sexta-feira, 30 de junho de 2017
Correndo atrás da verdade desportiva, pisando o lodo e atolando tudo e todos num enorme lamaçal.
Agora que os e-mails, os episódios rocambolescos que se passam no futebol nacional, pelo menos desde o tempo em que Jorge Jesus deixou o Benfica, ocupam os comentadores desportivos, sinto algum prazer em ensaiar argumentos ditos de "advogado do diabo" sobre tanta coisa má, não só para muitas pessoas, mas também para os clubes e essencialmente para o futebol nacional que, vá lá entender-se, até se guindou durante esse tempo, ao mais alto titulo do futebol europeu.
Não faço mesmo a menor ideia sobre a veracidade de muito ou tudo o que desde essa altura tenho ouvido, nem quero, não sabendo de fonte segura, tomar partido.
Quando as coisas chegam tão baixo, quando já não há explicações para tanto e tão mau, quando já não se encontra lógica nem remédio possível, costuma aplicar-se o jargão da necessidade de " uma mudança de paradigma".
É nesse ponto e na pele de advogado do diabo que me irei colocar.
Atenção pois isto será um mero exercício e não me compromete, poderá não ser, no todo ou em parte, o que realmente penso sobre o assunto.
É, sim, uma tentativa de "mudança de paradigma".
Vou prosseguir.
Todo o lodo, toda a lama, todo o enxovalho e descrença que amiúde se vai lançando sobre o futebol nacional, fazendo tabelas sucessivas nos vários clubes que lhe dão expressão, as "calunias" , "infâmias", "apitos dourados" e "novelas de e-mails", reside na pseudo ansia, na esperança de alguém, ou de muitas pessoas e adeptos, tornarem mais justa a "verdade desportiva".
Toda esta ansia de verdade criada nos adeptos, é alimentada e potenciada , pela comunicação social e/ou por dirigentes ditos "mais esclarecidos".
Chamam-se nomes, criam-se factos, novelas, apitos de cores variadas, tudo ... pela verdade desportiva.
Criam-se video-árbitros, sistemas complexos e cientificamente ensaiados, ... mas nunca isentos da intervenção humana, do erro e manipulação, consciente ou não ... pela verdade desportiva.
Este é o paradigma actual.
E teremos mais, quanto a legislação e regras desportivas, da FIFA á UEFA e ás Fedeações Nacionais, aí virá mais metralha, não se duvide. Isto não pára.
Ensaiemos, então, dado que o paradigma actual não resolve e só faz crescer a desconfiança nos adeptos e levar a credibilidade para as profundezas dos oceanos, ensaiemos um novo paradigma que, curiosamente e á falta de melhor, voltará a ser o VELHO paradigma.
Ou seja, antigamente, quando o futebol dava gosto e pais e filhos iam de manhã ver os juniores e á tarde os seniores, o futebol era UM JOGO.
E não uma CIÊNCIA , COM JUSTIÇA e tudo.
Nisso cabia o erro, o falhanço a esperteza do atleta em ludibriar o arbitro, o que lhe valia sempre uma mão cheia de piropos, quando não á família, mas sabia-se que era assim mesmo. E gabava-se a esperteza e destreza do atleta e do grupo.
Não marcar um pénalti e fazer perder ou ganhar um jogo, era entendido como " o arbitro estava comprado" ...! E, no final de contas, toda a gente sabia que se tratava apenas de um jogo, como tal, com matreirice, com esperteza mais saloia ou mais de cátedra, mas recorda-se com alguma saudade esse tempo.
O tempo em que um jogo, por mais importante que fosse, correndo mal, com visível matreirice, dava , no máximo, direito a uns socos,
E o verdadeiramente importante era o bom nome, a vida, a felicidade de cada um e a de todos a que com muito sentir solidário se ia tentando chegar. Claro que como o futebol dava justificação para tantas tertúlias e grupos de café que a pretexto se reuniam com assiduidade precisa, também é fundamental acrescentar , se a PIDE deixasse e a astucia para a driblar fosse alguma.
Vem-me á memória um jogo, ultima jornada do campeonato, em que o Belenenses marcou um golo ao Sporting, estando já a ganhar 1-0, o que lhe dava o segundo título de Campeão Nacional, o arbitro não o validou com o pretexto de a bola não ter entrado, muita confusão , reclamação dos jogadores azuis, mas golo não validado. Estava 1-0, seria campeão de qualquer forma. Mas então dá-se o golo do empate do Sporting.
Conclusão, titulo de campeão dado pelo Sporting (indevidamente) ao Benfica.
A vida, o futuro, mudou aí para o CF "Os Belenenses".
E, há bem poucos anos, pouco tempo, o então guarda redes do Sporting, confessou em entrevista, publicamente, que a bola , o remate do Belenenses, tinha estado mais de meio metro dentro da baliza.
Foi astuto, valeu um titulo ao Benfica e o tirar um titulo de Campeão ao Belenenses.
E, visto isto á luz do paradigma vigente, dos que fazem a guerra apregoando que é para perseguirem a tal "verdade desportiva", se esse é o propósito fundamental, não seria de corrigir o tiro e reconhecer o titulo de Campeão aos de Belém?
Não, com dizia um Primeiro Ministro que ficou famoso , "é só fumaça". Neste caso, para entreter a malta, com laivos de sangue e guerra...!
Um jogo é um jogo, verdade desportiva não deve ser , para além do que a decência e a astucia quanto baste reconhecida como arte aos intervenientes, para aqui chamada ou perseguida com cortes e cicatrizes feitas a bisturi.
Talvez, com esta noção clara de que APENAS SE TRATA DE UM JOGO, logo, com astucia e artimanhas quanto baste aceites , seja possível que possa sobrar a cada um e a todos, algum tempo para aprender a falar e escrever português.
Tempo essencial para aprender a relativizar. A ter uma escala de VALORES.
A colocar o bem de todos, o sentir solidário e a cidadania acima ... da "verdade desportiva", essa sim, quase sempre, ao serviço da falsidade desportiva, das negociatas, do tornar o DESPORTO numa fabrica de dinheiro, num CASINO fantasmagórico .
Que escolha o paradigma que melhor lhe serve quem quiser e para isso tenha poderes.
Mas .... e se os outros não deixarem ?
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