domingo, 28 de abril de 2019

Recordando o Vasco (Graça Moura)




Ontem, ao fim da tarde, fui a um concerto dos Dias da Música no CCB.
Encontrei ainda no exterior o meu amigo Elisio Summavielle, actual Presidente daquela instituição.

Como a vida é um fio continuo de momentos e recordações, fez-me recordar tempos  passados também naquele espaço, e noutros, e um  outro Presidente daquela casa da cultura, o Vasco Graça Moura.

Há muita coisa em comum entre o Elisio e o Vasco, desde logo o facto de manter por ambos um sentimento de amizade, admiração  e proximidade.

Com o Vasco, fiz muitas viagens que foram  de muito boa conversa, de e para Bruxelas, nos anos dos nossos mandatos europeus. Falava-me da Europa, do País, de Cavaco, as letras e os poemas que acabara de oferecer a cantores, músicos e fadistas e, sobretudo, dos seus livros.  Eu puxava-o sempre para a conversa sobre os seus livros, os novos e os já publicados.
Adorava ouvi-lo falar sobre eles e recordo muitas vezes aquele em que o escritor tomava a pele de um coleccionador de livros antigos, palmilhava o norte do país a procurar raridades interessantes nas bibliotecas herdadas por esposas viuvas, abastadas, dias que acabavam muitas vezes em inícios de noites de temporal, dificuldades para viajar de regresso e um convite esperado e sabido por ambos, desde o momento em que  chegara,  para pernoitar, tomar um reconfortante pequeno almoço matinal e conduzir até ao Porto.

Visitava o Vasco  no seu gabinete no CCB, um espaço do tamanho do Campo do Belenenses nas  Salésias, que é ainda o gabinete de Elisio Summavielle.

Cheguei lá, muitas vezes, com dois livros seus acabados de comprar ali em baixo, na Bertrand, para o Vasco me autografar e comentar.  Saía sempre com meia dúzia de livros que ele fazia questão de me dedicar e oferecer.

E havia sempre tempo para me contar das dificuldades na gestão do CCB,  das suas  coisas com o vizinho ali próximo, Cavaco de quem bastante amigo, dos assuntos europeus, mesmo depois de ter deixado Bruxelas, da sua saúde que passou a ser tema importante a partir de certa altura. Sempre em grande tranquilidade, em todos os temas.

Algumas vezes lhe recordei a minha ida a sua casa na Foz, era eu finalista do 7º ano do liceu em Viseu. Fui lá com dois colegas, o Zé Junqueiro e o Jorge Costa Pinto, assinar com o irmão Miguel Graça Moura,  o contrato que levou o "Pop Five Music Incorporated" a fazer o Baile do 7º desse ano de 1970.  Eramos todos miúdos !

Depois de deixar Bruxelas, "apanhei-o"  pelo menos duas vezes no meio do aeroporto. Dizia-me que precisava de um convite para o Lounch da TAP pois tinha deixado de voar e já não tinha o cartão de passageiro frequente. Lá iamos, os dois e a minha vontade de o escutar.

Agora, podendo parecer estranho, tenho o Elisio para me recordar o Vasco. Muito diferentes mas muito iguais, sobretudo no concentrado de  cultura  que encontrei em ambos e no humanismo que não lhe fica atrás. Nenhum deles fica atrás do outro.

Abraço, Amigos !
(Vasco Graça Moura)
 (VGM)

(Elisio Summavielle)


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