“Tens o que mereces”.
Tantas vezes ouvir dizer isto. E, nunca saberei quando
quem o diz tem ou não razão pois
que, outras tantas vezes, talvez mais, talvez menos, não poderei precisar,
ouvi também dizer “mas que fiz eu para merecer isto ? “
Fico-me pela constatação do que tantas vezes ouvi dizer,
apropriadamente ou não, não é isso que
agora me importa.
Liguei há dias o
televisor num canal onde alguém o tinha deixado sincronizado, não em casa mas
num hotel onde tinha acabado de chegar.
Comecei a seguir o programa que estava a passar. Chefes,
cozinhados, concorrentes e, sobretudo, uma violência psicológica, violência emocional, sobre miúdos, muito miúdos, jovens
indefesos e desejosos de dar provas de
alguma competência que a tudo se sujeitavam sem
protestar…
Senti muito
claramente que , aquilo, não se faz.
Os “Chefes” eram os mesmos dos programas daquele mesmo tipo mas para adultos. Os
concorrentes eram miúdos, indefesos de tudo e todos, com uma responsabilidade
enorme sobre os ombros como se fosse a sua prova de sobrevivência neste mundo.
A sua prova de utilidade e razão para
merecer a vida, de competência
para se candidatarem a um lugar na vida que, por direito mas
sem tempo para pensar,
ignoravam ter desde que nasceram.
Os “Chefes” gritavam, pediam
mais rapidez, quase lhes chamavam nomes, punham caras feias de raiva e de quem tem
poder para dar ordens das mais austeras.
Tudo isto pela
disputa de audiências, feito por gente que , ao que parece, até será muito competente e com grandes
aptidões dadas e testadas na sua
profissão: cozinhar.
Já não lhes basta fazer estas cenas com adultos.
Alguém descobriu,
há já muito tempo, que expor os sentimentos, o sofrimento, a dor, a
dificuldade, a humilhação de quem é levado a julgar-se inferior ou dependente
de outros mais poderosos, a chantagem
psicológica e emocional, dão
audiências perante as massas amorfas
alienadas pela cultura da depravação e
atropelos aos direitos elementares do respeito, neste caso pelos jovens
desprotegidos de certas defesas que a idade lhes trará, noutros casos, muitos,
infelizmente, dos idosos. E há sempre
gente, muito distinta, figuras ou figurões públicos, como lhes chamam, com idade para terem vergonha destas farsas,
dispostos, a troco de qualquer muita
coisa, prestar-se a estas figuras e ... sevicias.
Perguntei-me: e quem os defende, aos que , por inexperiência de vida, de idade, de
inocência, ficam sujeitos a isto ?
Mas que fizeram eles para merecer isto ?
Mas que fizeram eles para merecer isto ?
O sentimento imediato, enquanto não sei se há ou deixa de
haver quem os defenda e ponha cobro a tudo isto, é o de que me recuso e apelo a que todos o façam também,
a ir a qualquer estabelecimento
onde estes carrascos sem vergonha trabalhem ou por eles sejam
geridos.
Afinal, ser consumidor,
é uma arma. E que arma, assim se
saiba usá-la .
E vai um grito libertador : abaixo os “Chefes”, alguns
chefes, neste caso, os de cozinha.
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