Para quem está a maioria dos dias da semana fora do País, um maior distanciamento da pastosidade do dia a dia facilita menor comprometimento com o políticamnente correcto
e permite conclusões mais rápidas e mais efectivas em relação ás nossas muitas realidades.
Depois de quase uma semana na Polónia e uns outros dias em Bruxelas, cheguei ontém, vi,
na RTP 1 o telejornal e, a seguir, Fatima Campos Ferreira tentar atrapalhar o Carvalho da Silva.
Não conseguiu, nem de perto nem de longe.
E, a conclusão, apareceu-me rapidamente e muito obvia : "a imprensa que temos, é o pior partido politico português". Militantes disfarçados de jornalistas.
O mais derrotista, mais sensacionalista, que mais contribui para o desprestigio do País, para a desmoralização e falta de esperança dos cidadãos, e ... por aí fora.
A imprensa e os jornalistas, numa parte muito significativa, actuam fora de qualquer controlo em termos de verdade, ética, civismo e muitos outros valores essenciais.
Á menor critica, conscientes do que a liberdade de Imprensa vale para todos nós, servem-se da chantagem emocional e intelectual e, aqui d'el rei que nos querem censurar.
Criam factos, inventam situações, estendem passadeiras de poder, liquidam gente sã , prova-se o contrário e ninguem é molestado. todos sabemos que é assim.
A peça que abriu o telejornal, sobre os representantes das instituições que estão a pré avaliar a situação real da economia portuguesa, por certo terá dado grande prazer a quem a fez, mas não se faz.
Uma peça ao geito dos preambulos dos filmes do 007. Imagens aceleradas dos carros que conduzem os negociadores dos hoteis ao Ministério das Finanças, velocidade na passagem dos fotogramas com pastas, carros, edificios, ..., e um tom de voz, de fundo, digno dos filmes de
"palhaçada" como chamavamos aos policiais onde o bom da fita conseguia sempre os seus intentos.
Interessante não fosse triste e ridiculo brincar com coisas sérias. Inconcebivel e inexplicavel, brincar ou gozar com o futuro de todos nós.
Incompreensivel que alguém responsavel pela informação de uma estação que deveria ser responsável e de serviço publico, não filtre os impetos de dos menos experientes e sem responsabilidade.
Aquela reportagem ilariante, vista por um estrangeiro, deixá-lo-á, de certeza, na maior dúvida quanto á sanidade mental e colectiva de todos nós.
Passando á frente, na entrevista de Fatima Campos Ferreira a Carvalho da Silva, o tom de show com a desgraça colectiva, continuou como nos famosos Prós e Contras.
Não quero acusar ou ofender ninguém, é , tão somente, a forma como sinto o que vejo .
O tom de voz, absolutamente de feira, de falsete, de plástico, a procurar tirar partido da desgraça, os cometários implicitos nas perguntas e, sobretudo, noa á partes, de achincalhamento do país , de tudo e de todos, tocam o ridiculo, não fosse, uma vez mais, um assunto demasiado sério.
Carvalho da Silva esteve, naturalmente, a um nivel muito, muito superior.
Aliás, como já estivera Mario Soares. já o patrão da Jeronimo Martins, não se livrou do seu ar de absoluto convencimento e superioridade, colocando amiúde a entrevistadora como cobaia - se a fatima não trabalha mais ... , ... se você não faz assim ou não faz assado ... - o que lhe retirou qualquer força ao que pudesse ter dito.
Nos dias anteriores ao meu regresso, em Varsóvia, também me choquei com uma certa manifestação , de dia e de noite, frente ao Palacio do Presidente, com velas, imagens de santos e maquetes de aviões.
Logo, não é só cá que a mediocridade e o ridiculo aparecem .
Não se entende como certa imprensa, obrigatoriamente mais evoluida, não pega em temas como explicar em palavras simples, do dicionário da lingua portuguesa, o papel, por exemplo, das agencias de rating. Explicou-o, no pouco tempo que teve, Ferro Rodrigues no congresso do PS. alinhadinho, claro e simples. Explicou-o Marcelo Rebelo de Sousa no passado fim de semana , classificando a sua falta de honestidade mas concluindo que temos que conviver com elas ... conclusão que não se percebe vinda de uma pessoa inteligente.
Clara e brilhante a explicação de Diogo Freitas do Amaral quanto á acção desses agentes e, em particular, dos "hedge funds", na especulação financeira, manipulação "legal" dos mercados e dos produtos alimentares , situação que irá desencadear fome generalizada na Humanidade e a possibilade de uma Guerra Mundial.
Não se percebe o papel da entrevistadora que teve, mesmo ao findar a entrevista, a conclusão mais importate de toda ela e nem lhe "pegou" . Não terá percebido peva daquilo tudo ?
Mas soube , a despropósito, convidar os espectadores para uma nova entrevista na estação do "serviço publico "
Não há paciência para tanto pretenciosismo e tanto convencimento.
Valha-lhes a santa ignorãncia , irresponsabilidade e inconsciência.
Já não me lembro de quem dizia : Não há pachorra !
A Fatima Campos Ferreira, a crise politica trouxe um autêntico jackpot .
Não lhe bastava já os shows das segundas feiras onde falava , questionava e concluia em nome do pais ou dos portugueses, eis que lhe cai do céu a possibilidade de ter mais do mesmo ... todos os dias e com tudo o que fala de catedra ou decide neste país.
Não será o Sempre em Festa, muitas vezes até parece, mas é, pelo menos, o show continuo, bizarro, de lesa Pátria, leviano e sem se importar de brincar com o que é mais sério, a Vida e o Futuro das Pessoas, dos Jovens e dos Velhos !
2 - Educação - o grande negocio das universidades e do ensino
Há muito tempo que me convenci que, praticamente tudo, tem, por base, a educação.
O nivel e a qualidade da educação, a existência ou inexistência dela.
A economia, a saúde, em geral, a vida em sociedade, são decisivamente influênciados pela qualidade da educação.
O que tem acontecido é que esses níveis desceram assustadoramente e criou-se uma permissividade, uma escola, um clima, uma comodidade e um facilitismo de convivência com a falta de qualidade e de Valores éticos e cívicos.
Ainda há dias, num dos canais de informação continua, os 24 horas, ou na RTPI, não posso precisar, via uma reportagem sobre uma jovem portuguesa de sucesso, na América. Cientista nos Estados Unidos da America ou no Canada, a fazer investigação, muito competente na sua área no que faz. Enfim, um caso de sucesso pessoal e de prestigio para o País e para todos nós.
Falou com rigor e competência enquanto o assunto foi o da sua área de especialidade.
Quando o jornalista passou á conversa de café, fiquei abismado : " eu dizeria", sem mais nem menos, " dizer a ele" em vez de dizer-lhe, aí é que era o cabo dos trabalhos. Dar a volta á dificuldade passou a ser a norma. Dizer a ele, levar a ele e outras do género, é como se fala.
A minha professora da primária, se fosse viva, ficaria doente. Uma cientista e investigadora!
Pensei ainda em que medida poderia descontar o facto de ser luso descendente, filha de pais emigrados. Estou habituado ao português arrevesado das segundas e terceiras gerações.
E compreendo que assim seja.
Mas não, qual o quê, a jovem era do norte de Portugal e tinha ido para as Americas há menos de um ano !
E isto tem a ver, se formos um pouco mais fundo na análise, com o que de muito mau foi feito nas últimas décadas na educação e, em particular, no ensino superior.
O grande negocio das universidades e do ensino.
Abriu-se a oferta de cursos de forma agressiva, pouco exigente - há anos a passar no acesso a cursos superiores com negativíssima a português ou a matemática - apenas para fazer medrar o negocio financeiro dos grupos ligados ás universidades.
O falar mal e de qualquer maneira passou a ser bem tolerado, até pela razão de que quem deveria criticar e corrigir, também não saber.
O cumulo vi-o no passado verão com uma campanha publicitária de uma bebida á base de chá que propunha a oficialização de uma nova palavra, " mudati", significando uma atitude de mudança de outras marcas para aquela. E a coisa esteve pertinho de pegar.
Outro exemplo é o dizer que se fez ou fará qualquer coisa a sério, ou a valer. Desta vez vai ser a sério deixou de ser. Agora, mesmo para gente conhecedora , locutores e jornalistas da escrita incluídos, passou a ser " á séria". à séria , quererão dizer, rebuscadamente, á maneira séria?
Pois que seja, mas, cá para mim, é muito mais desleixo e falta de saber.
3 - O Ensino e o Desemprego
Percebo perfeitamente a frustação e a revolta que crescem nos corações de tantos jovens e das suas Familias.
Há poucas décadas, ter um curso superior não significava, só por si, ser uma pessoa rica ou milionária, mas era sinónimo de uma vida com alguma qualidade, tranquila, acima da média.
Agora, os jovens acabam os cursos a cujo acesso foram quase empurrados, quem não é doutor não é nada, saem das universidades e, como um país não pode funcionar só com profissionais de elevada qualificação científica, são precisos e muito, os técnicos, os bons mecânicos, bons serralheiros, marceneiros, carteiros, condutores e diversos outros muito dignos profissionais, os licenciados acabam frustrados revoltados, á frente de um computador, de um telefone num "call center" ou de uma caixa registadora em qualquer grande superfície.
Mas é impossível dar saída a toda a gente a quem os irresponsáveis pelas políticas de educação e os empreendedores do ensino universitário empurraram para cursos sem adequação ás necessidades do mercado de trabalho e do País.
Isto é brincar com a Vida das Pessoas. que importa, que vale falar de Valores de cidadania, de Solidariedade, Direitos Humanos, e outras coisas do género se o crime na legalidade continua a ser permitido e estimulado?
E, como forma de fazer prosperar o negócio e não deixar morrer a galinha dos ovos de ouro, enquanto a venda de cursos ainda está a dar, mas antes que ela acabe e tenhamos um País com toda a gente com cursos universitários, vai de criar outra necessidade: ter um canudo já pouco vale. Até porque os cursos já não são o que eram, fizeram-se com menos anos, menos matérias, menos rigor, menos saber. Quem quiser ter mesmo um curso a sério tem que fazer um Mestrado. Por enquanto. Daqui a uns anos viveremos num país só com Doutorados. Frustrados e revoltados, com toda a razão.
E a culpa, também não é deles?
Sinceramente que não tenho resposta fácil. São condicionados, buscam a felicidade, o acesso à qualidade de vida, á sua dignidade. È legitimo que o façam.
Ser culto é bom, ter conhecimentos e mais saber é óptimo. Mas isso tem que ser conjugado com as necessidades de vida em Sociedade.
4 - O Céu é o limite
As duas últimas gerações passaram a viver absolutamente convencidas que o futuro quer dizer, sempre, mais e mais progresso, melhores condições, mais inovação, mais qualidade de vida , menos dificuldades.
E, na verdade e felizmente, tem sido assim, nas ultimas décadas.
Mas, trabalhando e tendo esperança na busca do progresso, cometeram-se erros enormes.
É agora fácil reconhecer que não se deve, nem pode, deixar de prevenir as jovens gerações para os constrangimentos dos dias difíceis e, sobretudo, deixar de lhes ensinar como lutar contra as adversidades e saber vencer as dificuldades que podem surgir de um momento para o outro.
Temos uma juventude privilegiada que conviveu com os seus antecessores experientes na forma de lidar com a adversidade, com a falta de muita coisa básica, afinal, o dia a dia do seu tempo.
Mas como se habituou em demasia á ideia de que tudo só pode ser melhor e mais moderno á medida que o tempo passa, tornou-se se cega e não soube aproveitar da experiência dos mais velhos.
Infelizmente, os tempos actuais mostram-nos que o impensável pode ocorrer de um momento para o outro. Sejam acidentes naturais provocados pelo clima, guerras ou mesmo o terrorismo. Ninguém pensaria que o Japão pudesse, tão rapidamente, correr o risco de ser um território fantasma, contaminado por radiações.
Há duas gerações atrás, quase toda a gente dispunha de formas muito simples de garantir a sua subsistência básica, em caso de força maior. Fosse pelo acesso fácil e natural aos recursos do campo, a leira de terra ali á mão de semear, o leite, o gado , a batata ou a galinha e o coelho que, ou se tinham ou alguém estava disposto a repartir em caso de necessidade.
Tudo mudou, o acesso á terra deixou de ter essa facilidade mesmo para quem mora fora dos grandes centros urbanos, no norte ou no interior. Muitas culturas foram arrancadas em nome do progresso.
Qualquer imposição de fecho de fronteiras ou interregno no transporte de mercadorias e bens alimentares, causará o pânico e carências muito sérias.
E, na ausência dos tais meios simples de lutar contra esses constrangimentos, resta ás pessoas a convulsão social, o desespero.
Não há pior risco do que os riscos ignorados. Para os outros , os calculados, há sempre soluções previstas. Levadas por uma inconsciência sem limites, ébrios de progresso e bem estar, as novas gerações ignoraram e desprezaram riscos muito sérios que podem ser fatais.
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