quinta-feira, 3 de maio de 2018

A época de incendios, os meios disponíveis e as forças que deverão estar em cooperação .

Falo e escrevo com a experiência ou a autoridade que me vem  por ter presidido na União Europeia a vários Pareceres  sobre transportes, segurança, meios aéreos e  aviação em particular.

Fico surpreendido ao ver que a generalidade dos comentadores, especialistas, políticos  e responsáveis  nacionais  centram  as suas analises ou opiniões sobre o passado,  sobre os incêndios do ultimo verão. E quase nada é prospectivo.  Sobre o futuro,  mesmo nada.  Sobre o futuro  muito próximo, mesmo nada.

Preocupa-me imenso   o clima de  clivagem  instaurado entre  os Bombeiros, a Protecção Civil e as forças militarizadas, no caso, a GNR.


É que os meios aéreos já contratados  ou a contratar para  actuar em  cenários de incêndios,  operam com uma missão  de primeira e imediata intervenção.
São, ou deverão ser, o primeiro ataque directo  a um fogo de proporções  que justifiquem a sua entrada em acção e cada piloto, cada aeronave, em especial os helicópteros, levam consigo  uma equipa de JIPS, soldados da GNR  especializados na intervenção rápida contra os incêndios.

Uma vez feita essa  primeira  intervenção,  largam  a sua acção  e partem  para outro  local , outro incendio, para recomeçarem nova intervenção  como primeiríssima força de combate, inicial.

E largam, assim,  a continuação  do combate ao incendio   para  os bombeiros, esses, sim,  com a missão de defesa  das populações, casas, pessoas e bens, como, aliás, as corporações e as associações de bombeiros  têm vindo  a lembrar.

Acontece que se instalou um clima de crispação  e confusão   entre a missão de cada uma e do conjunto destas forças.

Temo e corre-se o risco de, no  próximo verão, na próxima época de incêndios,  se nenhuma ponte vier a ser feita entre os Bombeiros e os  LIPS  e os meios aéreos, se chegar a situações desastrosas de os primeiros, Jips e helicópteros actuarem e a seguir os Bombeiros se remeterem  para aquilo que agora insistem ser a sua missão,  defender as populações, os aglomerados habitacionais, as pessoas, em sentido estrito.
Risco de haver primeiras intervenções de meios aéreos e a seguir  ficarem  todos á espera de quem não vem. Pois que os Bombeiros, a manter-se  a situação de  crispação,  entenderem  que se os "bons", especialistas,  são  os primeiros, os JIPS,  então,  que continuem,  eles remeter-se-ão á "sua missão".

E isto não pode acontecer.

Aconselho vivamente, em prol do bem comum, do interesse publico, das populações e do património urbano e florestal nacional,  que  tudo  se faça, desde já,  para o restabelecimento  do clima de cooperação e entreajuda entre estes diferentes actores com missões distintas.


Tenho  sido, ao longo dos anos e nas funções desempenhadas  nos orgãos da Sociedade Civil, treinado para construir "pontes"  e  dirimir situações de conflito ou de crispação.
E, o que vejo, preocupa-me.

É que,  se nada for feito, se não houver quem  estabeleça as pontes necessárias para que o esforço conjugado seja  eficaz e maximizado,    correr-se-á o muito sério risco  de os helicópteros actuarem, largarem os JIPS, os primeiros e mais fortes ataques com toneladas de baldes de agua e em seguida ficarem  todos á espera pelos restantes meios que, se se ativerem  á sua estrita missão como agora parece estar definida,  só actuarão  como  defesa das populações, pessoas e propriedades urbanas,  não das florestas. Essas, parecem estar confiadas aos meios aéreos.

É muito importante olhar para o passado,  retirar experiência e lições. Mas é importantíssimo estabelecer orientações, competências e missões de intervenção, sem confusão de espécie alguma,  para  futuro  que já aí está.


Carlos Pereira Martins
ex Membro  do CES  e do Com.Economico e social Europeu



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