sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O blusão do taxista sueco

                                         Estamos a 13 de Dezembro.
Faz muito frio em Estocolmo mas ainda não neva, ao contrário de outros Dezembros.
Os dias são curtissimos nesta época do ano e, hoje, é o Dia de Lucia.
Lucia como luce, como light, Representa-se e apresenta-se como uma mulher vestida de branco com luzes á volta da cabeça. A toda a volta.
Lucia e o cortejo de homens e mulheres vestidos de branco, com luzes na mão, cantam maravilhosamente, canticos suaves, lindos de ouvir.

Encontrei-me com um destes cortejos á saida do Hotel Sheraton, logo a seguir ao pequeno almoço, no lobby, estava o desfile  a recolher e não iria repetir. Mas aqueles minutos valeram a pena e souberam a pouco.

Na rua faz frio , muito frio, mesmo a sério, como não há nos paises do sul.

Em Estocolmo os edificios são, como eu os defino, solidos, modernos e bem acabados. Como os nossos, em Portugal.
Faço-me entender? 
Quero dizer, nos Estados Unidos, no Canadá, mesmo em Londres, as casas comerciais e as casas que não são assim tão comerciais, as de habitação, aparentam um ar de improvisadas, não será de pré fabricadas mas é de fabricadas ...  á pressa. Ou, pouco bem acabadas?
Aqui o material é solido, tudo de qualidade, bons acabamentos, tudo muito bem acabado para ser assim mesmo, em definitivo. Grande, solido , bem apresentado e bom.

Logo nos primeiros passos depois de sair á rua, reparei nos taxistas ali em fila á espera de clientes que saissem do hotel.
Nada de muito diferente a não ser a apresentação dos motoristas. Cada um vestia um blusão escuro com um distintivo alusivo, naturalmente, a uma companhia de taxis, penso mesmo que a uma organização nacional de taxistas, eram todos iguais nesse pormenor, com excelente apresentação. Dava uma dignidade aos profissionais que valia a pena notar.

Ao contrário do que se passa com os taxistas em Portugal, mesmo nas grandes cidades, cada um como vai conseguindo arranjar-se, todos com um ar um pouco mal amanhado pois a vida não dá para mais e, no futuro, está para ver se dará para manter o que agora vão tendo.

E, aí, parei mesmo para me interrogar. Que mal terá feito o comum dos  portugueses para não ter o que de bom vão tendo os outros?
Os suecos, por exemplo.
Há grandes diferenças culturais entre vários povos europeus. Dos nordicos aos latinos, dos povos do Norte aos do Sul, aos Mediterraneos, vai uma diferença cultural enorme.

Por aqui, por exemplo, a corrupção enraizada e os delitos desta natureza, de se apropriar de somas descomunais do que é dos outros, do que é publico, não é que não possa acontecer mas não fica impune.
O bom ar dos e das taxistas, os blusões impecaveis, fizeram-me de imediato ver que não pode haver um povo a viver bem se a permissividade em relação a quem subtrai verbas dificeis de imaginar ao patrimonio de todos, é tão tolerada como acontece na nossa ... " nova cultura ? ".


Que mal terá feito este Povo para além de se mostrar completamente palerma nas suas reacções para com os corruptos?
Claro que tem vindo a ser formatado para isso, também há que considerar ese aspecto.
E já vem de longe. Era uma certa maneira de ser de fazer crer que não era esperto quem não fugisse ao fisco, quem não arranjasse um subsidiosinho, fosse para o que quer que fosse, enfim, coisas que fizeram escola e, também por isso, vieram a permitir fechar os olhos a coisas muito maiores, muito mais graves.
Não posso deixar de lembrar-me como ainda há poucas semanas fiquei furioso ao ouvir uma critica televisiva do Professor Marcelo. Entre risos e cachecois de futebol com o entrevistador, a proposito de uma figura politica bem conhecida que foi detida por suspeitas de burlas, lavagem de fundos, evasão fiscal e tráfico de influências, já que a hipotese de homicidio não está para aqui, em Portugal, ainda chamada, o Professor "lavou" completamente a situação ao entrar por caminhos que sugeriu que todos fazem, ou, pelo menos, não era só ele que fazia, quem é que não faria, e tal e coisa e coisa e tal.
Esqueceu ou quiz mesmo esquecer e fazer esquecer a gravidade dos factos ou, melhor, das suspeitas.
A melhor forma para fazer escola, má escola, de permissividade, é a generalização. Foi o que o Professor fez. Acabou por concluir ou fazer passar a mensagem que " Afinal o homem mais não foi do que esperto ...como tantos outros com tanto poder á mão! "

É isto o que é grave. É isto , de pseudo responsaveis e fazedores de opinião, que o são de facto, que impede os taxistas portugueses de se apresentarem de blusão impecável, muito profissional e com grande estilo, como os seus colegas suecos.
E, mais, de verem o futuro com tão bons olhos como os seus Colegas.


Para o bem estar actual da Suecia tem sido extremamente importante o papel desempenhado pelo elevado nivel de Comercio externo, do investimento e das exportacões.
O Comercio aproxima os Povos, desde que não seja o do pó branco ou o das armas, está claro.

De facto, aumentando ou incrementando-se as Exportações, fica garantida a maior participação da Sociedade Civil , no terreno, no processo de crescimento e bem estar, aumentam os fluxos financeiros na região e o interesse de todos para que a tranquilidade, logo, a Paz, seja garantida.
Resulta desta simples constatação uma conclusão muito importante para ser tida em conta na actual situação que é vivida em toda a Europa.
O crescimento, a produção, logo, o consumo, pois não pode haver produção estruturada se não houver condições para garantir o consumo, são esenciais para a manutenção da Paz.
E, daqui, uma conclusão preocupante e de grande reserva sobre as politicas de redução de defices em curso nos paises em maiores dificuldades. Os cortes desenfreados, sem ponderação, nos rendimentos dos particulares e das Familias, são perigosos, com implicações muito directas na manutenção da Paz em cada Estado Membro e na Europa, no seu todo.


A queda tão drastica, tão abrupta de niveis de bem estar que permitiam uma certa dignidade ao comum dos cidadãos portugueses, aproximando-os progressivamente, nos ultimos anos, da moda dos cidadãos europeus, para o nivel de debilidade generalizada e de vizinhança de pobreza já registado em grandes estractos da sociedade portuguesa, só pode ser explicada pelo desvio sistematico de verbas assustadoras , que não são sequer possiveis de serem  utilizadas em proveito proprio por quem as furta. Só por ganacia doentia são roubadas.

E, isto, não deve e não deve ficar branqueado ou ser aliviado em importancia pelo passar do tempo.

Antes, estes crimes eram expirados na prisão, na cela, mas mesmo assim era feita a regressão dos patrimonios furtados.
Agora, estes crimes são em muitos casos expirados com o decorrer dos dias e dos meses, temperados e conduzido o processo de complacência por manobras de diversão espalhadas na imprensa e com a sua total cobertura, quanto mais não seja, por razões de venda de papel.


Fiz as contas e creio que foi esta a minha oitava vez de visita a 
Estocolmo. Aproveitei para, desta vez, fazer coisas que antes não tinha ainda feito. E repeti outras que faço sempre.

Fui jantar com a minha Amiga Inger, Presidente dos Consumidores suecos, ao Den Gylden Freden. Um restaurante com seculos de historia, na Cidade Velha, onde se podem degustar os mais variados sabores de arenque marinado, no excelente "old times style" que só ali sabe tão bem.
Fui cumprir os meus dois mil metros de natação bi diária ao Centralbadet, o Stockolm Brunnsbad, um magnifico centro balnear, na linguagem actual, um SPA, com excelentes piscinas, banhos e saunas para todos os paladares, tudo datado já desde 1904 !
A modernidade não prejudica a qualidade, o equilibrio é primoroso. Das 12 horas ás três da tarde, o tempo que lá estive, a frequência era grande. Jovens, menos jovens e mais idosos, loiros e loiras, negros e negras, morenos e morenas, todos com ar de relativa felicidade, tanta quanto se pode evidenciar nos tempos conturbados que vivemos ou, mais preocupantes, os que se esperam. E não seriam desempregados a viver do subsidio, não tinham mesmo nada ar disso .

E ainda que não cultive o sentimento mesquinho de cobiçar o alheio ou viver mal com o bem estar dos outros, confesso que não pude deixar de pensar, como no caso do taxista sueco, que raio de mal tremos nós portugueses feito para que não possamos agora partilhar do mesmo espirito de esperança, bem estar e felicidade e relativa que tantos outros povos europeus, em particular este, hoje vivem.



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