Antonio-Pedro Vasconcelos realizou um fime.
Também há quem diga que Antonio-Pedro Vasconcelos fez um novo filme, Parque Mayer.
Parque Mayer, de família Lima-Mayer.
Tive em tempos um colega chamado Lima. Mas não era Mayer. Apenas Lima e em vez do Mayer era Boavista, creio. E ficava fulo quando lhe trocavam o apelido Boavista por Boavida. Lá teria as suas razões para tão forte trauma. Isso, são outras historias que não valem o tempo de as recordar.
Antonio-Pedro Vasconcelos é do Benfica. Eu sou Belenenses, Vasco Lourenço é do Sporting e Fernando Gomes do Porto. Com tudo o que cada uma dessas paixões arrasta e implica.
Com este filme, Antonio-Pedro Vasconcelos, anulou e fez apagar até essas diferenças emocionais, as diferenças motivadas por essas paixões.
Antonio-Pedro Vasconcelos integrou. E isso é coisa difícil de conseguir.
Integrou as diferenças, os sentimentos plurais, deixou em evidencia o que de pior há no sentir das pessoas, a vingança, o ódio, a denuncia vingativa, e o que de bom há em contraponto a esses sentimentos mesquinhos, o sentir plural, solidario, o respeito e a integração das diferenças.
Mas, Antonio-Pedro Vasconcelos fez arte.
E, afinal, o que é a arte, de que coisas é feita a arte ?
De quantas artes é feita a arte ?
Antonio-Pedro Vasconcelos fez arte escolhendo e inventando planos, dirigindo a camera, escolhendo os rostos, as expressões, os risos e os choros feitos de lágrimas ou de soluços contidos, apertados na força de uma censura nas gargantas e nos peitos que não é só a censura dos censores dos trechos e dos quadros da revista que passaram no Parque Meyer. É também a aquela força que as pessoas fazem para não soltar lágrimas que em vários momentos deste novo filme se aprestam a sair.
Antonio-Pedro Vasconcelos fez arte com os textos escritos e repetidos pelos actores, fez arte feita dança e bailados com os sentidos de quem esteve hora e meia a ver o seu novo filme, Parque Meyer.
Sentidos que se agitaram, saltaram e rodopiaram vezes sem conta entre a emoção da beleza exposta e quase dada a comer ou a beber a quem assistia, da alegria gritada e partilhada e da comoção de quase os levar ás lagrimas ou ao choro compulsivo desde que não censurado e, por decência, contido.
Antonio-Pedro Vasconcelos fez arte ao tornar explicitos e fielmente recreados ou renascidos os medos, as dores infligidas e os horrores dos carrascos de outrora.
Antonio-Pedro Vasconcelos fez amor feito de vários amores de que o amor se diz que pode ser feito.
Trouxe de novo à luz das telas o que de bom trouxeram todas as Marias ou, no caso, as Deolindas . O que tinham de genuino, puro, leve e de alegria contagiante.
Mais do que tudo isso, Antonio-Pedro Vasconcelos deixou-nos, a brincar ao cinema e aos filmes feitos agora, para quem esses tempos não os viveu, uma visão de tempos passados que por certo gente que ao sair do Parque Mayer e que escolhe virar à esquerda para a grande Avenida da Liberdade e nela aproveitar a Alegria possivel de quem virando à direita sempre desemboca na Alegria, uma visão e um enorme e sério aviso sobre o que todos os que vindo por bem, não querem que se repita. -
Não cai na leveza de ser uma comédia, longe disso. Não cai na fraqueza de ser um choradinho ou um uma historia delicodoce, nada disso. É serio, divertido, bem doseado. Tal como um antigo Bispo de Viseu, Alves Martins, dizia que a religião deveria ser, como o sal na comida, nem demais, nem de menos.
Por tudo isto o que ficou escrito e o que só ficou sentido ou contido, um forte abraço de agradecimento ao Antonio-Pedro Vasconcelos.
A todos os outros que já perderam dois minutos a ler estas linhas, um conselho amigo: vão ver o file, este, Parque Mayer.
E. depois, digam-me se tenho ou não razão.
Carlos Pereira Martins.
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