Sei, evidentemente, e compreendo que nao seja noticia , o cão morder o transeunte e que o transeunte morder o cão já o seja. Compreendo que do ponto de vista jornalistico quase tudo possa ser noticia, editado e difundido.
Mas, nao posso deixar de me mostrar surpreendido com uma noticia e reportagem que vi hà poucos dias na RTP 1.
Referia-se a um "casamento" de uma senhora com ... ela própria.
A cidadã era até uma terapeuta da área das psicologias ou coisa parecida.
Pelos vistos, hà anos que tentava arranjar uma companhia que lhe escapava continuadamente. Depois de muito porfiar, sempre sem resultados , decidiu, então, que iria "casar com ela própria"
Nada a comentar, cada um sabe de si e nestas coisas dos comportamentos individuais, cada um e so ele sabe mesmo de si.
Mas, o que surpreende é o abuso da expressao " casamento" . Não surpreende que a terapeuta - coitados dos pacientes que lhe possam cair nas mãos enquanto ela não trate primeiro da sua saude ... - lhe chame casamento. Mas surpreende que o jornalista não tenha uma atitude critica e não questione o rótulo da relação.
Casamento é, por definição, uma relação que implica duas pessoas. Já os animais, não dizemos que casam mas que acasalam.
Por este andar, não faltará muito para que se possam chamar casamentos a relações entre qualquer um e a escova dos dentes, o automóvel, a moradia do lado , a mesa da sala , o cão ou o piriquito.
E, tudo isto, não apenas como uma simples noticia, mas acompanhado de reportagem com a terapeuta em grande estilo evidenciando toda a sua paixão ... por ela própria , num pequeno almoço romantico consigo mesma. E o que se viu aflige pois, os que rejubilavam e saudavam a recém casada (???), eram muitos. Um bom indicador, preocupante, do índice de sanidade mental do colectivo.
Até onde nos levarà tudo isto ?
Muito a sério, até onde e com que valores vamos ?
Sem dúvida que, se se tratasse de um conhecido nosso, um amigo, por certo lhe perguntaríamos de imediato se se encontrava bem ou não.
Por certo que iríamos logo tentar ver com alguém a melhor forma de o ajudar pois algo de muito estranho se estaria a passar. Muito naturalmente lhe responderiamos, de pronto, um "estás maluco ou o quê ".
Curioso é que quando isto passa , desta forma, para os media, a perplexidade e o anormal da situação perdem força, como que fica justificado pela acção dos media, e passa a ser tratado como algo muito normal. Com honras e importância de telejornal em horário nobre !
Mais ainda, toda a noticia, polvilhada com os irritantes "...é assim..." e com os " à séria..." que jà fizeram escola e se afirmaram na arte de mal falar portugues.
Sem comentários:
Enviar um comentário