domingo, 12 de novembro de 2017

Jantar ou não jantar com os mortos, uma outra abordagem que levaria a considerar precipitadas e de vistas curtas as condenações que logo surgiram por toda a parte





Jantar ou não jantar com os mortos, uma outra abordagem que levaria a considerar precipitadas e de vistas curtas as condenações que logo surgiram por toda a parte

- UMA FORME DE ENCARAR
Há quase sempre formas diferentes de encarar uma mesma situação e, também muitas vezes, com razoabildade, seriedade e serenidade.
Com as medidas restritivas e de quase fundamentalismo em relação ás contas publicas, á obtenção de receitas e á diminuição de custos, iniciadas nos anos da chamada "crise", assistimos ás políticas do governo anterior que determinaram que as Instituições publicas, museus, monumentos nacionais, entre outros, obtivessem receitas das formas mais variadas, entre elas, a rentabilização dos seus espaços físicos. Daí que tenha legislado, entenda-se que com bondade, no sentido da obtenção dessas "novas receitas", o aluguer, para eventos, dessas instalações.
Só que nunca se terá imaginado que o uso pudesse chegar a situações que, como a que agora se discute, pudessem chocar o chamado comum dos mortais.
Ter-se-á confiado no bom senso, na razoabilidade e ponderação de quem viesse a usar o poder de autorizar, contratar, ceder os espaços, na oportunidade.

Só que, uma vez em lei, sabe-se bem como é difícil controlar o uso "devido" e não generalizar. Precisamente por não se "pensar".
E, visto agora, na ocasião, o Governo veio a terreiro e disse que vai alterar a legislação. Até por não ter sido este Governo a legislar conforma está.

O argumento de condenação usado, por exemplo e por se tratar da opinião da mais alta figura de Estado, o Presidente da Republica, não é valido. Criticou Marcelo Rebelo de Sousa, aos microfones, por se tratar de um monumento nacional. Mas o argumento não é valido já que a própria Presidencia e o Governo, organizam eventos, jantares, almoços, nos Jeronimos, no Palácio de Belém, nos Castelos e Palácios vários.

O que, de facto, poderá estar em causa, é o choque causado ás consciências pela possível interpretação de falta de respeito para com os mortos, ainda para mais ilustres portugueses que ali foram sepultados, pela possível falta de consideração pelos próprios, famílias e portugueses em geral.
Respeitável , o ponto de vista.


- UMA OUTRA ABORDAGEM
( que levaria a considerar precipitadas e de vistas curtas as condenações que logo surgiram por toda a parte)

Mas haverá quem entenda que ao fazê-lo, agora naquele espaço do Panteão Nacional ou noutra ocasião e noutro espaço, se está a fazer uma ponte, estabelecer uma relação saudável entre o passado, os mortos, e o futuro, os que ali celebram qualquer coisa ou pessoa.
A naturalide da morte no percurso da vida.

Que é uma forma de fazer encarar a morte com a naturalidade que é necessário.
A morte que faz parte, na realidade, da nossa, das nossas vidas.

Noutras culturas e sociedades, os chineses, por exemplo, ou os irlandeses, fazem-se cerimonias que simulam refeições ou quase banquetes nos cemitérios, junto aos mortos. E, isso, é normal e é uma forma saudável de fazer encarar a morte como ela deve ser encarada, uma parte da nossa Vida !
E, eu sei que não estamos na China nem é essa a nossa base cultural. Mas, e então ?

Em muitas culturas, credos ou religiões, a comida, a refeição, a mesa, é um assunto e um ritual muito respeitado e celebrado.

Os cristãos celebram a ultima ceia. Cristo nela terá estado presente. Por ser uma coisa digna, o comer, não impura, pecaminosa. A ultima significará que outras houve.
Cristo respeitou e elogiou as Bodas de Caná. Não por que tenham sido pouco dignas, tal como o ritual que deixam perceber.

Os chineses e varias outras culturas, igualmente a celebram trazendo para o presente a memória dos seus mortos.

A maçonaria, respeita as ágapes, a mesa, como forma de convivência e de união fraterna entre irmãos, de integração, respeito.

È, portanto, uma questão de sensibilidade, de sentimento legitimo de cada cidadão.
Legitimo, é a palavra.

Daí que se possa concluir que tenham sido precipitadas as condenações que logo surgiram no espaço cibernético e na opinião publica. E, de vistas curtas quem as proferiu, sem nelas pensar primeiro com olhos de tolerância.

O organizador da Web Summit, veio pedir desculpa não porque tenha sido uma coisa pouco digna, penso eu, mas por não querer ferir a sensibilidade, causar mal estar a penosa que o receberam , e bem, com uma cultura e senssibilidade para o trato com a morte, diferente da sua.

Bem vistas as coisas, em muitas Igrejas, espaços , conventos, onde amiúde se fazem confraternizações, festas ou eventos, não abertas ao culto, o chão ou as paredes estão cheias de túmulos, sepulturas. E ninguém repara.

Reconheço, evidentemente, a diferença entre o que referi e um Panteão Nacional.
Até pelo simbolismo de ali jazerem os restos mortais de muitos entre os mais ilustres e símbolos da união e singularidade da Nação portuguesa.

Mas reconheço e respeito as formas diversas de sentir, encarar e reagir de cada um.
Para mim, com a forma de reagir, de sentir, de encarar, acho pouco reflectida, precipitada, ofensiva, a realização deste tipo de eventos no Panteão Nacional ou noutro espaço publico que possa ter um simbolismo especial, a dignidade dos monumentos e eventos.

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