É já voz corrente dizer : “Viseu, melhor cidade para viver”.
E, também já é conhecida a minha postura, por vezes irreverente aos olhos de alguns, que tem por base uma realidade objectiva: a de não dever a ninguém e acreditar que quem não deve não teme e pode, por isso, dar maior largura e profundidade ao que pensa e passa para o papel.
E isso, aplica-se também ao facto de ser “Viseu, melhor cidade para viver”.
Só que, no meu caso, com muito mais propriedade, mudo o slogan para “Viseu, melhor cidade para nadar ”.
Nado, com regularidade, em cada dois dias, dois mil metros, há já 22 anos. Desde que, em 1995, caí na garagem , num fim de semana, parti um cotovelo, fui operado, fiz fisioterapia e passei ao meio aquático, muito mais suave e eficaz. Deu-me a possibilidade de retomar a vida de quem viajava de avião, também com regularidade, semanalmente .
Mas “ Viseu, melhor cidade para nadar”, porquê ?
É bom nadar em Lisboa, nas piscinas do Restelo, das Avenidas Novas ou do Estádio Nacional.
Cada uma com as suas belezas.
Belezas naturais, diga-se, em abono da verdade e para clarificação do que são os meus encantos no meio aquático.
É muito bom, dá brilho á alma, aos olhos, enche o coração, a beleza que se adivinha a cada metro de avanço debaixo de água. Muito se adivinha, alguma coisa quase se vê. Quase, quase. Mas que se adivinha, é verdade. Beleza igual á dos corais de Cairns, da Coral Reef, a Grande Barreira Australiana que já me acolheu. Beleza que nas piscinas não existe mas é compensada pelo que tanto, a cada passagem de 25 ou 50 metros, se imagina, se adivinha. Não tem mas é como se tivesse corais, peixes de cores cada uma mais bonita que as outras, pedaços embrulhados em cores azuis, vermelhas, brancas , pretas, de cores diversas, riscas, ás bolinhas, multicores, marcas diversas,... depende de cada moda de verão ou de inverno. Pedaços, que já não são roupas de embrulho, são morenos, brancos de falta de sol, brancos de branco natural, bronzeados, uns mais que outros, brilhantes uns , mais baços que brilhantes outros, há de tudo e tudo faz com que Viseu seja a melhor cidade para nadar. Pedaços belos, provocantes, fofos ou duros, robustos ou sensíveis, apelativos, tanto quanto proibidos.
Apelativos, tanto quanto proibidos. Isso mesmo.
E, em Viseu, debaixo de água, a beleza é mais preciosa, perfeita, apelativa e teimosamente proibida … mais do que em qualquer outra parte.
E já corri o mundo. Várias vezes. E sempre nadei, em todo o sitio. Nunca a proibição me fez tanta espécie, raiva mesmo.
Está, por isso, certo o que por terras de Viriato se deveria dizer, “Viseu, melhor cidade para nadar”.
Porquê? Porque os meus olhos aí me dizem que ficam felizes. E a alma me diz que não tem que adivinhar nada para se sentir feliz, é real e por vezes mostra-se. Não há bruxas mas que há descuidos, … , lá isso há.
Vou, então, continuar a nadar em Viseu.
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