Estou seguro que não devem ser usados exageradamente termos fortes, com um significado muito profundo, complexo e preciso como fascismo, nazi ou outros que tais, sob pena de se tornarem banais e, com isso, perderem a força e o significado que se pretende.
É pois, por essa razão, prudente evitar ou não simplificar quando se caracteriza a situação actual da educação e da cultura em Portugal, utilizar essas palavras ou expressões.
Não é tecnica e politicamente correcto caracterizar a educação e a cultura que temos dessa forma, mas que a situação actual é um perigoso caminho para lá apontado e muito directo, sempre a direito … lá isso é.
Uma caracteristica forte do fascismo é o obscurantismo, a aculturação das pessoas, a destruição dos alicerces culturais e da base educativa dos cidadãos.
E não se acuse quem ainda tem sensibilidade para a lingua e para a escrita do português de ser minucioso, picuinhas ou perfeccionista, quando apareça a criticar, … nada disso.
Tenha-se em conta devida que a lingua falada é uma parte muito significativa da soberania de um Povo, como o é o território, também.
E, se muitas paginas de escrita e horas de trabalho seriam possiveis para descrever o que a este nivel se passa, o que motivou estas linhas foram situações muito concrectas, precisas, que passo a expôr.
Domingo, oito horas da manhã e na RTP1 o directo de uma classificativa do Rali de Portugal.
Os dois locutores revezavam-se nos disparates e atentados à lingua portuguesa.
Um deles falava muito sobre os pneus de determinado piloto. E sobre quantos pneus “subselentes” ele levaria. E o termo, em vez de sobresselentes, foi muitas vezes repetido.
E continuou com um “não vai ser difíl a ele passar para a frente de Loubet”.
Passar para a frente a ele, vou dizer a ele, leva esta mensagem a ele !
É o que temos. Mesmo tratando-se de profissionais da escrita e da palavra, a quem chamamos jornalistas ou próximos disso, se formos condescendentes na adjectivação.
Resolvi passar para outro canal, a hora adiantava-se e a minha paciência esgotava-se.
Agora, estava na Sporttv com a corrida de Moto GP e Miguel Oliveira em prova.
E eis que o comentador vaticina que “não vai ser difícil a ele chegar aos lugares pontuáveis. E, de seguida, que “ terá que ultrapassar aos dois pilotos seguintes”. "Ele está quase a ultrapassar aos dois" !
Há anos atrás, reconhecia-se facilmente um jornalista, um locutor, um profissional da palavra, pela forma correcta como pronunciava qualquer palavra, mesmo em ambiente descontraído.
È que nas provas de selecção para o exercício da profissão e nas avaliações continuadas que os seus superiores lhe faziam, tinha que ser correcto, de contrário, teria problemas.
Hoje em dia, quase não se encontra um locutor que pronuncie euro, sem dizer “eurós”. Ólanda em vez de Holanda, e por aí fora.
Na verdade, o que vejo e tenho podido testemunhar é que de mês para mês a qualidade do português falado pelas pessoas em geral e por jornalistas e locutores dos canais televisivos e rádios em particular, tem descido de forma muito acelerada e progressiva.
Na educação e nos programas de ensino as repetidas reformas e simplicações dos conteúdos em muito têm vindo a contribuir para o facilitismo das exigências quanto ao grau de conhecimentos e profundidade sempre levando ao aumento do desconhecimento e á aculturação e estupidifacação de quem deveria aprender.
Cada vez mais está a ser cumprido um designio que é muito querido a despotas, á direita e aos regimes que não enjeitam o fascismo, a aculturação das massas, das populações em geral.
Ocupando-lhes o cérebro com toda a espécie de lixo que possa preencher a capacidade disponivel para receber conhecimento autentico , cultura.
Lixo disponibilizado pelos meis de comunicação em geral através, especificamente, de pseudo jornalistas ou comentadores do tipo dos que acima foram referidos.
E é também verdade que muito mais pessoas do que, numa avaliação muito pela rama somos capazes de fazer, gostam da mexiroquice, da cusquice.
É impressionante ver, logo pela manhã, a quantidade de pessoas que levam na mão ou metido no sovaco um jornal de mexericos, de noticias de faca e alguidar, as chamadas cor de rosa.
Simplificando, dir-se-ia que são os menos cultos, os mais desfavorecidos que compram e ostentam essas publicações.
Contudo, não é assim tão simples.
Muitos são de facto os mais incultos, os iletrados. Outros são cultos mas são muito “cuscos”, gostam e alimentam-se dos pequenos escândalos, do que vai pela casa dos outros, da desgraça alheia, do escândalo publico. E esses são muito mais do que aquilo que guardamos no cérebro como avaliação da forma como são as pessoas. Muitos são muito simplesmente retrogrados, conservadores ou reaccionários. Vivemos rodeados dessa espécie de cidadãos, faz muita impressão descobrir que gente de quem tinhamos uma ideia de correcção, é de facto muito vulgar, lamentavelmente mediocre e banal.
E, claro, naturalmente, povoa as redacções dos orgãos de comunicação, pois elas são compostas de “pessoas”.
Por isso mesmo colocam alertas a informar que na segunda parte do noticiário ou dentro de alguns minutos terão no ar “o filme da detenção”, as “imagens do acidente, do desferir da facada.”!
O mundo vive destas reportagens, destes pequenos grandes momentos de vulgaridades sem interesse, a não ser saber o que vai pela casa dos outros, saber e ver a desgraça alheia, a vulgaridade e os pontos medíocres de cada um.
Continuemos a ter ânimo para recusar esta “coisa” que ainda chamamos de imprensa, na verdade, certa imprensa e jornaleiros.
Carlos Pereira Martins
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