quarta-feira, 20 de junho de 2012

Crise Económica - Sauda-se a atitude enérgica mas... afinal quem continua a arrecadar os milhões ?


Sensações diversas as que as noticias da  manhã  do dia 18 de Junho  provocam.
Vamos aos factos. A União europeia decidiu disponibilizar uma verba difícil de imaginar ou mesmo pronunciar, de 750 mil milhões de euros, para que seja utilizada em compra de divida soberana, dos Estados Membros sob ataque dos "Mercados" e, assim, minimizar a especulação sobre esses Estados e sobre o Euro.
Fica um enorme vazio de objectividade no noticiado.
Afinal, trata-se de um Resgate a Espanha e a Itália ou  a que tipo  de  intervenção concrecta se destina esta verba tão volumosa?
É para servir de alternativa ao recurso  destes ou de outros Estados Membros ao financiamento através da colocação de dívida nos chamados "Mercados",  podendo, desta forma e com esta verba ser financiados directamente através do BCE, fugindo á logica especulativa dos "Mercados" ?
será, finalmente, o reforço da intervenção do BCE, assumindo o papel de verdadeiro Banco central da UE, que deve ser?
Ou  será  para  continuar a intervir nos "Mercados"  e, dessa forma, ir alimentando   a  mesma lógica de  especulação?
E, falando de Dívida, antes de mais, será   absolutamente  necessário auditar a Divida,  pois, se há dívida séria, justificada, há outro tipo de Dívida que é fraudulenta na sua génese, não pode ser admitida e paga pelos cidadãos através dos Governos legitimos.

Comentários e reacções diversas ouvi assim que liguei o radio do carro , ao sair para a rua.
Um jornalista e comentador económico que, por sinal, muito aprecio, Nicolau Santos,  congratulava-se e  dizia que era uma medida de  grande alcance e dimensão, necessária para acalmar os "Mercados" e evitar a especulação contra a Moeda Única.

Outra jornalista , que aprecio igualmente, Teresa de Sousa, das poucas que vão tratando com rigor, seriedade, conhecimento técnico  e objectividade  as  questões europeias, designadamente a chamada crise,  referia-se a uma nova atitude, mudança radical da política europeia. Alertava para o facto de se ter dito que as lideranças europeias só mudariam de políticas e atitudes, só passariam dos "panos quentes" para as medidas adequadas, quando estivessem em causa a Espanha ou a Italia, Estados que exigiriam um nível de intervenção  e montante de resgate que se torna equivalente  a  dez vezes o necessário para a intervenção feita em Portugal.

Há, em tudo isto, algumas evidências que agora todas as pessoas  concordam ver mas que, durante muito tempo eram rejeitadas e davam aso a tremenda argumentação na luta da  pequena política, a politiquice  que alimenta a ânsia de poder, a venda de jornais, a venda de espaços nas televisões e na maior parte dos media.

O próprio Presidente da Comissão Europeia fez eco de algumas dessas verdades, evidências, ontem mesmo, na Cimeira do G20.

A crise não é um fenómeno europeu, a Crise teve origem do lado de lá do Atlântico;  a crise europeia eclodiu com a necessidade de salvar a Banca ou, pelo menos, alguns monstros, em dimensão, da Banca americana,   e os prejuízos que isso induziu na Banca europeia, transmitindo-se, em seguida,  e agravando  o tecido produtivo, industrial, comercial das várias Economias.
A receita encontrada, de cortes drásticos nos rendimentos, redução de salários e aumento da carga de impostos, levaram, como qualquer um veria, não fosse ou a cegueira ideológica ou a motivada pela ânsia  desmesurada de ascender ao Poder,  a uma fortíssima contracção no consumo,  á falência de muitas unidades produtivas,  a reduções muito significativas nos volumes transaccionados de bens e serviços,  á apatia e desespero do Comércio  e,  muito lógica e inevitavelmente ao desemprego.


Agora, nos dias que correm, isto é aceite por todos, ou quase todos, em abono da verdade.

Mas, voltando ás noticias do dia, e á tal disponibilização dos 750 mil milhões de euros,  é indispensável
deixar claro outro aspecto.

Em verdade,  a  grande fatia dos muitos milhões que já foram utilizados na chamada "ajuda" aos Estados Membros foram directamente canalizados para o sistema financeiro, para os Bancos.

Os Cidadãos queixam-se, os Cidadãos pagam, ou em impostos ou em cortes no que, de direito, deveriam receber, a Industria e o Comercio queixam-se que não encontram fontes de financiamento, a Banca queixa-se  que não tem liquidez para conceder crédito e, em nome da salvação das Economias e dos Sistemas Bancários que continuam a ser indispensáveis  á vida e forma de Sociedade que conhecemos, são "dados"  á Banca.

Muita crise, muitos sacrifícios,  muita decisão de deixar morrer mais cedo muita gente - sim, pois se é decidido não prestar certos cuidados de saúde, fechar unidades,  reduzir actos cirúrgicos  ou  não contribuir  na assistência  medicamentosa  a níveis que permitam que os doentes os comprem, está a tomar-se , cada dia, a opção de salvar  ou deixar morrer,  dar mais  ou  menos  tempo de vida a camadas largas de Cidadãos menos favorecidos.

E, como até aqui, como aconteceu com o resto da chamada "ajuda" aos já vários Estados Membros intervencionados de forma clara ou encoberta,  o destino destes 750 mil milhões de euros irá ser mais um jackpot para o sistema financeiro.

O mesmo que originou todo este pesadelo  e continua  a arrecadar os foguetes e as canas, tudo.

Muitas pessoas viram já e mudaram de opinião, felizmente, de tal forma que já olham o que era obvio mas negavam e encaram  os resultados anunciados  como  evidências.
Mas, mesmo muitas dessas e muitas outras,  precisam entender e reconhecer que há que mudar  estruturalmente tudo isto.
Será a tal mudança de paradigma de que Mario Soares  tanto tem falado?
Talvez sim.

Esta nova injecção de 750 mil milhões vai direitinha  para, como dizem muitos, uns ideologicamente fanáticos,  outros ainda bem intencionados,   para  "acalmar os Mercados".

Claro que acalmam, por mais uns dias, uns tempos, para tudo recomeçar com mais especulação e levar a novas injecções de fundos  novamente direitos para os cofres de quem está a comandar toda esta tragédia humana, planetária, esta comédia se o caso não fosse demasiado sério pois estamos a falar de PESSOAS e de VIDAS  humanas.

No fundo, todas as medidas são,  em boa verdade, um grande engano, para ser bem intencionado, ou mais uma colaboração directa no saque e no holocausto  de   milhões  de Cidadãos.   Todas as  medidas  que contribuam para engordar quem é de facto carrasco da Humanidade nos dias que correm, são um engodo.

Há que  inventar  ou refundar uma Sociedade civilizada, produtiva, com Valores , com respeito mútuo, com ganhadores e perdedores,  com mais ricos e menos ricos, Patrões e Subordinados,  Governantes e governados ...  mas sem estes sangue-sugas dos "Mercados".
Enquanto não haja um forte movimento que envolva os Estados, Governantes e  Cidadãos   no sentido de colocar um ponto final nesta enfermidade  que são os carrascos da Humanidade,   não há medidas que possam resultar  e fazer parar o ciclo dramático de  horror  em  que quase todos fomos envolvidos.

CPM  

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