sexta-feira, 20 de julho de 2018

Uma historia de amor ao ciclismo e aos ciclistas !


Esta, será, sem duvida,  uma parcela de uma  já  longa história  de vida mas é, também,  uma história de amor  e simplicidade.  E uma explicação  do meu gosto  e amor ao ciclismo, até  hoje.

Desde miúdo  que me habituei  a ver  todas as noites dos dias em que decorriam  as Voltas a Portugal, com  o meu pai  e na RTP,  o  chamado Diário da Volta.  Tudo  a preto e branco,  com  a celebre musica de inicio e fecho  que  soava  ao rolar  das bicicletas,  ás pedaladas  e  aos rolamentos  em  movimento.

Anos  de nomes  que ainda hoje me soam  a momentos  de felicidade, como Leonel Miranda, Joaquim Leão,   o Jorge Corvo do Tavira,  o Fernando Mendes do Benfica e o João Roque do Sporting,  nas lutas também  com o Joaquim Andrade  do Sangalhos...mal adivinhava eu que iria casar com  alguém  ali da Bairrada, na Malaposta, Anadia !

Sempre sem  que a ordem  destes nomes signifique  qualquer  critério de maior ou menor valor,  exactamente  ao correr da memória,  o Alberto Carvalho, Sousa Cardoso, Mario Silva, Laurentino Mendes, Peixoto Alves...ah, ...aqui paro e forço a memória,  pois, o Peixoto Alves! ...o Cosme Oliveira, Fernando Mendes, Joaquim Agostinho...isso, ele mesmo  que vi correr,  Americo Silva,  Antonio Acursio...outra pausa para recordar...Antonio Graça, Firmino Bernardino...Marco Chagas!

Descobri a certa altura,  no mercado da Figueira da Foz,  num bazar de brinquedos  que  vendia ali para os miúdos  das banhistas, como  chamavam os moradores da Figueira aos  veraneantes,  os baldes, as pazinhas, os ancinhos e as forminhas para os bolos de areia,  também à venda, uns ciclistas de plástico,  começara então a era  do  plástico e do sintético.

Muito  simples, de cores diferentes,  recordo que não eram caros, de contrário não  teria convencido a minha Mãe a comprar-me, aos poucos é verdade,  mas tantos  que  eram  os suficientes para  formar  uma meia dúzia de equipas.  Azuis  que eram  os do Sangalhos,  vermelhos  que eram  os do Benfica,  verdes  que seriam do Sporting,  pretos  também  que eram do Ginásio de Tavira e os brancos  que  passaram  a ser do Porto depois de eu lhes pintar umas riscas azuis  no dorso.

Una anos depois vieram para a Volta umas equipas belgas  com  nomes que me complicavam  a escrita, os Van Der isto  e Van Der aquilo,  o Vandame, Franzbrandt, Haubrechts e Montayne...!

Com esta tropa toda o que eu fazia  rodos  os anos,  nos dias da Volta,  era a MINHA VOLTA.
A sorte de termos aq Quinta da Aguieira, com espaço , com ar livre,  carreiros de cimento  enormes em volta da casa,  terraço á frente,  que subia, inclinado  da chamada carreira  desde  o portão de acesso à casa, dentro  e no meio da quinta,  até  ao portão da garagem.

Desenhava com  um bocado de uma telha  ou de um tijolo,  riscado no cimento,  a estrada que  era dividida em tantas  quadrículas  quantos os quilómetros  que  a etapa do dia tinha na realidade.
Tal qual  como  nos jogos de dados e tabuleiro.

Depois,  era alinhar  os ciclistas à partida,  pegar nos dados e ir jogando  alternadamente para cada um deles. Cada ciclista tinha também um numero no dorso, posto por mim, que era  o correspondente aquele ciclista na Volta real.
E um nome, na minha escrita, também real.

No final da etapa,  apontava tudo, cada um penalizava o numero de jogadas que tivesse que fazer a mais do que o primeiro  a correr a meta.

Depois,  diariamente, a classificação acumulda. Se na Volta real houvesse bonificações, eu tinha o meu sistema  correspondente  para abater pontos  aos  primeiros. E havia pontos  para os primeiros a passar nas metas volantes, que também existiam, tudo  como na etapa sério, para a montanha, tudo  igual.

Etapas em pista como em Alvalade, Tavira, Alpiarça, ou Sangalhos,  tinham  um circuito desenhado  também a rigor,  uma elipse.

começava logo de manhã e às vezes,  quando me cansava ou tinha outras coisas a fazer, deixava tudo no sitio  onde estava  e  voltava  mais tarde ou depois do jantar  que  os dias de verão davam  para isso.

Conservo ainda alguns desses ciclistas de plástico. Quem agora os veja, achará  um disparate, claro!

Mais tarde, esses calotes, surgiram à venda uns ciclistas "mais a sério", bem pintados, com base a preceito,  com  o capacete a imitar  aqueles bocados de pneu  de roda de bicicleta  que até davam  para tirar e recolocar.  Desse,  tenho pena,  mas não restou algum.

E é bem  por tudo  isto  e talvez  por outro tanto  que nem  ficou contado  por  não ter vindo ao caso,  que ainda hoje corro,  ando quilómetros de caro,  fico especado em frente de um nome sonante do ciclismo, sobretudo  dos da velha guarda, apenas para voltar a sentir  a enorme felicidade tão simples e tão barata de conseguir,  que  sentia  com  os  meus ciclistas,  quando era menino.



Já mais velho,   entre o quinto ano do liceu  e o sétimo,  dei  mais realidade à história com  os meus amigos mais próximos.  Faziamos corridas de bicicleta  na Aguieira,  um local  já  dentro  da cidade  mas retirado do  transito , por trás da Estação dos Caminhos de Ferro, que agora já não existe. Mas  com  terras que  agora vão  até  ao  lado  esquerdo da Avenida da Europa,  onde por feliz coincidência,  chega ou parte,  ano após ano,   a Volta a Portugal  em bicicleta.
Daí  que  a nosso quinta se  chame   a Quinta da Aguieira. No extremo tem  um enorme pinhal  que é ainda hoje um pulmão  da cidade ,  o Monte Salvado.
Faziamos, então, corridas, em linha, em contra-relógio  e a montanha,  a subida  da chamada "ladeira da resineira".  Eu,  sem  puxar  aqui à gabarolice,  ganhava quase sempre. E na montanha,  a subir,  era mesmo  um especialista!  E fazíamos ao cronometro pois que  nessa altura convenci  a minha mãe a oferecer-me um cronometro  a sério  num dia de aniversário.

E fica um detalhe  da minha ligação às bicicletas.




Como  em  tantos  anos  antes,  desde  sempre, o mês de Agosto  era  passado  na praia com os meus Pais. Desde  o meu  primeiro  ano.

De início,  íamos  para  a Praia de Espinho.

Mais  tarde,  a  partir  de  1962,  mudamos  o rumo  para  a  Figueira da Foz.

como  desde  sempre  tive  alguma habilidade para desenhar  e  construir,  nesse verão  de  1964  ,  concorri  ás  construções na Areia,  do  Diario de Noticias,  esculpindo  em  areia  um FLAMINGO !

As  penas  da  asa  lateral,  foram  simuladas  com  conchas  de  mexilhão,  abertas  e  sobrepostas.

No  final  do  dia  29  de Agosto,  estava o mês  mesmo  a  acabar  e o regresso  a Viseu  a  preparar-se,
fui  ao  Casino  da figueira  da Foz  receber  o  primeiro  prémio  da  Categoria  correspondente  á  minha  idade.
Foi  o  Duo  Ouro  Negro  quem  me  fez  entrega  do  prémio,  uma  bicicleta,  mesmo  á  minha  medida  mas  que   apostando  que  ainda   viesse  a  ganhar  centímetros  em  altura,  tudo  aconselhava
que   fosse  trocada  por  uma    com  roda  maior.


Foi   o  que  foi  feito logo  no dia  seguinte,  depois de contada  a história     ao proprietário de uma loja e oficina de bicicletas que ficava mesmo  por baixo  da  piscina do Grande Hotel  da Figueira  da Foz,  na marginal, frente á praia. O proprietário da loja era nem mais nem menos que o  pai  do  famoso  Alves Barbosa, vencedor  de Voltas a Portugal e o mais prestigiado ciclista daquela época.


Um  regresso  a  Viseu  cheio  de  alegria  e ,  muito  convencido,  fui  registar  o  velocípede  á Camara Municipal, com  placa  amarela  de matricula  e  tudo.


Uma  grande recordação,  esta VITÓRIA no  concurso  das Construções  na Areia  que  agora,  tantos  anos  depois,  consegui  obter  cópia  do  jornal  publicado  no  dia  seguinte.









Carlos  do Trio  Odemira


Alves Barbosa, autografada.






Chris  Froom



O Nuno, meu filho,  numa partida da Volta,  com  Joaquim Agostinho.




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