Agriões

Vou li  apanhar agriões, Madrinha.

Ai vais aos agriões ?  

Vou. vou ali á bica. A Madrinha tem sempre agriões tão bonitos ,  tão bons. Grandes, tenrinhos,  farfalhudos !  Também,  ali a ganhar todo o dia a água corrente da bica…

E olha que  são  muito bons. toda a gente gaba estes agriões.  Sabes, a agua da bica vem da nascente e cai ali  no muro.  é sempre fresca, corrente,  agua boa.  E os agriões dão-se muito bem  ali  no rego. a terra também  ajuda.  

olha, se quiseres apanha também  um ramo deles para ti.

Ai, Madrinha,  olhe que eu aproveito mesmo.  O  meu  homem  também  gosto muito.  Este ano  foi o meu Zé Maria  que  os plantou, não foi?

Foi mesmo.  E podes fazer sopa com eles, é muito bom.

Não  gosto  de comprar agriões que não sejam de confiança.  Há  muita gente que  deita para lá águas que não são de confiança. Águas de lavagens,  sujas. E depois dá  doenças intestinais.  Nunca compres agriões sem saber  de onde são.

Ai, estes são de confiança. Os da Madrinha são limpinhos, são bons.

Ó  Madrinha,  e  as cebolinhas novas,  olhe que  já se cortam.  Não é o Padrinho  que gosto muito das cebolinhas novas?  Estive ali a ver e já há  com cabecinhas grandes  por cima da terra.

Olha,  outra coisa que  não deixo fazer.  Quando se põe  o cebola  e  até  que cresçam  as cebolas novas,  há quem  lhes ponha  estrume,  para adubar,  nos  regos do cebolo.

Eu não deixo. Para poder apanhar  as cebolinhas novas  para as saladas. E até há quem gosta muito  de  uma cebola nova  só com sal,  partida aos quartos, com sal e vinagre.  

Também  é bom.  Queres algumas?  Apanha, se quiseres.

Este ano, o cebola para plantar estava muito caro, na feira  das terças-feiras.  Fica muito caro  mas para quem gosta de ter as suas coisas,  sempre vale a pena, Madrinha.

É  o  que  eu faço.  Foi a Ana que me foi comprar o cebola e o teu marido  veio  plantá-lo. 

Foi muito caro este ano.  Nem  sei como há  quem  o ponha para ir vender cebolas à  praça. 

A  lavoura  já não compensa. Só para quem tenha brio em não ter as terras paradas ou quem  quer ter coisas boas e de confiança para casa.

Ò  Madrinha,  o senhor Jaime é sócio do Grémio, não sei se o Padrinho também é. Lá  vendem  os adubos e as sementes mais baratas para os sócios. Mas o senhor Jaime diz  que  mesmo assim  não  compensa.  O meu homem trabalho para ele e vai-me contando.

Ah,  o Grémio  da Lavoura?

Também é sócio, é.  Mas é tudo  muito caro, tens razão.  E  ninguém  se pode queixar  que  nem eles nem as autoridades    deixam  as pessoas queixar-se.  Olha,  desde quando era miúda só oiço dizer que é preciso apertar o cinto.   Primeiro foi a queda,  depois  os racionamentos,  devido á Guerra também. E veio  o  de Santa Comba   e  está sempre a mandar apertar mais um furo. Então nós, funcionários públicos,  é sempre a apertar e … caluda.  Tu destas coneersas não contes nada nem lá em tua casa,  olha lá…nem  ao teu marido. 

Oh Madrinha,  “pela mor  de Deus” …!  Eu ia lá contar…!  

O meu Zé Maria  também arranja  o quintal  do senhor  Galveias,  aquele que é da legião, sabe Madrinha? 

Sei, sei…