É impressionante a força das campanhas de media que, pela insistência, pela repetição da mesma imagem ou ideia, por mentirosa que seja, fazem escola e levam a que seja assimilada como verdade.
Sei que é perigoso "julgar" ou "condenar" o delito de opinião, ou a liberdade de expressão e de imprensa.
Mas sei também que era preciso ter forma de impedir que opiniões falsas, aldrabices completas ao arrepio da evidencia dos factos, possam ser ditas, publicitadas, repetidas com a certeza de que quem o faz jamais será responsabilizado ou punido.
Não se me afigura compatível com o espírito de um Estado de Direito, com uma Democracia ou, tão somente, com a mais singela forma de convivência em liberdade e valores de cidadania, ter para uma mesma realidade, quem diga que é branco e quem diga que é preto. Com a certeza de o poder fazer como quem bebe um copo de água, sem responsabilização.
A campanha actual que vem já de há vários meses, tem por objectivo fazer acreditar que este governo e estas políticas são o mesmo que o anterior que cada dia reduzia rendimentos, cortava nas prestações sociais, nos cuidados de saúde, na assistência em geral, nos salários e aumentava impostos.
Para que nos próximos escrutínios populares as pessoas, mentalmente, descontem, desvalorizem, as diferenças entre esta solução política e a que a antecedeu.
Até com os impostos fazem batota!
Claro que não houve aumento da carga fiscal, claro que houve até impostos que diminuíram a carga. Mas conseguiram descobrir um qualquer indicador, uma falsidade, que permite concluir com aldrabice que os impostos subiram. Tão só porque a receita fiscal, o que o Estado recebeu da cobrança de impostos, aumentou. Se aumentou, concluem os aldrabões, os impostos subiram. E dali não arredam pé. Não, não é verdade. Aumentou a receita dos impostos porque, felizmente, há muito mais gente a trabalhar, a descontar e a pagar impostos. É só isso!
Mas, persisto, não me parece compatível com um Estado de Direito, com uma Democracia e viver em Liberdade que isto possa acontecer sem responsabilização.
O mesmo em relação ás reformas.
Até um ex Presidente da Republica vem dizer que "há até quem por aí diga quem em 2050 as reformas passarão para os 80 anos!"
Palermas.
As reformas não passam para nada. Então não viram que o que de facto se passa ou, melhor, queriam que se viesse a passar, era que quem se deixa de trabalhar, quem se reforma, independentemente da idade que tenha, leve é uma maior penalização no momento em que o faz ?
A idade de reforma não é hoje nem será nunca no futuro maior do que era, no sentido pratico e objectivo da questão. O que se passa é que quem hoje atinge a idade em que continuar a trabalhar fica impossível, é que vai para a reforma mas com uma penalização muito superior ao que acon tecia anos atrás. E pretendem que no futuro seja ainda maior.
Ninguém imagina em 2050 um polícia de 80 anos a correr atrás de um criminoso. Ou um médico com as mãos a tremer no bloco operatório, um barbeiro agarrado á navalha, trémulo, a cortar uma barba. Ou muitíssimas mais situações ridículas e impraticáveis que se poderiam aqui deixar. O funcionário a atender calmamente e com dificuldades de visão e a dizer que sabe que estão 300 pessoas na fila de esperta mas que os olhos não lhe permitem ler e escrever mais depressa!
Claro que a campanha actual apenas pretende criar "clima" para dar ao negócio privado os proveitos da gestão dos fundos que agora vão para a Segurança Social e para o SN Saúde.
Com o simples argumento de que o Estado gere mal.
Dizem ou pretende que se conclua que é mais seguro entregar aos privados.
Claro que ninguém levanta a questão ou fala do risco que estamos fartos de presenciar de um qualquer privado, de aqui a meia dúzia de anos, não dar conta dos fundos que acumulou, das suas responsabilidades. Nessa altura, clamam pelo Estado, para entrar com as "massas" e acudir aos cidadãos indefesos e defraudados. Pois, mas são esses cidadãos que agora estão a decidir fazê-lo ou não. Conscientemente a optar por deixar os seus descontos a cargo de uns ou de outros.
E tido isto me veio ao espírito pelo cartoon de hoje, aliás, que sempre muito aprecio pela actualidade e acutilância que caracterizam o autor, que aqui deixo . Mas, hoje, objectivamente, com laivos de aldrabice.
Dizer que continuamos na mesma em relação à austeridade, só pode ser encarado como leviano, pouco sério, só palavras inseridas numa mesma campanha de fazer crer ás pessoas que tudo é igual. E isso não é sério. Hoje em que já não bastam as reposições que vem sendo feitas e se clama já por "quero é ver repostos os meus ordenados de há 20 anos ! ", como ainda esta manhã ouvi dos dirigentes dos camionistas em greve.
Também não pode ser credível que o Ministro das Finanças possa dizer, ao Fiantial Times ou a quem quer que seja, que não houve mudanças face ás políticas do governo anterior.
Mas, brincamos ou gozamos, com quem ?
Sem comentários:
Enviar um comentário