domingo, 24 de março de 2013






O PRIMEIRO  ÊXITO PROFISSIONAL, SIGNIFICATIVO  E  COM  VISIBILIDADE PÚBLICA :   ESTUDO, CONCEPÇÃO E LANÇAMENTO  EM PORTUGAL  DO PRIMEIRO  INSTRUMENTO DO  MERCADO DE CAPITAIS DEPOIS DE DA  ASFIXIA DAS BOLSAS EM  1974  - “PAI” DAS OBRIGAÇÔES DE CAIXA, COMO A IMPRENSA ECONOMICA DE ALTURA ME CHAMOU


(Foto da cerimónia de lançamento das Obrigações de Caixa, presidida pelo Dr João Salgueiro)


Apenas o Banco de Fomento Nacional vinha ao mercado com as suas emissões de obrigações para financiar os projetos de investimento a médio e longo prazo segundo a sua vocação.

Mas, mesmo assim, era uma forma de captação de recursos pouco eficaz já que , com uma emissão, recebia, num período muito curto, normalmente quinze dias, o que durava a período de subscrição, quase de uma assentada, um muto elevado montante de fundos que só iria aplicar em crédito de forma muito faseada, dilatada no tempo.

Foi a certa altura, no inicio da década de oitenta, desempenhar as funções de Ministro das Finanças o Dr. João Salgueiro, até aí  Presidente no Banco de Fomento. Tinha como Chefe de Gabinete, um jovem, oriundo de uma Família de Banqueiros, Fernando Ulrich.

Era eu , nessa altura, economista na Direção dos Serviços Financeiros do BFN e  recordo 
uma conversa a propósito de um instrumento financeiro, muito utilizado em França, os Bons de Caisse, as Obrigações de Caixa. Era visto como uma forma de obtenção de recursos, faseada, ao ritmo das necessidades de financiamento do emitente, o Banco. Recordo uma primeira conversa , sugerida pelo Dr. João Salgueiro, com o Dr. Fernando Ulrich, que se mostrou disponível para analisar e aprofundar o assunto, com o BFN, logo que houvesse mais desenvolvimentos, um estudo aprofundado.

Nesse Verão, fui dar uma volta pela Europa, de carro, com a Família.


Com  o  meu filho, eu era ainda muito novo, ainda não tinha trinta anos, gostávamos de visitar autódromos, stands de automóveis e os monumentos, claro.  Mas, como quase sempre fazia noutras circunstâncias, sempre que tinha que entrar numa agência bancária para cambiar “traveller cheques”, o que se usava na altura para não andar com muito dinheiro no  bolso, os cartões de crédito não estavam ainda sequer a funcionar em Portugal, retirava todos os folhetos promocionais sobre instrumentos financeiros, de poupança ou outros para, mais tarde, estudar  e me inteirar melhor como funcionavam.

Claro que quando apareceram alguns sobre bons de Caisse, fiquei feliz. Encontrei-os na Société Générale e na BNP, em Paris.


Uma vez em Lisboa, sem auxílio ás pesquisas na internet pois ainda nem sequer existia a possibilidade, o próprio fax só pouco mais tarde foi difundido e utilizado, requisitei no centro de documentação do Banco e comprei vários outros, muitos livros onde essas matérias eram abordadas.

Elaborei o meu primeiro estudo evidenciando as vantagens do novo instrumento financeiro e apresentei-o ao então Director Financeiro do Banco de Fomento que o apresentou, por sua vez, ao Conselho de Gestão, designação da época do CA.

Colocação ao ritmo das necessidades de financiamento do emitente, uma enorme vantagem para o Banco que emitia.
Possibilidade de resgate antecipado, com uma cláusula de pré-aviso que não era significativo, cinco dias, o que dava para o Banco programar os compromissos que daí pudessem advir e ativar, em alternativa, um Mercado Secundário fora de Bolsa, era um trunfo precioso para quem subscrevia, o público aforrador.

A emissão decorria também em Séries, ou seja, o Banco pedia autorização para emitir, em montante global, e depois procedia á colocação em séries, faseadas ao longo do ano, logo, com uma muito menor carga burocrática de autorizações de emissão e custo mais reduzido.

Depois do estudo feito e das reuniões no Ministério das finanças e da aceitação do Senhor Ministro de poder avançar com o diploma que lhes dava suporte e existência, foi a vez de ir ver mercados onde estavam já, há anos, a ser comercializadas as Obrigações de Caixa.

Estive, nessa altura, com uma Bolsa da OCDE, um mês na BNP, quinze dias em Paris, no edifício do Boulevard des Italiens, e quinze dias mais na Bretanha, no Centre de Conservation Dinan, muito próximo de Saint Malo e do Mont St. Michel.

Aí, tinha a BNP um “Chateau” uma enorme propriedade com segurança muito apertada desde a entrada á saída, campos de futebol , ténis, e mesmo escolas para os filhos dos empregados.
Tinham aí os Depósitos de Títulos, todos, centralizados, não em Paris, e o ouro e outros Valores.

Tinha como Diretor do CC Dinan, Messieur Legrad.
Depois de alguns dias de muita aprendizagem para um jovem economista de um País onde a Bolsa tinha paralisado e fechado, extremamente motivado para os assuntos de Títulos e do Mercado de Capitais, Mr Legrand, era já, para mim como para todos os que ali trabalhavam, Messieur Le Grand Directeur du CC Dinan.

Aprendi imenso naqueles dias e já estavam eles a trabalhar num projecto que dez ou quinze anos mais tarde vim acompanhar em Portugal com o falecido João Veiga anjos, Presidente da Bolsa de Valores de Lisboa e, para esse efeito, mais tarde, Presidente das duas Bolsas de Valores de Lisboa e do Porto.
Refiro-me á desmaterialização dos Títulos, á Central de Valores Mobiliários, em cuja criação participei também, com Veiga Anjos, Cristina Azevedo e Castanheira Santos, o seu Presidente após a morte trágica de João Veiga Anjos num acidente de automóvel no regresso de um jogo de futebol, de Lisboa para o Porto.







Voltando ás Obrigações de Caixa, o diploma viria a ser publicado pelo Ministério das Finanças , o BFN avançou com a primeira emissão , participei ativamente em tudo, até no filme publicitário rodado no Balcão da Rua Mouzinho da Silveira, a Sede da altura, produzido pela Agencia Latina com Vera Nobre da Costa com enorme responsabilidade e a colaboração acertada e responsável da Maria Suanny Albuquerque. Também o meu filho Nuno entrou no filme promocional que abria com o mapa da Europa e uma voz em off que dizia “ aproveitando a experiência da Europa, o Banco de Fomento Nacional lança em Portugal o primeiro instrumento inovador do Mercado de Capitais, as Obrigações de Caixa, BFN ...”



A seguir á emissão do BFN e dadas as excelentes relações entre o Banco e o Dr. Artur Santos Silva, recebi a indicação por parte do Conselho de Gestão para dar todo o apoio á montagem de uma outra emissão, desta vez da SPI, a Sociedade Portuguesa de Investimentos, acabadinha de aparecer e onde pontificavam o próprio Dr. Santos silva e a Dra. Isabel Lacerda.
Fui algumas vezes ao Porto, á Rua Tenente Valadim , onde tinha a Sede a SPI.

E, naturalmente, a emissão apareceu e foi muito bem sucedida, também.

Abaixo, no folheto publicitario, aparece o meu filho Nuno de colete  creme, de fora do balcão, segundo a contar da esquerda.

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