quinta-feira, 29 de março de 2012

A Onda e as Referências


Há muito tempo que procurava uma solução.
Queria deixar, para transmitir aos meus Netos, uma mensagem sobre o 25 de Abril, agora que Abril está próximo e que relembramos 38 anos depois de 1974.
Mas queria uma imagem, não queria um texto, não queria  uma narração com palavras atrás de palavras. 
Uma imagem diz mais, fica mais tempo, condensa um maior numero de informações ou juizos que um texto, mesmo se longo.

Encontrei, por fim.

Foi uma ONDA, uma maré que tomou força e se impos varrendo toda a resistência que possa ter acontecido. Uma onda que limpou o País, o solo, os ares e as mentalidades, da poeira bafienta, da falta de liberdade, do atrofiar de pensamentos e palavras que acabavam quase sempre retidas e recalcadas.

A imagem é, pois, de uma onda forte que se espraia, varrendo resistencias, alongando-se a todo o País. Como tudo na vida, a força,a memória e, sobretudo, o que importaria que fose guardado como referência para o futuro desta onda que mudou o rumo da história nacional há 38 anos atrás, em muito dependia da capacidade e vontade para nela encontrar as referências que pudessem sobreviver ao efeito de regressão, em força e amplitude, da onda que deu á praia na madrugada de 25 de Abril e que, um dia, haveria de perder a pujança da sua juventude.


É, hoje, a falta de memória das referências consistentes, dos Valores que estiveram na origem da quebra de contrato entre as Forças Armadas e Povo  de então e o poder politico, que dá força ao refluxo, ao esquecimento, ao retrocesso no plano da democracia, dos direitos e garantias dos cidadãos e ao crescer do desanimo que se instala em surdina nas mentes e nos corações e volta a deixar as gargantas secas mas desejosas de berrar um novo grito libertador que já se impõe.

A razão pela qual os inimigos da Liberdade,  os fanáticos de todos os fundamentalismos e do liberalismo doentio, não conseguiram até hoje fazer esquecer a importância da Revolução Francesa, foi porque ela foi feita suportada em Valores. E, desses Valores, Igualdade, Fraternidade e Solidadriedade,  foram construidas referências fortes que foram sendo avivadas e passadas de geração em geração. Até hoje.

Faltam, presentemente, na Sociedade portuguesa, as Referências aos Valores fundamentais em que se baseia a cidadania, a justiça, a vida democratica.
Atrevo-me a pensar e acreditar que, mais do que de meios financeiros, precisamos, com muita urgência, de Referências e de Valores.
Sem isso, tudo o que se consiga se esvai como um fumo pela porta grande da corrupção e da falta de vergonha.

Sem eles, voltando á ONDA  libertadora de 25 de Abril, a onda perde a força da pujança que teve quando se espraiava e tudo vencia. A onda, que já é água mole que se alonga e retrai em lento refluxo, rápidamente passa a uma leve espuma já escurecida que, hoje, sem ser por mal, nem por bem, qualquer pésito de uma criança das novas gerações, sem as referências e Valores de Abril, toca e faz desaparecer sem deixar rasto ou memória da força que lhe esteve na origem.

A situação actual é, a meu ver, grave e inimaginável pouco tempo atrás. 
Antes de Abril, o que não convinha á politica ou aos costumes, era ocultado. Muita coisa era censurada e impedia-se a discussão, a troca de ideias , o libertar do pensamento. Impedia-se que os escandalos passassem das tertulias cautelosas para a opinião publica, abafavam-se.
Hoje, podemos dizer que tudo se sabe, ou quase tudo. 
Os escandalos, a falta de vergonha, a corrupção e os desmandos fundados na falta de Valores, estão, semana após semana, nas primeiras páginas dos jornais e nas aberturas dos telejornais.
Só que, cada um, dura uma ou duas semanas e alimentam sucessivas vagas de venda de informação, de angustia colectiva, depressiva, e Nada Tem Consequências.
Nada é consequente. Apenas serve para fazer de conta.
É legitima a dúvida: afinal, o que seria melhor, ter um inimigo visivel, a censura e a ditadura ou este faz de conta que legitima todo o despudor?

Aos meus Netos  passo a certeza que atrás de tempos, tempos voltam e a Esperança em que as marés se renovam, o que agora parece espuma escura e suja, de novo terá que ser força viva de uma nova Onda rejuvenescedora de Esperança, de Valores e Alegria que tanto desejamos e queremos. também neste caso é preciso acreditar no poema de António Gedeão, o sonho comanda a vida.
Quando a vossa geração retomar os Valores e as Referências de que agora vos falo, entenderão bem o alcance e todo o significado da imagem que vos passo, a onda libertadora de uma alvorada que restituiu a Esperança á geração do vosso Avô.


Carlos Pereira Martins
30 de Maio de 2012




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