhar a indignação e a perplexidade. O aviso que isto assim não pode continuar pois o caminho esbarra num muro, não tem continuação.  

terça-feira, 16 de julho de 2019




A noite passada fui  ao Teatro A  Barraca onde " os alunos do 2º ano de Artes Performativas do Instituto de Desenvolvimento Social viveram n'A Barraca com a coordenação de Rita Lello "  a empolgante experiência de levarem à cena uma divertida peça : 

"Dê-me licensa qu'isto ainda vai demorar um bocadinho"!

Está muito na moda fazer uma coisa que se faz há milhares de anos nas missas  onde lhe chamam um introito, e também noutras missas onde lhe chamam  os preliminares, aqui será uma declaração de interesses. Coisa que se faz à cabeça !

É isto e cá fica:  gosto muito de ver teatro e na minha juventude, ia muito à Barraca ver bom teatro. Coisas de jovens, inconscientes e de gosto  ainda em formação ...!
Ficou-me o vício e, ... ainda vou !
Gosto de teatro mas das artes de Molière não percebo nada.
Acontece que  quem nada percebe, um  ilustre ignorante, sente, gosta e não gosta, sempre dentro  do quadro da sua mais santa ignorância.
Está dito e feito.


Gostei do que vi. Divertido, com muito ritmo,  com quadros e movimentações inovadores, próprio para gente nova, com sangue na guelra, sangue a ferver e linguas desempoeiradas. Linguas e cerebros, o que é muito bom de ver e sentir.  E senti muito, sobretudo naquele pedaço em que uma delas, de farfalhudo bigode, o que tornava a coisa insuspeita, fez do meu colo o seu assento e houve em Santos ecos daquela boite nortenha  de futebolisticas  memórias,  o Calor da Noite.


Nada impedirá, assim  o creio, que do alto de tão singelo  desconhecimento das teorias, tecnicas e praticas desta arte, tire já as  minhas conclusões, ainda que preliminares.

Vai daí e deixo  uma nota, ao geito de Mercelo de outrora ou Marques Mendes de agora, sobre a qualidade interpretativa, reforçada e muito pela qualidade da morfologia do corpo e do rosto, sobre esta jovem da foto que aqui insiro.
Pequena, com poses notáveis,  jogo de cintura ou de ancas ou do que quer que seja, sobretudo  as poses,  notáveis.
E com uma expressão de rosto, um olhar que joga com os textos,  notável !
Uma  jovem com este talento faz falta em  muitas peças, tenho a certeza.






E mais esta jovem actriz !
Alta que ainda não deve ter parado de crescer. Segurem-na para que a altura não fique acima do talento que é já enorme. Um  pisar o palco, o movimento  que se afirma seguro e dono do espaço, a presença,  penso que isso diz tudo  e me poupa em tempo.
Faz falta em  muitas peças futuras, pois claro.
É  "pra levar, também. Embrulhe, se faz favor".






E ainda mais uma.  A dona de uma voz  forte, grave e muito  bonita e de uma presença e capacidade interpretativa e comunicacional ( não sei em em linguagem teatro-barraquense  isto significa o que quero dizer) também de se lhe tirar o chapéu.
Por mim, não tenho duvidas, comprava já estas três !
Para peças futuras, claro.





Bom, depois, ... depois,  as belezas naturais.
Dei conta destas duas  que as fotos ilustram.
Esta jovem, uma beleza expressiva que pode ser o anjo, a imaculada de qualquer  peça ou cena mas também  pode ser, e de certo que o fará igualmente tão bem, a beleza má, preversa e vingativa.
A bela com os acostumados senãos.






E, a segunda, também dona de  uma beleza invulgar,  pouco convencional, pode igualmente ser a beleza triste de todas as desgraças.
Tamém a trazia já comigo, para muitas peças futuras. Vai fazer falta.








E, por fim,  dois jovens que por lá pesquei do meio de tanta concorrência.
Maria do Céu Guerra e Helder Mateus da Costa,  bons amigos que me convidaram para estar com eles. Obrigado, muito.
Estes, claro que também serão para trazer.
Mas para peças passadas, todas as de que eu gostei já, para as do  presnte de que vou gostando e para as do futuro  de   que  quero  vir  a gostar.
Como dizem no meu Belenenses, ... com a certeza de vencer !
Está feito.






... e o "encore",  também há um  "encore".

Encore e palmas que vão  para a Enorme, que não é em tamanho mas sim em talento e camaradagem, Rita Lello, que me pareceu a Mãe de tudo aquilo, a mão para todas as faltas de equilibrio. com camradagem e amizade, eu vi.












sexta-feira, 12 de julho de 2019

Para  quem  está  a maioria  dos  dias  da  semana fora  do  País,   um  maior  distanciamento  da  pastosidade  do dia  a  dia  facilita  menor  comprometimento  com  o  políticamnente  correcto
e  permite  conclusões  mais   rápidas  e  mais  efectivas  em  relação  ás  nossas  muitas  realidades.

Depois  de  quase  uma  semana  na Polónia   e  uns  outros  dias  em  Bruxelas,   cheguei  ontém,  vi,
na  RTP 1  o  telejornal  e,  a  seguir,  Fatima Campos Ferreira  tentar  atrapalhar  o  Carvalho  da Silva.
Não  conseguiu,   nem  de  perto  nem  de  longe.

E,  a  conclusão,  apareceu-me  rapidamente  e  muito  obvia :  "a  imprensa  que  temos,  é  o  pior  partido  politico  português".     Militantes disfarçados  de  jornalistas.

O  mais  derrotista,  mais  sensacionalista,  que  mais  contribui  para o  desprestigio  do  País,  para  a  desmoralização  e  falta de  esperança  dos  cidadãos,  e  ... por  aí  fora.

A  imprensa  e  os  jornalistas,  numa  parte  muito  significativa,  actuam  fora  de  qualquer   controlo  em  termos  de  verdade,  ética,  civismo  e  muitos  outros  valores  essenciais.
Á  menor  critica,  conscientes  do  que  a  liberdade  de  Imprensa  vale  para  todos  nós,  servem-se  da  chantagem  emocional  e  intelectual  e,  aqui  d'el  rei  que  nos  querem  censurar.

Criam  factos,  inventam  situações,  estendem  passadeiras  de  poder,  liquidam  gente  sã ,  prova-se  o  contrário  e  ninguem  é  molestado. todos  sabemos  que  é  assim.

A peça  que  abriu   o  telejornal,  sobre  os  representantes  das  instituições    que  estão  a  pré  avaliar  a  situação  real  da  economia  portuguesa,   por  certo  terá  dado  grande  prazer  a  quem  a  fez,  mas  não  se  faz.
Uma  peça  ao  geito  dos  preambulos  dos  filmes  do  007.  Imagens  aceleradas  dos  carros  que  conduzem  os  negociadores  dos  hoteis  ao  Ministério  das  Finanças,  velocidade  na  passagem  dos  fotogramas  com  pastas,  carros,  edificios,  ...,  e  um  tom  de  voz,  de  fundo,  digno  dos  filmes de
"palhaçada"  como  chamavamos  aos  policiais  onde  o bom  da  fita  conseguia  sempre  os  seus  intentos.

Interessante  não  fosse  triste  e  ridiculo  brincar  com  coisas  sérias. Inconcebivel  e  inexplicavel,  brincar  ou  gozar  com  o  futuro  de  todos  nós.
Incompreensivel que  alguém  responsavel  pela  informação  de uma  estação  que  deveria  ser  responsável  e  de  serviço  publico,  não  filtre  os  impetos  de  dos  menos  experientes  e  sem responsabilidade.

Aquela  reportagem  ilariante,  vista  por  um  estrangeiro,  deixá-lo-á,  de  certeza,  na  maior  dúvida  quanto  á  sanidade  mental  e  colectiva  de  todos  nós.

Passando  á  frente,  na  entrevista  de  Fatima Campos Ferreira  a  Carvalho  da  Silva,  o  tom  de  show  com  a  desgraça  colectiva,  continuou  como  nos  famosos  Prós  e  Contras.

Não  quero  acusar  ou  ofender  ninguém, é ,  tão  somente,  a  forma  como   sinto  o  que  vejo .
O  tom  de  voz,  absolutamente de  feira,  de  falsete,  de plástico,  a  procurar  tirar  partido  da  desgraça,  os  cometários  implicitos  nas  perguntas e,  sobretudo,  noa  á  partes,  de  achincalhamento  do  país ,  de  tudo  e  de  todos,  tocam  o  ridiculo,  não  fosse,  uma  vez  mais,  um  assunto  demasiado  sério.

Carvalho  da  Silva  esteve,  naturalmente,  a  um  nivel  muito,  muito  superior.
Aliás,  como já  estivera  Mario Soares.  já  o  patrão  da  Jeronimo  Martins,  não se  livrou  do  seu  ar  de  absoluto  convencimento  e  superioridade,  colocando  amiúde  a  entrevistadora  como  cobaia  -  se a fatima  não  trabalha  mais ... ,  ... se  você  não  faz  assim  ou  não  faz  assado  ...  -  o  que  lhe  retirou  qualquer  força  ao  que  pudesse  ter  dito.


Nos  dias anteriores   ao  meu  regresso,  em  Varsóvia,  também  me  choquei  com  uma  certa  manifestação  ,  de  dia  e  de  noite,  frente  ao  Palacio  do  Presidente,  com  velas,   imagens   de  santos  e  maquetes  de  aviões.

Logo,  não  é  só  cá  que  a  mediocridade  e  o  ridiculo  aparecem .

Não  se  entende  como  certa  imprensa,  obrigatoriamente  mais  evoluida,  não  pega em  temas  como  explicar  em  palavras  simples,  do  dicionário  da lingua  portuguesa,  o  papel,  por  exemplo,  das  agencias  de  rating. Explicou-o,  no  pouco  tempo  que  teve,  Ferro  Rodrigues  no  congresso  do  PS. alinhadinho,  claro  e  simples.  Explicou-o  Marcelo  Rebelo  de  Sousa  no  passado  fim  de  semana ,  classificando a  sua  falta  de  honestidade  mas  concluindo  que  temos  que  conviver  com  elas ...   conclusão   que  não  se  percebe  vinda  de  uma  pessoa  inteligente.

Clara  e  brilhante  a  explicação  de  Diogo  Freitas  do  Amaral  quanto  á  acção   desses  agentes  e,  em  particular,  dos  "hedge   funds",  na  especulação  financeira, manipulação  "legal"  dos  mercados e  dos  produtos  alimentares ,  situação  que  irá   desencadear   fome  generalizada  na  Humanidade  e  a  possibilade  de  uma  Guerra  Mundial.
Não  se  percebe o  papel  da  entrevistadora  que  teve,  mesmo  ao  findar  a  entrevista,  a  conclusão  mais  importate  de  toda  ela  e  nem  lhe  "pegou" . Não  terá   percebido  peva  daquilo  tudo ?
Mas  soube ,  a  despropósito,  convidar  os  espectadores  para  uma  nova  entrevista  na estação  do  "serviço  publico "

Não  há  paciência  para  tanto  pretenciosismo  e  tanto  convencimento.
Valha-lhes  a  santa  ignorãncia ,  irresponsabilidade  e  inconsciência.
Já  não me  lembro  de  quem  dizia : Não  há  pachorra !

A  Fatima  Campos  Ferreira,  a  crise  politica  trouxe   um  autêntico  jackpot .
Não lhe  bastava  já  os   shows   das  segundas   feiras  onde  falava ,  questionava  e  concluia  em  nome  do  pais  ou  dos  portugueses,  eis  que  lhe  cai  do  céu  a  possibilidade  de  ter  mais  do  mesmo  ... todos  os  dias  e  com  tudo  o  que  fala  de  catedra  ou    decide  neste  país.


Não  será  o  Sempre  em  Festa,  muitas  vezes  até  parece,  mas é,  pelo  menos,  o  show   continuo, bizarro,  de  lesa  Pátria,  leviano  e  sem  se importar  de  brincar  com  o  que  é mais  sério,  a  Vida  e  o  Futuro  das  Pessoas,  dos  Jovens  e  dos  Velhos !


2  -  Educação  -  o  grande  negocio  das  universidades  e  do  ensino


Há  muito  tempo  que  me  convenci   que,  praticamente  tudo,   tem,   por   base,  a  educação.
O  nivel  e a  qualidade  da  educação,  a  existência  ou  inexistência  dela.
A  economia,  a  saúde,   em  geral,  a  vida  em  sociedade,  são  decisivamente  influênciados  pela  qualidade  da  educação.

O  que  tem  acontecido  é  que  esses  níveis  desceram  assustadoramente  e  criou-se  uma  permissividade,        uma  escola,   um  clima,  uma  comodidade  e  um  facilitismo   de  convivência  com  a  falta  de  qualidade  e  de  Valores  éticos  e  cívicos.

Ainda  há  dias,  num  dos  canais  de  informação  continua, os  24 horas,   ou  na  RTPI,  não  posso  precisar,  via  uma  reportagem  sobre  uma  jovem  portuguesa  de  sucesso,   na  América.  Cientista  nos  Estados  Unidos  da  America  ou  no  Canada,  a  fazer  investigação,  muito  competente  na  sua  área  no  que faz.  Enfim,  um  caso  de  sucesso  pessoal  e  de  prestigio  para  o  País  e  para  todos  nós.
Falou  com  rigor  e  competência  enquanto  o  assunto  foi  o  da  sua  área  de  especialidade.
Quando  o  jornalista  passou  á  conversa  de  café,  fiquei  abismado :  " eu  dizeria",  sem  mais  nem  menos,  " dizer  a  ele" em  vez  de  dizer-lhe,  aí  é  que  era  o  cabo  dos  trabalhos. Dar  a  volta  á  dificuldade passou  a  ser  a  norma. Dizer  a  ele,  levar  a  ele  e  outras  do  género,  é  como  se  fala.
A  minha  professora  da  primária, se  fosse  viva,  ficaria  doente.  Uma cientista  e investigadora!
Pensei  ainda   em  que  medida  poderia  descontar  o  facto  de  ser  luso descendente,  filha  de  pais  emigrados. Estou  habituado  ao  português  arrevesado  das  segundas  e  terceiras  gerações.
E  compreendo  que  assim  seja.
Mas  não,  qual  o  quê,  a  jovem  era  do  norte  de  Portugal  e  tinha  ido  para  as  Americas  há  menos  de  um  ano !

E  isto  tem  a ver,  se   formos  um  pouco  mais  fundo  na  análise,  com  o  que  de  muito  mau  foi  feito  nas  últimas  décadas   na  educação  e,  em  particular,  no  ensino  superior.
O  grande  negocio  das  universidades  e  do  ensino.
Abriu-se  a  oferta  de  cursos  de  forma  agressiva,  pouco  exigente -  há  anos  a  passar  no  acesso  a  cursos  superiores  com  negativíssima  a  português  ou  a  matemática -     apenas  para  fazer  medrar  o negocio  financeiro  dos  grupos  ligados  ás  universidades.

O  falar  mal  e  de  qualquer  maneira  passou  a  ser  bem  tolerado,  até  pela  razão  de  que  quem  deveria  criticar  e  corrigir,  também  não  saber.
O  cumulo  vi-o  no  passado  verão  com  uma  campanha  publicitária  de  uma  bebida  á base  de  chá  que  propunha  a  oficialização  de  uma  nova  palavra, " mudati",  significando uma atitude  de  mudança  de  outras  marcas  para  aquela. E  a  coisa esteve  pertinho  de  pegar.
Outro  exemplo  é  o  dizer  que   se  fez  ou  fará  qualquer  coisa   a sério,   ou  a  valer. Desta  vez  vai  ser  a  sério  deixou  de  ser. Agora,  mesmo  para  gente  conhecedora ,  locutores  e  jornalistas  da  escrita  incluídos,  passou  a  ser " á  séria".   à  séria ,  quererão  dizer,  rebuscadamente,  á  maneira  séria?
Pois  que  seja,  mas,  cá para  mim,  é  muito  mais  desleixo  e  falta  de  saber.


3 -  O  Ensino  e  o  Desemprego

Percebo  perfeitamente  a  frustação  e  a  revolta  que  crescem  nos  corações  de  tantos  jovens  e  das suas Familias.
Há  poucas  décadas,  ter  um  curso  superior  não  significava,  só  por si,  ser   uma   pessoa  rica  ou  milionária,  mas  era  sinónimo  de  uma  vida  com  alguma  qualidade,  tranquila,  acima  da  média.
Agora,  os  jovens  acabam  os  cursos  a cujo  acesso  foram  quase  empurrados,  quem  não  é  doutor   não  é  nada,  saem  das  universidades  e,  como  um  país  não  pode  funcionar  só  com  profissionais  de  elevada  qualificação  científica,  são  precisos  e  muito,  os  técnicos,  os  bons  mecânicos,  bons  serralheiros,  marceneiros,  carteiros,  condutores  e  diversos outros  muito  dignos  profissionais,  os  licenciados  acabam  frustrados  revoltados,  á  frente  de  um  computador,  de  um  telefone  num  "call  center"  ou  de  uma  caixa  registadora  em  qualquer  grande  superfície.

Mas é  impossível  dar  saída  a  toda  a  gente  a  quem  os  irresponsáveis  pelas  políticas  de  educação  e os  empreendedores  do  ensino  universitário   empurraram  para  cursos    sem  adequação  ás  necessidades  do  mercado  de  trabalho  e  do  País.
Isto  é  brincar  com  a  Vida  das  Pessoas.  que  importa, que  vale  falar  de  Valores  de  cidadania,  de Solidariedade,  Direitos Humanos,  e  outras  coisas  do  género  se  o  crime  na  legalidade  continua  a  ser    permitido  e  estimulado?

E,  como  forma  de  fazer  prosperar  o  negócio  e  não  deixar  morrer  a  galinha  dos  ovos  de  ouro,  enquanto  a  venda  de  cursos  ainda  está  a  dar,  mas  antes  que  ela  acabe  e  tenhamos  um  País  com  toda  a  gente  com  cursos  universitários,  vai  de  criar  outra  necessidade:  ter  um  canudo  já  pouco  vale. Até  porque  os  cursos  já não  são  o  que  eram,  fizeram-se  com  menos  anos,  menos  matérias,  menos   rigor,  menos  saber. Quem  quiser    ter  mesmo  um curso  a  sério   tem  que  fazer  um  Mestrado. Por  enquanto.  Daqui  a  uns  anos  viveremos  num  país  só  com  Doutorados. Frustrados  e  revoltados,  com  toda  a  razão.
E  a  culpa,  também  não  é  deles?
Sinceramente  que  não  tenho  resposta  fácil.  São  condicionados,  buscam  a  felicidade,  o  acesso  à   qualidade  de  vida,  á  sua  dignidade. È  legitimo  que   o  façam.


Ser  culto  é  bom,  ter  conhecimentos  e  mais  saber  é  óptimo.  Mas  isso  tem  que  ser  conjugado  com   as  necessidades   de  vida em  Sociedade.


4  -  O  Céu  é  o  limite


As  duas  últimas  gerações   passaram  a  viver  absolutamente  convencidas  que   o  futuro  quer  dizer, sempre,  mais  e  mais  progresso,  melhores  condições,  mais  inovação,  mais  qualidade  de  vida ,  menos  dificuldades.

E,  na  verdade  e  felizmente,  tem  sido  assim,  nas  ultimas décadas.
Mas,  trabalhando    e  tendo  esperança  na  busca  do  progresso,  cometeram-se  erros  enormes.

É  agora  fácil  reconhecer  que  não  se  deve,  nem  pode,   deixar  de  prevenir  as  jovens  gerações  para  os  constrangimentos   dos  dias  difíceis e,  sobretudo,   deixar  de  lhes  ensinar  como  lutar  contra  as  adversidades  e  saber  vencer  as  dificuldades  que  podem  surgir  de  um  momento  para  o  outro.

Temos  uma  juventude  privilegiada  que  conviveu   com  os  seus  antecessores  experientes  na  forma  de  lidar  com   a  adversidade,  com  a  falta  de  muita  coisa  básica, afinal,  o  dia  a  dia  do  seu  tempo.
Mas  como  se  habituou  em  demasia  á   ideia    de  que   tudo  só  pode  ser  melhor   e  mais  moderno   á  medida  que  o  tempo  passa,   tornou-se se    cega   e  não  soube  aproveitar  da  experiência   dos  mais  velhos.

Infelizmente,  os  tempos  actuais  mostram-nos  que  o  impensável  pode  ocorrer  de  um  momento  para  o  outro.  Sejam  acidentes  naturais  provocados  pelo  clima,  guerras  ou  mesmo  o  terrorismo.  Ninguém  pensaria  que  o  Japão  pudesse,  tão  rapidamente,  correr  o  risco  de  ser  um  território  fantasma,  contaminado  por  radiações.

Há  duas  gerações  atrás,  quase  toda  a  gente  dispunha  de  formas   muito  simples  de  garantir  a   sua  subsistência   básica,  em  caso  de  força  maior.  Fosse  pelo  acesso  fácil  e  natural  aos  recursos do   campo,  a  leira   de  terra  ali  á  mão  de  semear,   o  leite,  o  gado  ,  a  batata  ou  a  galinha  e  o  coelho   que,   ou  se  tinham  ou  alguém  estava  disposto  a  repartir  em  caso  de  necessidade.

Tudo  mudou,  o  acesso  á  terra  deixou  de  ter  essa  facilidade  mesmo  para  quem  mora  fora  dos  grandes  centros  urbanos, no  norte  ou  no  interior.  Muitas  culturas  foram  arrancadas  em  nome  do   progresso.
Qualquer    imposição  de fecho  de  fronteiras   ou  interregno  no  transporte  de  mercadorias  e  bens  alimentares,  causará  o  pânico   e  carências  muito  sérias.
E,  na  ausência   dos  tais  meios  simples   de  lutar  contra  esses  constrangimentos,  resta  ás  pessoas  a  convulsão  social,  o  desespero.

Não  há  pior  risco  do  que  os  riscos  ignorados.  Para  os  outros ,  os  calculados,    há  sempre  soluções  previstas.  Levadas  por  uma  inconsciência  sem  limites,  ébrios  de  progresso  e  bem  estar,   as  novas  gerações  ignoraram  e  desprezaram  riscos   muito  sérios  que  podem  ser  fatais.