Em minha opinião, a chave real para as soluções que possamos encontrar não só para a crise actual mas para todos os problemas com que nos confrontaremos no presente e futuro, passa por uma grande capacidade e esforço para integrar conhecimentos, integrar efeitos, relacionamentos e implicações dos vários fenómenos e medidas adoptadas, exigindo, igualmente, uma enorme capacidade de bom senso e experiência.
Uma das dificuldades para integrar conhecimentos e soluções para a chamada "Crise", é que ela tem uma vertente de curtíssimo prazo, a crise financeira, outra de médio prazo, a crise económica e outra de longo prazo, a crise cultural e política. E, as soluções
adoptadas para resolver uma delas, complicam, muitas vezes, a situação das outras. Pouca gente tem tido esta noção, infelizmente.
adoptadas para resolver uma delas, complicam, muitas vezes, a situação das outras. Pouca gente tem tido esta noção, infelizmente.
Quando se ataca uma, tende-se a esquecer as outras. Aconteceu no passado recente com a crise ambiental e energética. A crise financeira fez esquecer o que vinha a ser um combate de décadas e prioritário, salvar o Planeta.
O mesmo acontece dentro de cada País onde as soluções para salvar uns são, muitas vezes, a condenação de outros á pobreza. Veja-se que, em geral, no mesmo momento em que se tomam medidas que decretam o empobrecimento e o desemprego para milhares, outros, o sector financeiro, por exemplo, vê as Bolsas valorizar-lhe os activos e registam mais valias.
Daí o meu apelo á capacidade para integrar conhecimentos , análise e soluções. A verdade é que as soluções estão muito longe de ser únicas.
As que se tomam para salvar um país, são as que são postas em causa noutro país vizinho, exactamente também para o salvar.
Aconteceu na Europa e nos Estados Unidos como solução para crise e a grande depressão de 1929. A resposta passou pela maior intervenção do Estado para garantir a estabilidade que a "perfeição do Mercado" não assegurava realmente. Hoje em dia, as novas crises fizeram já esquecer esta experiência e ensinamentos das crises anteriores e voltaram a ser os Mercados a prometer a estabilidade e eficiência , argumentado ainda que é exactamente o Estado que o impede. Quem tem razão ?
Os dois, em doses muito bem ponderadas e com implicações múltiplas, naturalmente.
Outro aspecto muito importante que gostaria de avivar e deixar claro é que quem quem está na origem de rupturas estruturais tão fortes como as que têm acontecido, garante para si o poder para definir as soluções a adoptar, as ditas soluções únicas que vão permitir que o seu grupo sobreviva á situção e reforce o seu poder. Veja-se o que está a acontecer com os grandes grupos financeiros americanos.
Ter bem presente esta diversidade de implicações das soluções e medidas adoptadas é fundamental para ler o alcance das chamadas soluções unicas e inevitaveis que, em cada país, são apresentadas como tal.
Senão, vejamos, as despesas sociais com a educação, saúde, assistência aos idosos que hoje na Europa são vistas como custos evitáveis e a fazer desaparecer, no Brasil e noutras sociedades em crescimento são hoje vistas como investimento estratégico ! Quem tem razão ? Naturalmente, os dois lados, com leituras imediatas diferentes dos efeitos colaterais totais.
Os Profissionais Liberais são, na sociedade civil, uma parte substancial da chamada classe média, a base real do crescimento e da sustentabilidade das sociedades ocidentais tais como as conhecemos.
Recentemente, no seu país de origem, um grupo de cidadãos tomou uma iniciativa que foi difícil de entender até por aqueles a quem muito iria beneficiar.
É, a meu ver, contudo, muito fácil de entender.
Quem não tem meios e também quem é pobre, não paga impostos.
Quem tem meios, muita riqueza, não paga impostos pois tem poder para os evitar.
Quem vive do rendimento do trabalho não tem alternativa e paga para si e para todos os que não pagam, para ir garantindo os equilíbrios que permitam que vão funcionando as Sociedades tal como as conhecemos.
Se duvidas houvesse, a experiência recente tem demonstrado que , sempre que é necessário recorrer a reforços na receita do Estado, os governos não conhecem outra alternativa, lançam mão daquela que lhes garante eficácia imediata, fazer pagar a classe média.
A classe média é, de facto, o grande sustentaculo das sociedades ocidentais, do mundo civilizado. Trabalha, produz, consome, paga impostos e tem filhos para garantir que o ciclo se vá repetindo.
O que está a acontecer presentemente é que de tanto penalizar exactamente a classe média, corre-se o risco de acabar com o poder que ainda tem tido de consumir que , por sua vez, garante que haja necessidade de produzir e que, por sua vez, garante que haja emprego para gerar rendimentos que possibilitam que pague impostos e o Estado tenha meios para fazer toda esta engrenagem funcionar, gostaria muito de acrescentar, em harmonia !
Nestes tempos de enormes dificuldades para todo o mundo até agora apelidado de civilizado, em que as roturas começaram a ameaçar assustadoramente o funcionamento de muitas economias e de cada vez mais Estados, houve quem , inteligentemente, visse que o risco de tudo isto se perder e as sociedades, tal como as conhecemos , deixarem de funcionar é elevadíssimo.
Outras se reinventarão por certo, mas a incógnita, o desconhecido, gera um natural desconforto.
O chamado Grupo dos Ricos franceses, podemos passar a chamar-lhe GGPS, que se propôs contribuir com um imposto extraordinário para a crise, não é mais do que um Grupo de Gente Preocupada e Sensata.
Inteligentemente, entendem que mais vale fazer algum sacrifício e ajudar a que o mecanismo que deles faz Ricos seja assegurado, não lhes acabe a galinha dos ovos de ouro, do que assistir ao esmagamento e desaparecimento da classe média, trabalhadora, produtora, consumidora, pagadora de impostos e geradora das mais valias e riqueza que , deste GGPS faz Ricos.
Infelizmente, não é esta atitude inteligente que se vê na grande maioria das iniciativas dos Governos europeus.
Por ridiculo, masoquista e suicidário, se faz grande eco, cada vez que se anuncia um nova mediada muito penalizadora, que não é assim tão má pois deixará de fora, não se aplicará a vários milhões de cidadãos ... que já não ganham o minimo que permita que paguem quaisquer impostos !
Triste sociedade, tristes governantes que se contentam ou parece não lhes doer pronunciar tão tristes argumentos.
Os avisos têm vindo a ser repetidos cada vez com maior insistência. Foi agora a própria Directora do Fundo Monetário Internacional a recomendar e alertar para que não se ponha em causa o poder de compra que permita manter a maquina produtiva das economias a funcionar, a dar emprego, as Sociedades coesas.
Mas, naturalmente, que a fobia pelo corte a direito, pela reduçao de custos em todo o lado, fala muito mais alto.
E compreende-se, dadas as dificuldades financeiras que , também elas, por sua vez e como que pelo reverso da mesma medalha, ameaçam os equilibros de funcionamento das sociedades e dos Estados.
Como sempre na vida, por naife que pareça, o bom senso é a chave de tudo.
Há muitos casos que têm vindo a publico nas ultimas semanas em que faz falta essa boa dose de bom senso, saber feito de experiência vivida e de alguma coragem para o fazer.
Num grande numero de situações, importará que prevalesça a regra de, desde que não haja mais prejuizo, se esqueça o conforto de gerar lucros e se permita que haja emprego. Ela por ela, sem ganhar nem perder, que se ponham as pessoas a trabalhar.
Claro que esta função só pode ser assegurada pelo Estado. Não se pode exigir ou, sequer, pedir a um privado que trabalhe só para aquecer, que esqueça ou renuncie ao lucro. Não seria de bom senso fazê-lo.
Mas, para garantir que a "máquina" continue a funcionar e as pessoas a viverem com a segurança que o funcionamento das sociedades lhes vai garantindo, para que tudo seja igual a tudo o que nós conhecemos, já é agora necessário mudar alguma coisa, reinventar alguma coisa nestas nossas sociedades civilizadas. È premente que haja alguma coisa ou alguém que labore sem a exigência, a obrigatoriedade , do lucro. Apenas a garantia de não prejuizo, ela por ela, para que muitos trabalhem, estejam saudavelmente ocupados, tenham algum rendiento e não se dediquem a corroer e destriur a malha social.
Foi isto que o GGPS viu.
É esta a dose de inteligemcia e Bom Senso que está por detrás da atitude aparentemente naife de tão benemérita do GGPS.
Carlos Pereira Martins
Conselheiro - Member
Conselheiro - Member
Comité Economique et Social Européen (CESE)
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