sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

PARQUE MAYER




Antonio-Pedro Vasconcelos realizou um fime.
Também há quem diga que Antonio-Pedro Vasconcelos fez um novo filme, Parque Mayer.
Parque Mayer, de família Lima-Mayer.

Tive em tempos um colega chamado Lima. Mas não era Mayer.  Apenas Lima e em vez do Mayer era Boavista, creio. E ficava fulo quando lhe trocavam o apelido Boavista por Boavida. Lá teria as suas razões para tão forte trauma. Isso, são outras historias que não valem o tempo de as recordar.


Antonio-Pedro Vasconcelos é do Benfica. Eu sou Belenenses, Vasco Lourenço é do Sporting e Fernando Gomes  do Porto. Com tudo o que cada uma dessas paixões arrasta e implica.
Com este filme, Antonio-Pedro Vasconcelos, anulou e fez apagar até essas diferenças emocionais,  as diferenças motivadas por essas paixões.
Antonio-Pedro Vasconcelos  integrou. E isso é  coisa difícil de conseguir.
Integrou as diferenças, os sentimentos plurais,  deixou em evidencia o que de pior há  no sentir das pessoas, a vingança, o ódio, a denuncia vingativa, e o que de bom há em contraponto a esses sentimentos mesquinhos, o sentir plural, solidario,  o respeito e a  integração das diferenças.  


Mas, Antonio-Pedro Vasconcelos  fez arte.
E, afinal, o que é a arte, de que  coisas é feita a arte ? 
De quantas artes é feita a arte ?


Antonio-Pedro Vasconcelos  fez arte  escolhendo e inventando planos,  dirigindo a camera, escolhendo os rostos, as expressões, os risos e os choros feitos de lágrimas ou de soluços contidos, apertados  na força de uma censura nas gargantas e nos peitos que não é só a  censura dos censores dos trechos e dos quadros da revista que passaram  no Parque Meyer. É também a  aquela força  que  as pessoas fazem  para não soltar lágrimas que em vários momentos deste novo filme se aprestam a sair.

Antonio-Pedro Vasconcelos  fez arte com os textos escritos  e repetidos pelos actores, fez arte feita dança e bailados com os sentidos  de quem esteve  hora e meia  a ver o  seu novo filme, Parque Meyer.
Sentidos que se agitaram, saltaram e  rodopiaram vezes sem conta entre  a emoção da beleza exposta  e  quase dada a comer ou a beber  a quem  assistia,  da alegria  gritada e  partilhada e  da comoção de quase os levar ás lagrimas ou ao choro compulsivo desde que não censurado e, por decência, contido.

Antonio-Pedro Vasconcelos  fez arte  ao tornar explicitos e fielmente  recreados ou renascidos  os medos, as dores infligidas e os horrores  dos carrascos de outrora.

Antonio-Pedro Vasconcelos  fez amor  feito  de vários amores de que o amor se diz que pode ser feito.  
Trouxe de novo à luz  das telas o que de bom trouxeram  todas as Marias ou, no caso, as Deolindas . O que  tinham de genuino, puro, leve e  de alegria  contagiante. 


Mais do que tudo isso, Antonio-Pedro Vasconcelos  deixou-nos, a brincar ao  cinema e aos filmes feitos agora,  para quem  esses tempos não os  viveu, uma visão  de tempos passados que por certo  gente que ao sair do Parque Mayer e que escolhe virar à esquerda para a  grande Avenida da Liberdade  e nela aproveitar  a Alegria  possivel  de quem virando à direita sempre desemboca na  Alegria,   uma visão  e  um enorme e  sério aviso  sobre  o que  todos  os que vindo por bem, não querem que se repita. -
Não cai  na leveza de ser uma comédia, longe disso. Não cai  na  fraqueza de ser um  choradinho ou um  uma  historia  delicodoce, nada disso. É  serio, divertido, bem  doseado. Tal como  um antigo  Bispo de Viseu, Alves Martins, dizia que a religião deveria ser, como  o sal na comida, nem demais, nem de menos.


Por tudo  isto o que ficou escrito e o que só ficou sentido  ou contido,  um forte abraço de agradecimento ao  Antonio-Pedro Vasconcelos.

A todos os outros que já perderam dois minutos a ler  estas linhas, um conselho amigo: vão ver o file, este, Parque Mayer.
E. depois, digam-me se tenho  ou não razão.


Carlos Pereira Martins.

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