sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Perplexidade ! - isto também é sociedade civil

Sei,  evidentemente,  e  compreendo  que  nao  seja  noticia , o  cão  morder  o  transeunte  e   que  o  transeunte  morder  o  cão já   o  seja. Compreendo  que  do  ponto  de  vista  jornalistico  quase   tudo  possa  ser  noticia,  editado  e  difundido.
Mas,  nao  posso  deixar  de  me  mostrar  surpreendido  com  uma  noticia  e  reportagem  que  vi  hà  poucos  dias  na  RTP 1.
Referia-se  a  um  "casamento"  de  uma  senhora  com   ...  ela  própria.
A  cidadã  era  até  uma  terapeuta da  área  das  psicologias  ou  coisa   parecida.
Pelos  vistos,  hà  anos  que  tentava  arranjar  uma  companhia  que  lhe  escapava  continuadamente. Depois  de  muito  porfiar,  sempre  sem  resultados ,  decidiu, então,  que  iria  "casar  com  ela  própria"
Nada  a  comentar,  cada  um  sabe  de  si  e  nestas  coisas  dos  comportamentos  individuais,  cada um  e  so  ele  sabe  mesmo  de  si.
Mas,  o  que  surpreende  é  o  abuso  da  expressao  " casamento" .    Não  surpreende   que  a  terapeuta  -  coitados  dos  pacientes   que lhe  possam  cair  nas  mãos  enquanto  ela  não  trate  primeiro  da  sua  saude ... -   lhe  chame  casamento. Mas  surpreende  que  o jornalista  não  tenha  uma  atitude  critica  e  não  questione  o  rótulo  da  relação.
Casamento é,  por  definição,   uma  relação  que  implica  duas  pessoas.   Já  os  animais,  não  dizemos  que  casam  mas  que  acasalam. 
Por  este  andar,  não  faltará  muito  para  que  se  possam  chamar  casamentos  a  relações  entre   qualquer  um  e  a  escova  dos dentes,  o  automóvel,   a  moradia  do  lado ,    a  mesa  da  sala , o  cão  ou  o piriquito.
E,  tudo  isto,  não  apenas  como  uma  simples  noticia,  mas  acompanhado  de  reportagem  com  a  terapeuta  em  grande estilo  evidenciando  toda  a  sua  paixão  ... por  ela  própria ,  num  pequeno  almoço  romantico  consigo  mesma. E  o que se  viu aflige pois,  os  que  rejubilavam  e  saudavam  a  recém  casada (???),   eram  muitos.  Um  bom  indicador,  preocupante,  do  índice  de  sanidade  mental  do colectivo. 
Até  onde  nos  levarà  tudo  isto ?
Muito  a  sério,  até  onde  e  com  que  valores   vamos ?    
Sem  dúvida  que, se  se  tratasse  de  um  conhecido  nosso, um  amigo,  por  certo  lhe  perguntaríamos  de  imediato  se  se  encontrava  bem  ou  não.
Por  certo  que  iríamos  logo  tentar  ver  com  alguém  a  melhor  forma  de  o  ajudar  pois  algo  de  muito  estranho  se  estaria  a passar.  Muito naturalmente  lhe  responderiamos, de pronto,  um  "estás  maluco  ou  o  quê ".
Curioso é  que  quando  isto  passa  ,  desta  forma,  para  os  media,  a  perplexidade  e  o  anormal  da  situação  perdem  força,  como  que  fica  justificado  pela  acção  dos  media,  e  passa  a  ser  tratado  como algo muito  normal.  Com  honras  e  importância  de  telejornal  em  horário  nobre !  
Mais ainda, toda  a  noticia,  polvilhada  com  os  irritantes  "...é  assim..."   e  com  os   "  à  séria..."   que   jà  fizeram  escola  e  se  afirmaram  na   arte  de  mal  falar  portugues. 

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