terça-feira, 1 de agosto de 2017

VEM AÍ A VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA - 2017



VEM  AÍ  MAIS  UMA EDIÇÃO DA VOLTA  A PORTUGAL EM BICICLETA, A DE  2017



Longe vão  os tempos  em  que,  pela mão  do  meu Pai  ia muitas vezes, ao domingo,  de manhã ver  jogar os juniores e, á tarde, pelas 15  ou pelas 16 horas,  conforme  fosse verão  ou inverno,  ver os seniores.
E  havia  sempre  os relatos de futebol em várias rádios, de jogos variados e, dos que não eram  relatados,  os resultados  eram  anunciados  pelo meio  ou logo  no  final.

Um relato de futebol  era  uma coisa  com vida. Ou não fosse  o futebol e o desporto  em geral,  paixão,   emoções fortes,  tempo  de  mandar  a razão,  a ponderação  e  muitas outras virtudes  ás urtigas.  Passado  o momento,  ou o digerido  o resultado,  voltava-se á sã convivência e dava-se, em regra,  razão  a quem  sempre a tinha tido.

Um relato  de futebol  era  uma narrativa constante do  trajecto da bola,  mais tarde  para dar um toque  de "finesse" à coisa,  também  chamada  de  esférico,  de quem  a  conduzia, ganhava ou perdia,  das fintas e dos falhanços, alguns de bradar aos céus, lembro-me bem.
Num relato  de futebol, quando o  locutor,  comentador,  perdia o fio à  meada, não lhe vinha à ponta da língua,  de imediato, o nome do jogador  ou outro  pormenor,  inventava. Não podia  era parar  de debitar  movimento, relatar,  dar  pelo som, a imagem  que ainda não passava  nos ecrãs .  E, se um guarda chuva, algum  espectador,  ou  o fiscal de linha  se colocasse no angulo de visão  do  locutor,  só  tinha que inventar  o que se passava no terreno de jogo.  Parar,  calar,  nunca.

Hoje em dia,  sei  que há sempre , ou quase sempre,  a imagem e os relatos  já não podem ser o que eram. Mas, com franqueza,  na maioria dos casos, é confrangedor.  Não entendo  como ainda tantas empresas  pagam  publicidade  caríssima  nas transmissões ou  supostos relatos   daqueles  actos  quase fúnebres,  a meio termo entre um velório,  uma palestra da  mais erudita  arte  literária,  ou  uma sinfonia de Wagner na Gulbenkian  ou no São Carlos.  
Cada coisa em  seu lugar, cada uma em seu  momento  e tempo.

Com raríssimas excepções, e delas refiro   a Helena Costa,  o Pedro Henriques e o José Nunes,   que me desculpem  alguns, poucos,  outros  que, agora e ao correr  da escrita e do pensamento, não me virão  à memória.   Todos  os  citados,  por acaso,   da Sport  Tv.   Os  jornalistas,  relatores,  comentadores de hoje,  refugiam-se no facto de a imagem  acompanhar  a narrativa  e  falam  de  curiosidades,  factos  diversos, historietas  ,  estatísticas  passadas,  de jogadores,  equipas  ou  competições  enquanto  a bola rola  de  pé para pé,  sem  mencionarem  a que raio de artista o pé pertence,  sem  a gana,  a vida,  a paixão  que faz, de facto,  parte  integrante  daquela modalidade desportiva. Em tom de conversa  de  consultorio  medico, monocórdico, não vá incomodar alguém.  

E, muito legitimamente haverá já quem  se interrogue,  mas que  raio tem isto a ver com a VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA?

Pois bem,  é  que está a chegar o dia,  que serão  dias,  em  que  os  nossos sentidos   serão  brindados com  o que de melhor  se faz  em termos de relato  de  modalidades desportivas. Relato da partida,  do   percurso,  da cultura  e  da historia  dos sitios  visitados pela caravana da Volta.  Tempo para matar saudades,  pela vista , pelo ouvido,  pelo  prazer que nos inunda a alma  ao acompanhar as reportagens  a que a RTP  e as equipas que  normalmente cobrem a Volta,  nos habituaram  e  não desistem  de fazer.  Omitirei  nomes, naturalmente,  para não parecer um elogio  barato  a gente  que  muito estimo. Mas todos  os conhecem,  aos de sempre !
E  uma  qualidade  destas não se   consegue  sem  um    enorme,  profundo  e aturado  "trabalho de casa".  Que  envolve cultura,  geografia,  historia dos locais,  do país e das regiões visitadas,  da modalidade  e  dos interpretes,  dos  ciclistas.

Será tempo  para matar saudades pelos que  cá estão  e nem sempre os orçamentos  familiares lhes permitem   passear-se por  este  pequeno  mas "enorme Portugal"  de maravilhas, para os  que podendo,  a saúde tantas vezes os impede,  para os que estão longe,  na labuta  do  Grande Mercado  da Saudade,  e com a Volta  poderão ver , de perto ,  locais  que  muito  lhes dizem  respeito  e se achavam  fora dos  mapas  televisivos.

É que,  com  a VOLTA,  sinto-me regressar  aos  meus tempos dos relatos de futebol  bem vivos,  em que o esférico  já rola   pelo relvado,  ou pelo pelado,   e  o Zé Pereira, o Passado Azul,   ainda voou  para desviar o esférico para canto  depois  de uma finta  soberba do Simões combinada com  o Mario Coluna.   Mais tarde,  talvez   para dar um ar  de maior  vivacidade á "coisa",  alguém  acrescentou à  finta  o termo  maravilhoso e ritmado  de "REVIANGA"   e ao esférico   o  de   "Redondinha" .
Uma  maravilha,  uma delícia, essa escola de jornalismo desportivo.

Vem  aí a VOLTA A PORTUGAL  e, com ela,  o que de melhor temos em matéria de comentários e jornalismo desportivo.   
Também  por tudo  isto  e  porque  o ciclismo é uma modalidade sazonal,  sempre que estes profissionais da elite da comunicação desportiva são chamados a fazer coberturas de outras modalidades e eventos,  o   êxito tem estado garantido  e a qualidade fala por si.
Parabéns  á RTP,  parabéns  á Equipa da Volta.

Carlos Pereira Martins




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