terça-feira, 19 de junho de 2018

Uma abordagem séria ao propósito da CGD encerrar Balcões em Viseu



No final da decada de 80  e inicio  dos anos 90,  entrando  também  pelos primeiros anos do  novo século,  assistiu-se na Banca  nacional,  em geral,   áquilo que foi uma tendência que  rapidamente se espalhou  por todos  os Bancos,  o   processo  de abertura de novos Balcões  por  tudo  o que era sítio.

Este fenomeno  foi  a sequência  lógica  da  mudança  operada pelo Banco Central (BdP)  do  sistema de controlo monetário,  do  directo  para  o indirecto.
No sistema  antigo,  os  limites á concessão  de credito  eram  ditados  de forma  administrativa  pelo Banco  de Portugal,  mensalmente,  através  de carta-aviso  enviada  a cada Instituição de Crédito  onde se definia  um  plafond, limite máximo,   de novo credito  a conceder  no mês seguinte.  No novo sistema,   cessou  o envio  da carta-aviso  e  o  novo limite de  novo  crédito   possível  de conceder  era  uma consequência  directa  dos  recursos ( depósitos e  empréstimos)  angariados  por cada Banco.

Para  estar  em  conformidade com  os rádios prudenciais,  entre eles o de solvabilidade,  para que  os Bancos não concedessem  mais  crédito,  emprestassem  mais  do  que  os recursos de  que  dispunham,  foi estabelecida  uma correspondência entre  os  depósitos  e  o  novo  credito  a conceder  e o concedido, obviamente.  Era portanto  importante estar o mais próximo possível  dos clientes,  para captar  os depósitos,  disputar em concorrência  os  clientes, os depositantes.

Em  bom português,  dir-se-ia  que "quem tivesse unhas"  (depósitos/clientes) , tocaria guitarra, ou seja,  poderia conceder mais crédito.

E foi assim  que  os Bancos  começaram  a abrir Balcões  em tudo  o que  era sitio possível de  o fazer.
Foi  assim  que  muitos cafés e pastelarias, restaurantes e  lojas de referência  em cada cidade, vila e, de seguida,   aldeia,   apesar  dos  protestos  e descaracterização   dessas  localidades,  deram  lugar  a novas Agencias bancarias.

Os Cafés Centrais,  os Cafés Rossio,  os lugares mais emblemáticos,  foram  trespassados  e ou alugados  a Bancos  para  a abertura de novos Balcões.

O argumento da Banca foi  o de  colocar  as Instituições  em contacto  mais directo, mais proximo   e mais  fácil  com  as populações. E, assim,  foi aceite.

Claro  que  a idade é  um privilégio  e   mostra  a cada momento  muito  coisa  já passada,  já vivida e  permite  não  ficar  pela  ingénua  explicação   simples  deste fenómeno, como ficou  feita atrás.

Claro  que  com  esta "fúria"  de abertura  de Balcões,  negócios de  arrendamento, compra  ou trespasses,   muita,  mas mesmo  muita gente  lucrou  e lucrou  muito.
Gente  dos "departamentos de marketing e novas agencias", dos departamentos comerciais,  das administrações,  de  diversas  origens  e  proveniências,  ganharam  á tripa forra  com  este fenómeno en  nome   do sucesso  bancário e da boa gestão  das Instituições!


E, do lado  oposto, das  populações,  claro  que houve muito boa gente a ganhar igualmente  com  esses negócios.

Mas, sobretudo,  houve  largas franjas das populações que foram  conduzidas  para uma nova realidade, como  passou a ser muito bem  dizer,  para um  novo paradigma,  o de ter  a agencia bancaria  ali ao virar da esquina  e, assim,  tiveram  que alterar,  sem  ter pedido , sem  que fosse sua responsabilidade,  o  seu modo  de vida,  os seus hábitos  e costumes.

Fecharam  contas  e perderam  amizades de empregados e gerentes  nos Bancos  onde sempre as tinham tido,  para as transferirem  para  um  novo Balcão  que agora abrira  na sua localidade, na sua terra. Aí  foram   construindo  novas relações de confiança, foram  "fazendo  vida".
As suas novas vidas.

A Banca,  esta nova Banca dos anos 90  e  dos anos 2000,  fez  mudar   os comportamentos   das pessoas,  das  populações.  Facilitou-lhes a vida, claro, mas fe-las mudar  de  contactos,  hábitos e amizades.

De  um instante para  o outro,  tal qual  o que aconteceu  com  as agencias dos Correios,  as repartições de finanças e  tribunais,  uma febre  de  racionalização,  muitas vezes  sem  qualquer justificação técnica,  as pessoas acordam  com  o anuncio  de  uma nova mudança nas suas vidas,  novos hábitos  que terão de adoptar,  tudo  vira  do avesso  como já antes acontecera.
Só que, se antes tudo  foi feito  em prol de uma maior comodidade e facilidade,  agora  vem exactamente pelo contrario.


Há,  portanto,  uma responsabilidade moral,  institucional  que não técnica,  no anuncio  de fecho  destes Balcões.

Há  uma explicação  clara  e  objectiva  a dar  pelos Bancos,  no caso  pela CGD,  ás populações afectadas.

Que não basta  cortar a direito,  sem pudor,  no pedaço de  bolo  antes oferecido  para  com  isso  poder anunciar  grandes poupanças  no  consumo  do açúcar e da farinha  e maiores lucros  no  orçamento  lá da casa.

Há  quem  fique  sem  porta  onde bater  para  tratar do que tem  a tratar. Quem  passe a ter que perder tempo e dias para fazer  o que  tem  a fazer.
Quem  tenha que alterar a vida, já de si de sacrifício,  por  causa  de  atitudes de gestão levianas, ao sabor  dos  ventos.
É facil   clamar  por títulos de grande gestor  ou  mesmo  de grande governante  se  o desprendimento  pelo  sentir  e pelas dificuldades das populações  for deixado  de lado.
Quem lidera a CGD  e  é  o responsável directo  pelo  ficho de Balcões em Viseu,  já  não  digo  tanto  o da rua Formosa uma vez que  há a Caixa,  como sempre houve,   no Rossio,  mas sobretudo  o de Abravezes,  é  a mesma  pessoa  que  no governo  cortou  em nome da  ajuda externa,  a torto  e a direito  na  ajuda medicamentosa, nos cuidados de saúde,  nos postos  medicos  e hospitalares. A memória não pode ser curta.

Mais,  a Agencia da Rua Formosa, em Viseu,  era o antigo BNU,  Banco  que   não  acabou  por  ter  dificuldades,  por má gestão  ou fraudes,  como  em  muitos  outros  no passado   recente e de que nem  vale a pena  mencionar  as designações.
Ao  fechar a Agencia  da CGD na Rua Formosa,  estarão  também  a dar  uma  enorme machadada  no património histórico  da Cidade de Viseu, no património cultural,   no  que  ficou  de  uma enorme instituição, o  BNU, Banco Nacional Ultramarino,  desde sempre o Banco emissor  de moeda em  Moçambique e em  Macau.

Estou  em total apoio  á  posição  e aos argumentos e  medidas  a adoptar  pelo Presidente da Camara Municipal de Viseu, Dr Almeida Henriques.
Para que conste,  apoio total  e incondicional a Almeida Henriques e aos viseeenses,  é a minha posição  nesta matéria.

Carlos Pereira Martins


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