domingo, 19 de março de 2017

Fiz a barba com a gilete !

Há já alguns dias que fazia a barba com a maquina. Hoje, deu-me para variar, penso que fica melhor mas dá muito mais trabalho  ou demoro mais tempo,  fiz com a gilete. 
Por demorar mais tempo, tenho oportunidade para ver no  espelho quem  estou a escanhoar  e para pensar  em  coisas, no rosto que vejo, naquilo que lhe está associado e na vida em geral.

Mais coisa menos coisa,  muda paradigma para cá, muda de paradigma para acolá, nunca tive duvidas quanto á forma de sociedade em que desejo  viver e acabar o meu temo. Uma sociedade livre, democrática,  socialmente equilibrada quanto á repartição da riqueza e dos meios de produção,  o que significa uma forma de organização económica e politica  conhecida como  um regime capitalista.

Nenhuma duvida,  capitalismo nas relações económicas  e social democracia na organização politica.


Mas isso  significa  valorizar  o investimento, o risco  empreendedor,  a criação de postos de trabalho, valorizar o trabalho por forma a que o que deve ser o objectivo final  de cada  um,  a felicidade,  no relativo que neste ponto temos que lhe conceder,  não fique  impossibilitado e desvirtuado,  as pessoas recebam  o adequado para viverem com dignidade,  alcançarem essa relativa felicidade,  a sua e a dos descendentes, se for caso disso, até para garantirem a conservação da espécie,  pagarem impostos,  contribuirem  para  o bem comum e para  o  crescimento  e o equilíbrio  social, entendido  na sua generalidade.


Sei, evidentemente,  que  conseguir todos estes objectivos é  difícil, há tempos e tempos, há os chamados ciclos económicos com picos  de prosperidade e épocas menos boas. 

Mas vivi  assimilando  sempre valores que me levaram  a valorizar,  aplaudir  e  apontar como exemplo,  quem  é serio,  quem  promove investimento  quando é produtivo, quem cria emprego  e tudo faz  para que seja sustentado,  firme, duradouro,  obtenha  lucros,  com eles seja mais feliz e com parte deles invista mais, faça crescer as suas empresas e as condições de vida de quem nelas trabalha,  aumente a sua riqueza e pague os impostos devidos, por forma a contribuir para o engrandecimento  da economia e do  bem  estar  social. 


Mas,  nos últimos anos,  não  só em Portugal  mas passou-se ao jeito de uma febre, de uma moda  que  não encontra barreiras para se propagar  nem  forma  para  se   conter,   o  que vejo  é  a sociedade,  repito, cá e lá por fora,  os  media,  os  fazedores de opinião e  que terão o poder  para o fazer, dar  valor  a uma certa espécie de    empreendedores, investidores ,  chairmens,  CEOs ou o que lhes queiramos chamar,    eles próprios e de seguida  todos os que mencionei,  darem vivas e  notabilizarem  pessoas  que  fazem  noticia por obterem  cada vez   maiores lucros, ao mesmo tempo que fazem  despedimentos selváticos, em contra-senso com os lucros obtidos,  tornam  o emprego  absoluta e  eternamente precário,  fecham  fabricas, apesar de rentáveis,  lidam  com a miséria dos que os  ajudaram a atingir patamares de riqueza inimagináveis  como  se lida com umas peúgas que se mudam ou se rejeitam  por nada a não ser porque “não vale a pena”, e podem achar que assim  querem.  Não há ética, não há espirito de missão, responsabilidade social,  não há brio, não há vergonha, é mais isso. 

O que dá créditos, nos tempos correntes,  é poder dizer que tive mais 30%  de acréscimo relativamente ao lucro do ano anterior,  que  já o fiz  com menos postos de trabalho,  que vou diminuir  mais  uns quantos  e  baixar  os ordenados,  devido  á crise e ás nuvens  negras que virão lá do sul…!
Mas  vou  subir  os preços  sempre  que possa e recorrendo  ás ajudas de todo o género  que  continuo  a procurar.

E são  esses  os premiados, os noticiados,  os que ganham prémios de maiores e melhores gestores,  andam  nas bocas do mundo, senão  nos altares. Talvez por ainda termos uma Constituição laica  ou  plural  quanto  á crença ou ausência dela.

De maneira que me senti  confuso,  esta manhã,  enquanto fazia a barba.

Mas  porque raio não fiz eu a barba, esta manhã, com a maquina   fabricada e bem  por uma forte multinacional, em vez de me escanhoar com a gilete?

Bom,  pode ser apenas do calor excessivo  que temos e não é próprio  desta época do ano.  

Afinal,  a pele e os  humores são muito sensíveis  ao que  a toca  e ao tempo que faz.  Se for só isso,  passará em breve. 

Se, por acaso, vier a ser coisa de força maior,  vou meditar um pouco mais sobre a imagem  que  hoje obtive e entendo  que  bem  pode ilustrar o que me vai no pensamento.  

A todos, façam o favor de tentar ser felizes.


Carlos Pereira Martins



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