segunda-feira, 18 de março de 2019

Tempos Modernos ?



Sexta-feira à noite. Liguei o televisor para ver o jogo entre o Spoting e o Santa Clara, queria ver futebol e só isso.
Os comentários eram feitos por uma dupla de jornalistas com  as vozes muito bem colocadas, palavras e sílabas bem pronunciadas, com timbre mesmo da chamada “gente fina”. Não os conheço para concluir para além da qualidade da pronúncia.

Até que  um deles insitiu que o Sporting tinha era que  COMprir  com  o  que tinha  que fazer, ganhar os três pontos.  E  nos  momentos  seguintes um apelidava um jogador leonino francês de   Mathieu (â),  e o outro, repetidamente, como se não tivesse  ouvido sequer  o  primeiro, apelidava-o de   “MatiÔ”.  E este  bate bolas repetiu-se algumas vezes.  Aquilo, como se diz na Beira alta, buliu  comigo !


Eu vinha já dos canais de noticias onde  os erros  grosseiros de português são tantos e tão graves que  é de longe preferivel  não ter noticias novas  a ouvir  o que e como  o  dizem.
E, nesses, há  um especialmente dedicado ao sangue e à faca e alguidar  que  parece que  recruta, expressamente, para ler noticias a metro,  moças que não fazem a minima ideia do que seja entoação, da forma como deve ser lida uma frase, uma palavra, no contexto em que é dita e se pretende  que seja entendida. Um horror. 
Ou talvez seja gente recrutada a ganhar menos de metade do salario mínimo, razões de custos  que, naturalmente, afectam  a qualidade. A toada é tão fora do contexto, tão desajustada e ridicula, até,  que levam  a desligar o televisor.

A reacção  perante os comentadores e a transmissão do jogo foi  imediata, passei  a ver o futebol sem som, tirei-lhes o discurso.

Afinal, vendo bem,  há muitos anos  não  se viam os jogos em directo, ouvia-se mais tarde o resultado.  Sorte tinha já eu em poder ver o jogo como no estádio, pensando e comentando com os meus botões, com o meu conhecimento e ignorância sobre  o que ao futebol diz respeito, concordando  ou não com as decisões do árbitro, gostando mais ou menos da técnica e das jogadas que  aqueles vinte e dois artistas iam desenhando.


Mas uma interrogação,  essa sim,  muito mais séria e que  me afligia o espírito, por não ter resposta fácil para ela,  me ocorria. Mas então, para que ando eu  a pagar  a estes canais, que por sua vez pagam a estes comentadores e jornalistas mal formados, sem saber falar  o português que sempre aprendeu e não esqueceu quem fez uma quarta classe bem feita?

Sim, e sobretudo  porque tenho plena consciência, já o escrevi  mesmo, que  o excesso de informação que nos tempos que correm  recebemos é prejudicial ao próprio conhecimento, á formação de opinião e assimilação de cultura ou conhecimentos.

Tudo nos é servido numa ansia  vertiginosa de  nos passar mais informação, toda a informção, não importa com que qualidade ou critério, apenas um, servir-nos primeiro do que o concorrente possa fazer.  
Misturando  o  importante e fundamental com  o  superficial e mesmo desnecessário,  o incendio (tantas vezes dito “ENcendio”)  no terceiro andar com  o atentado contra uma comunidade, uma cidade ou um país inteiro.

Então, não é a revolução da informação? 
Será, é mesmo, não tenho a menor dúvida. E  as apreciações valorativas, a preocupação com, pela informação, pelo maior conhecimento,   formar  melhores  pessoas, melhores mentalidades  e com isso tornar melhor a VIDA ?

Claro que a industria e os interesses que  exploram a informação  se estão nas tintas para Valores, formar pessoas e para a qualidade da VIDA  futura. O retorno imediato é a  única preocupação, ao que parece. 

Pelo meio, surgem  umas roupagens de “jornalismo de investigação”, com pele mais  doce, cheiro mais sério  mas que, no fundo, vai no mesmo caminho. 
Porquê?
Porque nada  disso  é consequente, só  excepcionalmente leva a qualquer  responsabilização e consequências  que se possam dizer “sérias”.  
Toda esta quantidade de informação, misturada sem  critérios valorativos, aos magotes, do  supérfluo ao horror  ou  ao que é grave e determinante,  leva  à banalização dos horrores, do que é pior do que mau, impensável para mentes medianamente sãs e bem formadas. O efeito de quantidade sem apreciação valorativa, a mistura passando do crime de sangue para o resultado do jogo de futebol,  tornam  absolutamente banal  qualquer   desses horrores, produzem um efeito  muito  provável  de imitação ou de irresponsabilidade em situações futuras. 

Toda esta quantidade de informação sem ser valorada, não quero insinuar censurada  mas  medida nas suas consequências,  levam  a uma progressão  desmesurada dos sentimentos de angustia, de desânimo, de revolta, de ansiedade, depressão  e quebra da qualidade de saúde e de VIDA de  todos  os cidadãos.

E isto não pode durar sempre, agravar-se indefinidamente.

Haverá, então, que ter força para desligar o rádio  ou o televisor?

Já passei a fazê-lo  muitas vezes,  talvez  “A bem da Nação”  e, sem duvida ,

“A bem de mim próprio”.



Calos Pereira Martins

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