VEM AÍ MAIS UMA EDIÇÃO DA VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA, A DE 2017
Longe vão os tempos em que, pela mão do meu Pai ia muitas vezes, ao domingo, de manhã ver jogar os juniores e, á tarde, pelas 15 ou pelas 16 horas, conforme fosse verão ou inverno, ver os seniores.
E havia sempre os relatos de futebol em várias rádios, de jogos variados e, dos que não eram relatados, os resultados eram anunciados pelo meio ou logo no final.
Um relato de futebol era uma coisa com vida. Ou não fosse o futebol e o desporto em geral, paixão, emoções fortes, tempo de mandar a razão, a ponderação e muitas outras virtudes ás urtigas. Passado o momento, ou o digerido o resultado, voltava-se á sã convivência e dava-se, em regra, razão a quem sempre a tinha tido.
Um relato de futebol era uma narrativa constante do trajecto da bola, mais tarde para dar um toque de "finesse" à coisa, também chamada de esférico, de quem a conduzia, ganhava ou perdia, das fintas e dos falhanços, alguns de bradar aos céus, lembro-me bem.
Num relato de futebol, quando o locutor, comentador, perdia o fio à meada, não lhe vinha à ponta da língua, de imediato, o nome do jogador ou outro pormenor, inventava. Não podia era parar de debitar movimento, relatar, dar pelo som, a imagem que ainda não passava nos ecrãs . E, se um guarda chuva, algum espectador, ou o fiscal de linha se colocasse no angulo de visão do locutor, só tinha que inventar o que se passava no terreno de jogo. Parar, calar, nunca.
Hoje em dia, sei que há sempre , ou quase sempre, a imagem e os relatos já não podem ser o que eram. Mas, com franqueza, na maioria dos casos, é confrangedor. Não entendo como ainda tantas empresas pagam publicidade caríssima nas transmissões ou supostos relatos daqueles actos quase fúnebres, a meio termo entre um velório, uma palestra da mais erudita arte literária, ou uma sinfonia de Wagner na Gulbenkian ou no São Carlos.
Cada coisa em seu lugar, cada uma em seu momento e tempo.
Com raríssimas excepções, e delas refiro a Helena Costa, o Pedro Henriques e o José Nunes, que me desculpem alguns, poucos, outros que, agora e ao correr da escrita e do pensamento, não me virão à memória. Todos os citados, por acaso, da Sport Tv. Os jornalistas, relatores, comentadores de hoje, refugiam-se no facto de a imagem acompanhar a narrativa e falam de curiosidades, factos diversos, historietas , estatísticas passadas, de jogadores, equipas ou competições enquanto a bola rola de pé para pé, sem mencionarem a que raio de artista o pé pertence, sem a gana, a vida, a paixão que faz, de facto, parte integrante daquela modalidade desportiva. Em tom de conversa de consultorio medico, monocórdico, não vá incomodar alguém.
E, muito legitimamente haverá já quem se interrogue, mas que raio tem isto a ver com a VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA?
Pois bem, é que está a chegar o dia, que serão dias, em que os nossos sentidos serão brindados com o que de melhor se faz em termos de relato de modalidades desportivas. Relato da partida, do percurso, da cultura e da historia dos sitios visitados pela caravana da Volta. Tempo para matar saudades, pela vista , pelo ouvido, pelo prazer que nos inunda a alma ao acompanhar as reportagens a que a RTP e as equipas que normalmente cobrem a Volta, nos habituaram e não desistem de fazer. Omitirei nomes, naturalmente, para não parecer um elogio barato a gente que muito estimo. Mas todos os conhecem, aos de sempre !
E uma qualidade destas não se consegue sem um enorme, profundo e aturado "trabalho de casa". Que envolve cultura, geografia, historia dos locais, do país e das regiões visitadas, da modalidade e dos interpretes, dos ciclistas.
Será tempo para matar saudades pelos que cá estão e nem sempre os orçamentos familiares lhes permitem passear-se por este pequeno mas "enorme Portugal" de maravilhas, para os que podendo, a saúde tantas vezes os impede, para os que estão longe, na labuta do Grande Mercado da Saudade, e com a Volta poderão ver , de perto , locais que muito lhes dizem respeito e se achavam fora dos mapas televisivos.
É que, com a VOLTA, sinto-me regressar aos meus tempos dos relatos de futebol bem vivos, em que o esférico já rola pelo relvado, ou pelo pelado, e o Zé Pereira, o Passado Azul, ainda voou para desviar o esférico para canto depois de uma finta soberba do Simões combinada com o Mario Coluna. Mais tarde, talvez para dar um ar de maior vivacidade á "coisa", alguém acrescentou à finta o termo maravilhoso e ritmado de "REVIANGA" e ao esférico o de "Redondinha" .
Uma maravilha, uma delícia, essa escola de jornalismo desportivo.
Uma maravilha, uma delícia, essa escola de jornalismo desportivo.
Vem aí a VOLTA A PORTUGAL e, com ela, o que de melhor temos em matéria de comentários e jornalismo desportivo.
Também por tudo isto e porque o ciclismo é uma modalidade sazonal, sempre que estes profissionais da elite da comunicação desportiva são chamados a fazer coberturas de outras modalidades e eventos, o êxito tem estado garantido e a qualidade fala por si.
Parabéns á RTP, parabéns á Equipa da Volta.
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