sábado, 5 de abril de 2014

"Tens o que mereces" … "Mas que fiz eu para merecer isto? "





“Tens o que mereces”.  Tantas vezes ouvir dizer isto. E, nunca saberei  quando  quem o diz tem ou não razão  pois que, outras tantas vezes, talvez mais, talvez menos, não poderei precisar, ouvi  também  dizer “mas que fiz eu para merecer isto ? “

Fico-me pela constatação do que tantas vezes ouvi dizer, apropriadamente ou não, não é isso  que agora me importa.

Liguei há dias  o televisor num canal onde alguém o tinha deixado sincronizado, não em casa mas num hotel onde tinha acabado de chegar.

Comecei a seguir o programa que estava a passar. Chefes, cozinhados, concorrentes e, sobretudo, uma violência  psicológica,  violência emocional, sobre miúdos, muito miúdos, jovens indefesos e desejosos de   dar provas de alguma competência que a tudo se sujeitavam sem  protestar…   
Senti muito claramente que , aquilo,  não se faz.

Os “Chefes”  eram  os mesmos dos programas  daquele mesmo tipo mas para adultos. Os concorrentes eram miúdos, indefesos de tudo e todos, com uma responsabilidade enorme sobre os ombros como se fosse a sua prova de sobrevivência neste mundo. A sua prova de utilidade  e razão para merecer a vida, de competência   para  se candidatarem  a um lugar na vida que, por direito  mas  sem tempo para pensar,   ignoravam  ter  desde que nasceram. 

Os “Chefes”  gritavam,  pediam  mais  rapidez,  quase lhes chamavam nomes,  punham caras feias de raiva e de quem tem poder para dar ordens  das mais austeras.

Tudo isto  pela disputa de audiências, feito por gente que , ao que parece,  até será muito competente e com grandes aptidões dadas  e testadas na sua profissão: cozinhar.
Já não  lhes basta  fazer estas cenas com adultos.

Alguém descobriu,  há já muito tempo,  que  expor os sentimentos, o sofrimento, a dor, a dificuldade,  a humilhação de quem  é levado a julgar-se inferior ou dependente de outros mais poderosos,  a chantagem psicológica e emocional,  dão audiências  perante as massas amorfas alienadas pela  cultura da depravação e atropelos aos direitos elementares do respeito, neste caso pelos jovens desprotegidos de certas defesas que a idade lhes trará, noutros casos, muitos, infelizmente, dos idosos.  E há sempre gente, muito distinta, figuras ou figurões públicos, como lhes chamam,  com idade para terem vergonha destas farsas, dispostos, a troco de  qualquer muita coisa, prestar-se a estas figuras e ... sevicias.

Perguntei-me: e quem os defende, aos que , por  inexperiência de vida, de idade, de inocência, ficam sujeitos a isto ?
Mas  que fizeram  eles  para merecer isto ?

O sentimento imediato, enquanto não sei se há ou deixa de haver quem os defenda e ponha cobro a tudo isto, é o de que me  recuso   e apelo a que todos o  façam também,  a ir a qualquer estabelecimento  onde estes carrascos sem vergonha trabalhem ou por eles sejam geridos. 

Afinal, ser consumidor,  é uma arma. E que arma, assim  se saiba usá-la .


E vai um grito libertador : abaixo os “Chefes”, alguns chefes, neste caso,  os  de cozinha.

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