Por fora, esse Corpo que é Portugal, continua belo, fresco e atraente como poucos dos que se podem ver por essa Europa ou esse Mundo fora !
Aparece envolto em roupas bonitas, com roupagens de cores diferentes conforme seja Primavera, Verão, Outono ou Inverno.
Por cima de todas essas belezas convidativas, a sorte de estar quase sempre coberto pela luz radiosa e quente de um sol que não o abandona, de um clima ameno ou mesmo quente, acolhedor, como aqueles olhos que gostamos de olhar com a expressão doce , meiga e indefinida como são os chamados olhos de amêndoa.
Ao redor, o azul de um Mar que é dele, destinado ao Corpo, a dar-lhe ainda mais beleza e bem estar. A convidar.
Certo dia, por força de um mal estar, houve que pegar no bisturi e tentar ver, por dentro, lá bem nas entranhas, o que de mal ia corroendo naquele lindo Corpo.
Não se deve desdenhar da sorte de a imagem exterior continuar assim tão bela, tão mais bela que tantos outros Corpos nas mais diversas paragens do Mundo. Afinal, esta, se bem aproveitada, será sempre uma vantagem competitiva, como se diz em linguagem de empreendedorismo.
Por dentro, lá bem nas entranhas, damo-nos conta de muitas mazelas.
Perdeu o hábito de querer saber, de aprender, de ler.
Cultiva agora a iliteracia a um grau que chega a ser assustador mesmo para quem do ler apenas sempre teve o hábito de se ficar pelo muito pouco, pelo essencial.
Por todo o lado se faz da falta de saber e da falta de querer aprender uma moda que ao ser ostentada dá até um certo estatuto, mais ainda se conjugada com um cabelo rapado ou mesmo uma barba por fazer de, pelo menos três dias.
Gente com cursos superiores que aparecem em concursos de grande audiência e, da ciência, aos costumes nada dizem. Pior ainda, diz valente asneirada, chega a ser confrangedor e não daria para entender aqueles sorrisos perante tamanha ignorância, como é que chegaram a tirar cursos e mestrados, não fosse bem entendermos que, quem os deveria corrigir, ensinar e classificar, também não sabe e não quer saber mais do que está tão na moda: nada saber.
É ligar uma rádio, com algumas exceções, felizmente, ou um canal de tv, e os exemplos são aos molhos.
Faz pena e é um mal que se arrasta, está a corroer a Sociedade e a Democracia que tanto nos custou a conquistar e, pior ainda, faz escola, tende a ser moda.
Falar calão como quem está entre os seus, sem o sentido de responsabilidade de quem ao estar exposto publicamente,
sem ter consciência de estar a fazer escola de boa ou má cidadania e a arrastar muitos incautos.
Diz-se agora a torto e a direito que fulano ficou “chateado”, Já ouvi uma jornalista perguntar ao Primeiro Ministro e muitas vezes ao cidadão comum, em peças noticiosas, se ficou “chateado” com isto ou com aquilo.
Não há meio de alguém lhes explicar que isso é um palavrão, que isso é um parasita que se reproduz nas áreas púbicas.
Ou será que, de raro e indiciador de pouca limpeza, se terá tornado, para essa gente, tão habitual e normal?
Recentemente, uma ou todas as chamadas agencias de imagem, que aconselham estas coisas a alguns políticos e “figurões públicos”, a quem apenas vive do faz de contas que transmitem aos outros, terá descoberto que, para compensar o afastamento real e vergonhoso que há entre muitos representantes da classe política e quem os elege ou entre governantes e governados, melhor seria que passassem a usar a linguagem pretensamente do povo, o calão. Que dá trunfos, que aproxima e faz crer que uns e outros são a mesma coisa, feitos da mesma carne, das mesmas dificuldades e aspirações ... !
Esqueçeram-se de separar o que deve ser informal, entre amigos, á mesa do café, no ambiente de informalidade e confiança de conhecidos ou amigos e o que tem que ser tratado com rigor, seriedade, com aquele mínimo de qualidade de linguagem, postura e dignidade que confere, ao que é sério, ao que é serviço, a diferença do que é conhaque, informal. E, uma vez mais, tudo isto faz escola e, quando as pessoas ouvem um governante , um Primeiro Ministro , dirigindo-se-lhes, empregar um “que se lixe” ou dizer que ficou “chateado”, aí, a qualidade de tudo o resto fica muito abalada, tudo desce uns bons furos no “rankig” do nível e da qualidade.
As calinadas de português e o uso da língua chegam a ser surrealistas. Na rádio diz-se volta e meia que tal clube empatou “ao” Beira Mar por dois golos, perdeu “ao” Belenenses por um golo, em vez do “com”. Ganhou “a” , perdeu ou empatou “com”. O ouvido já lhes é indiferente.
Assim como a figura notável que faz um programa, por exemplo de cozinha, alta cozinha, e fala para quem o ouve e vê , “falando demais”. Explico, em vez de se lhes dirigir dizendo , por exemplo, “ para vós”, fala demais e diz, frequentemente, “para vocês”, o que não é nada a mesma coisa. Talvez só perceba as diferenças se for aplicado
diretamente á sua Mãe, ou, pior ainda, talvez, nem assim, dê pela diferença.
Mas, em resumo, infeliz será , por certo, o futuro e a saúde de um Corpo onde a regra da ignorância se tornou tão na moda.
Uma parte muito significativa dos meios de comunicação social têm largas culpas e muita responsabilidade neste processo de promoção da iliteracia, de conhecimento e da falta de qualidade. É intencional, está na lógica de quem, para reinar, para dominar e tornar impotente para promover a contestação a este estado de paz podre a caminho da massificação da estupidez, pelo desconhecimento, toda a população, necessita que os outros se tornem estúpidos ou se vão ocupando com banalidades que os distrai mesmo quando quem pode e manda deles faz estúpidos a cada palavra que diz, a cada mentira que apregoa, a cada diz que sim mas não era isto que todos ouviram, o meu “sim” era “não” , vocês, todos, os estúpidos é que não ouviram “não” o “sim” que eu disse.
Cidadania e ética são outra das manchas muito negras neste Corpo agora aberto.
Quanto mais a ética passou a ser falada e utilizada para Conferências, com subtemas até, ética na política, ética nos negócios, ética na saúde, e por aí fora, mais falta dela sentimos, de fato, no dia a dia das relações humanas e em sociedade.
Não há melhor remédio para um bom diagnostico do que estar umas semanas fora de vista deste Corpo que é Portugal, regressar, olhar nas televisões os mesmíssimos protagonistas, com os mesmos tiques de raiva e de argumentos gastos, que levam as pessoas a deixar-se envolver emocionalmente nestas pequenas questiúnculas de baixa caserna, para as manter distraídas do que pudesse ser
essencial para curar ou estancar de uma vez o mal que vai corroendo o Corpo.
Quem sempre está por perto, dentro, não se dá conta do que chega a ser ridículo. Está apanhado e deixa-se envolver, todos os dias, a todas as horas, pela chantagem emocional, pela telenovela viciante que são as noticias do que no Corpo, hora a hora, se faz de conta que se passa.
A crise tornou-se o negocio da vida de certos animadores da Nação. Quando se diz que uma crise é sempre um momento de novas oportunidades, racionalmente , por reflexo e por não concordar de todo com isso, sou levado a não ouvir sequer o que quem começa por dizê-lo debita de seguida. Mas, confesso que há nisso uma parte de verdade. Há, de facto novas e únicas oportunidades para os animadores dos prós e contras, para os comentadores que falam de tudo e de tudo sabem, sempre os mesmos, como se os dramas que estão inerentes aquilo de que falam mas ignoram como se “a crise” fosse qualquer coisa que lhes passa ao lado, uma realidade que não os afecta nem afectará, apenas lhes dá mais uns cobres , e avultados, como animadores de tempos livres dos desgraçados que ficam colados aos televisores a ouvi-los. A ouvir os seus “glamorosos” anúncios e promessas de novas desgraças. Sem que nada seja com eles.
Mal maior, mancha tenebrosa que o Corpo ameaça, é a corrupção.
É, como também muitos ignorantes gostam de, por vezes, dizer, transversal.
É um mal que tudo afeta. Com metástases , com tentáculos enormes que tendem a tudo envolver, a todo o lado chegar.
Um Corpo infetado pode mesmo tomar atitudes irracionais que qualquer Corpo jamais , não “jamais”, digo eu, entenderá.
Vender pagando, e bem, a quem compra. Vender um Banco pagando, e bem, para lhe ficarem com ele, mas pondo-o são como se de uma joia se tratasse !
Trapaça tamanha que dava para pagar um ano de soldo e de cuidados de saúde a todo o Corpo !
Há até os que passam a vida a dar golpes mafiosos, colhem os lucros, cospem em todos, a torto e a direito , e acabam o dia , em casa, sovando na mulher como é das regras de um macho másculo, dinâmico, protegido por deuses distraídos.
Vender a outros as veias por onde corre a seiva da energia, da eletricidade, da água e da fonte de alimentação do Corpo.
Vender ao estrangeiro a rede energética nacional, essa que, por ser isso mesmo, obriga os cidadãos a deixar instalar no que é seu, os suportes que sejam necessários para que a rede exista. Como diria Dário Fo : “...,e não se pode extreminá-los?
Este mal, quando já bem instalado, leva aos mais tenebrosos abraços.
Abraços de morte.
São uns que se abraçam a outros, políticos com convicções e ideologias que os levariam a manter-se bem afastados que se envolvem em inseparáveis abraços com os seus opositores, em vez de os escrutinarem, juízes que abraçam políticos ou empresários, e por eles são abraçados.
Abraços de morte. Que destoem o que , no Corpo, serve de alicerce á Democracia, á Cidadania, ao Bem Comum, á condição e aos Valores de saber viver, com os outros, em harmonia, em Sociedade, em Fraternidade.
O Corpo passou, por via do mal da corrupção ou dos muitos males que lhe ameaçam a vida, a fazer os mais irracionais negócios com outros Corpos que se sabem doentes, condenados mas com vontade de tudo dominar, de tudo infectar. Negócios em África, com os novos corruptos, negócios “da China”, com quem dos Direitos Humanos e dos Valores de Cidadania, nada quer saber ou acolher.
Tudo, em nome da sobrevivência.
Sobrevivência do Corpo, diz quem manda.
Deles próprios, dos corruptos, diz quem obedece.
Uma vez mais, sempre citando Dário Fo, perguntar-se-á : e não se pode extreminá-los ?
Por fim, coza-se de novo o Corpo. O mal existe, tudo isto é triste, tudo isto daria um bom Fado !
O Corpo é belo, o Corpo é o nosso, o Corpo existe e é o nosso próprio país, Portugal.
Estaremos ainda a tempo de o salvar?
Assim o espero, com toda a alma, todo o que de “bom saber” veio até nós, de Camões a Pessoa passando por Miguel Torga, reencontrado em Eduardo Lourenço, Mário Soares, Jorge Sampaio, José Gil, Adriano Moreira, Rui Vilar, Vasco Lourenço, tantos, tantos outros. Felizmente.
A Esperança, caso morra alguém, terá que ser sempre, a última a morrer, a deixar-nos.
É o pacto mais forte, solidário, que poderemos estabelecer.
E é para valer.
Como se diz em português do Brasil : Valeu, meu irmão ?
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