sábado, 8 de fevereiro de 2014
As crises e as oportunidades
Sempre discordei do aproveitamento da situaçao dificil em que a quase generalidade das pessoas se encontram para fazer o discurso de que as crises criam novas oportunidades, são momentos de mudança de paradigmas e outras coisas politicamente muito correctas, melhor, convenientes aos ouvidos de quem detém momentaneamente o poder mas que são uns autenticos disparates.
Uma crise é um momento mau, de aflição, de inumeros costrangimentos e sacrificios que, a criar oportunidades, ou são efemeres, ou são soluções de recurso e não correspondem ás legitimas aspirações e preparação das pessoas, ou são optimas e consistentes mas para quem sempre as teve e pouco ou nada é afectado pela crise.
Não cabe aqui, agora, fazer uma resenha sobre as origens e o inicio da crise actual.
Com a atenção, observação e o muito que tenho aprendido com a experiência da crise em vàrios dos Estados Membros , sobretudo a que me veio dos mais afectados pela actual situação, tenho, contudo, consolidado a ideia de que , se há grupos de cidadãos que terão algumas oportunidades e poderão mesmo ter alguma liderança nas acções de resistencia às actuais politicas de barbàrie, são os Consumidores.
Muito se comenta sobre a ligeireza , a falta de rigor, a forma de informar, como se estivessem a falar de realidades distantes que nada parecem ter com eles ou o pais em que vivem e nasceram, como grande parte dos jornalistas dos serviços informativos das nossas estações de televisão se nos apresentam a debitar as mais graves noticias.
Grande parte, promove mesmo os pseudo debates, com repetição do repetido, que dão audiencias, é claro, mas em nada promovem o esclarecimento ou as soluções pretendidas.
Tornou-se moda, moda com elevado lucro financeiro para as estações de televisão, rechear os debates ou mesmo os programas informativos, com uns numeros em rodapé para os quais se apela para que os consumidores transfiram uns cobres, apenas para que se saiba se acham que vai acontecer isto ou aquilo, se vai ter sucesso fulano ou cicrano; e, nos programas desportivos, logo alguns dias antes de um jogo de maior importancia, pede-se para telefonar e palpitar se vai ganhar A ou B, ou mesmo se empatarão. Tudo isto com uma mais valia associada para o canal que promove as chamadas.
Moda esta que também aparece, cada vez com maior frequencia, nos programs de entretenimento: ligue jà para o numero tal, faça muitas chamadas pois quantas mais fizer mais hipoteses terà de ganhar, e, o que mais grave torna a situação é que, as pessoas, na aflição em que vivem, lá caem que nem uns patinhos ... desesperados.
Tudo isto configura uma nova forma de jogos, de apostas na probabilidade de alguém poder ser o contemplado. Importará saber, com clareza e total transparencia, quem controla esta actividade de elevado potencial de drenagem de parcas poupanças dos consumidores para estes abutres promotores. Abutres pois estão muito obviamente a jogar com os sentimentos , o clima emocional de desespero de muitas pessoas, exactamente aquelas que menos possibilidades deverão ter para esbanjar dinheiro.
E, se os lucros dos jogos reservados à Santa Casa vão para a entreajuda a sectores e instituições de carênciados, nestes casos, vão pra ... os lucros dos accionistas dos orgãos de informação.
Não será que os consumidores organizados e actuantes não terão aqui, de facto, uma excelente oportunidade para corrigir toda esta falsidade e ganancia ?
Ora ai està uma boa oportunidade criada pela crise .
Jà agora, outra situação que há muito me tem levado a desligar o radio do carro sempre que a antevejo. Jà não suporto mesmo ouvir , ser um pacato e passivo ouvinte desta falta de vergonha que agora explico.
Hà já vàrios anos que se criou legislação para alertar os consumidores para aspectos importantes em prol da defesa dos seus interesses e da transparência, obrigando a que, no final da publicidade a determinado produto ou serviço se enunciem alguns dados relevantes, como na caso dos medicamentos ou outros de obtenção de informação mais detalhada ( contra indicações e composição), como no caso dos serviços e produtos financeiros ( CMVM, chamada de atenção para a necessidade de consulta da ficha tecnica do produto, etc).
Acontece que se tornou moda que essa informação tão relevante e cautelar para o consumidor, passou a ser lida a tal velocidade que é de todo impossivel ouvir ou perceber o que é dito. Em muitos casos chega a ser ridículo e disparatado !
E, das duas uma : ou a Lei não faz algum sentido e, nesse caso, haverá que a remover, ou a lei não està a ser cumprida pois o objectivo e a imperiosidade de que essa informação seja lida, está , por artes tacanhas e fraudulentas, a ser viciada.
Mas não haverà autoridades competentes, as que fizeram essas leis, os Reguladores, os organismos dos consumidores e por ai fora até ao supremo responsavel pela garantia do Estado de Direito, atentos quanto baste a esta falta de escrúpulos e actuantes?
No limite, acabe-se com a lei e sempre se poupa em tempo de antena, em energia e em espectaculo de estupidez e tacanhez e vergonha.
Mais uma verdadeira oportunidade para os nossos consumidores pois parece que vem muito ligada à crise dado que tem vindo a agravar-se esta situação.
Oportunidade flagrante, de grande impacto e eficàcia total seria a que , mais uma vez, os consumidores pudessem tomar de não ver ou ouvir certos programas de formatação das suas mentes, dos seus cérebros, de despudorados/as apresentadoras , animadoras, de despudorados comentadores de políticas baixas e de mexericos, pura e simplesmente recusando-se ligar os radios ou os televisores nos respectivos horários.
Ai audiências por onde elas andariam ...!
E era ver se os conteúdos e a qualidade mudava ou não.
A troco de um prémio pago vezes sem conta em chamadas efectuadas, é passada a informação que estupidifica, que impede a pessoas de pensar ou agir, por animadoras/es sem escrupulos.
Se concertados na acção, são, sem duvida, os consumidores quem mais oportunidades tem neste estado de coisas.
Atente-se, por fim, a um certo exemplo do que se passa nas grandes superficies: por um lado, em nome da crise, reduzem pessoal ao mínimo. Os consumidores passam tempo sem fim nas filas das caixas para pagamento, com caixas a funcionar a metade ou menos que isso.
Entretanto, os produtos, sobretudo os congelados, deterioram-se nas esperas prolongadas. E, os accionistas das grandes superficies continuam a cobrar em estacionamento mais longo devido aos tempos de espera ... são só ganhos!
E se toda esta prol de consumidores se organizasse devidamente e recusasse pactuar com toda esta manipulação de que são alvo?
E se, ao mesmo tempo, os pensionistas espoliados do que é verdaeiramente seu, o que descontaram durante a sua vida de trabalho, se lhes juntassem e exigissem correr com os responsàveis por estes roubos, para bem longe?
... É mesmo assim que se fazem as grandes mudanças, umas vezes apenas com cravos, outras, com outros argumentos. Mas é mesmo assim que as coisas se têm vindo a alterar, nos sitios mais imprevisíveis e mais autoritariamente estáveis e tem levado à deposição de autocracias muito fortes.
As crises trazem sempre ESTAS OPORTUNIDADES.
Aí, estamos de acordo.
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