quarta-feira, 5 de junho de 2019

Fascismo ? Claro que não, mas…





Estou seguro que não  devem  ser  usados  exageradamente termos fortes, com um significado  muito profundo, complexo e preciso  como fascismo, nazi  ou outros que tais, sob pena de se tornarem banais e, com isso,  perderem a força e o significado que se pretende.


É  pois, por essa razão, prudente evitar ou não  simplificar quando se caracteriza a situação actual da educação e da cultura em Portugal, utilizar essas palavras ou expressões.

Não é tecnica e politicamente correcto  caracterizar a educação e a cultura que  temos dessa forma,  mas que a situação actual  é  um  perigoso   caminho  para lá apontado e muito directo,  sempre  a direito … lá isso é.


Uma caracteristica   forte   do  fascismo é  o obscurantismo, a aculturação das pessoas,  a destruição dos alicerces culturais e da  base educativa  dos cidadãos.

E não se acuse quem ainda tem sensibilidade para a lingua e para a escrita do português de ser minucioso, picuinhas ou perfeccionista,  quando  apareça a criticar, … nada disso.
Tenha-se em conta devida que  a lingua falada  é uma  parte muito significativa da soberania de um Povo, como o é o território, também. 

E, se muitas paginas de escrita e horas de trabalho seriam possiveis para descrever o que a este nivel se passa,  o que motivou  estas linhas foram situações muito concrectas, precisas, que passo a expôr.

Domingo, oito horas da manhã e na RTP1  o directo  de uma classificativa do Rali de Portugal.
Os dois locutores revezavam-se nos disparates e atentados à lingua portuguesa.
Um deles falava muito sobre os pneus de determinado piloto. E sobre quantos pneus “subselentes”  ele levaria.  E o termo, em vez de sobresselentes,  foi  muitas vezes repetido.
E  continuou  com um  “não vai ser difíl a ele  passar para a frente  de Loubet”.
Passar para a frente a ele, vou dizer a ele, leva esta mensagem  a ele !

É o que temos.  Mesmo  tratando-se de  profissionais da escrita e da palavra, a quem chamamos jornalistas ou  próximos disso, se formos condescendentes na adjectivação.

Resolvi  passar  para outro  canal, a hora adiantava-se e a minha paciência esgotava-se.

Agora, estava na Sporttv com a corrida de Moto GP e Miguel Oliveira em prova.
E eis que  o comentador vaticina  que “não vai ser difícil a ele chegar aos lugares pontuáveis. E, de seguida,  que  “ terá  que ultrapassar  aos  dois pilotos seguintes”. "Ele está quase a ultrapassar aos dois" !

Há anos atrás, reconhecia-se facilmente um jornalista, um locutor, um profissional da palavra, pela forma correcta como pronunciava qualquer palavra, mesmo em ambiente descontraído.
 È que nas provas de selecção para o exercício da profissão e nas avaliações continuadas que os seus superiores lhe faziam, tinha que ser correcto, de contrário, teria problemas. 
Hoje em dia, quase não se encontra um locutor que pronuncie euro, sem dizer “eurós”. Ólanda em vez de Holanda, e por aí fora.

Na verdade, o que vejo e tenho podido testemunhar é que  de mês para mês   a qualidade do português falado  pelas pessoas em geral e por jornalistas e locutores dos canais televisivos e rádios   em  particular, tem descido de forma muito acelerada e progressiva. 

Na  educação e nos programas de ensino  as   repetidas reformas  e simplicações dos conteúdos em muito têm vindo a contribuir  para o facilitismo  das exigências quanto ao grau de conhecimentos e profundidade  sempre levando ao aumento do desconhecimento e á aculturação e estupidifacação  de quem deveria aprender.

Cada  vez mais  está a ser cumprido  um designio  que é muito querido a  despotas, á direita e aos  regimes  que não enjeitam  o fascismo,  a  aculturação das massas, das populações  em geral. 
Ocupando-lhes o cérebro com   toda a espécie de lixo  que possa  preencher  a capacidade disponivel  para receber  conhecimento  autentico , cultura.
Lixo  disponibilizado pelos meis de comunicação  em geral através,  especificamente, de  pseudo jornalistas  ou comentadores  do tipo  dos  que acima foram referidos.

E é também verdade  que  muito mais pessoas do que, numa avaliação  muito pela rama  somos capazes de fazer,  gostam  da mexiroquice, da cusquice.
É impressionante ver, logo pela manhã,  a quantidade de pessoas que levam na mão ou metido no sovaco  um jornal  de mexericos, de  noticias de  faca  e alguidar,  as chamadas cor de rosa.

Simplificando, dir-se-ia  que são  os menos cultos, os mais desfavorecidos  que compram e ostentam  essas publicações.
Contudo, não é assim  tão simples. 
Muitos são de facto os mais incultos, os iletrados. Outros são  cultos mas são muito “cuscos”, gostam  e alimentam-se dos pequenos escândalos, do que vai pela casa dos outros, da desgraça alheia, do escândalo publico.  E esses são  muito mais do que aquilo que guardamos no cérebro  como avaliação da forma como são as pessoas.   Muitos são  muito simplesmente retrogrados, conservadores ou reaccionários.  Vivemos rodeados dessa espécie de  cidadãos, faz muita  impressão  descobrir que gente de quem tinhamos uma ideia de correcção, é de facto  muito vulgar, lamentavelmente mediocre e banal.

E, claro,  naturalmente,  povoa  as redacções dos orgãos de comunicação, pois elas são  compostas  de “pessoas”. 
Por isso mesmo  colocam alertas a informar que na segunda parte do noticiário ou dentro de alguns minutos  terão  no ar  “o filme da  detenção”,  as  “imagens do acidente, do desferir da facada.”!

O mundo vive destas reportagens, destes pequenos grandes momentos de vulgaridades sem interesse, a não ser saber o que vai pela casa dos outros, saber e ver a desgraça alheia, a vulgaridade e os pontos medíocres de cada  um.

Continuemos a ter ânimo  para recusar  esta  “coisa”  que ainda chamamos de imprensa,  na verdade, certa imprensa  e jornaleiros.


Carlos Pereira Martins







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