Muito fácil de entender.
Quem não tem meios e também quem é pobre, não paga impostos.
Quem tem meios, muita riqueza, não paga impostos pois tem poder para os evitar.
Quem vive do rendimento do trabalho, não tem alternativa e paga para si e para todos os que não pagam, para ir garantindo os equilíbrios que permitam que vão funcionando as Sociedades tal como as conhecemos.
Se duvidas houvesse, a experiência recente tem demonstrado que , sempre que é necessário recorrer a reforços na receita do Estado, os governos não conhecem outra alternativa, lançam mão daquela que lhes garante eficácia imediata, fazer pagar a
classe média.
A classe média é, de facto, o grande sustentaculo das sociedades ocidentais, do mundo civilizado. Trabalha, produz, consome, paga impostos e tem filhos para garantir que o ciclo se vá repetindo.
O que está a acontecer presentemente é que de tanto penalizar exactamente a classe média, corre-se o risco de acabar com o poder que ainda tem tido de
consumir que , por sua vez, garante que haja necessidade de
produzir e que, por sua vez, garante que haja
emprego para gerar rendimentos que possibilitam que pague
impostos e o Estado tenha meios para fazer toda esta engrenagem funcionar, gostaria muito de acrescentar,
em harmonia !
Nestes tempos de enormes dificuldades para todo o mundo até agora apelidado de civilizado, em que as roturas começaram a ameaçar assustadoramente o funcionamento de muitas economias e de cada vez mais Estados, houve quem , inteligentemente, visse que o risco de tudo isto se perder e as sociedades, tal como as conhecemos , deixarem de funcionar é elevadíssimo.
Outras se reinventarão por certo, mas a incógnita, o desconhecido, gera um natural desconforto.
O chamado Grupo dos Ricos franceses, podemos passar a chamar-lhe
GGPS, que se propôs contribuir com um imposto extraordinário para a crise, não é mais do que um
Grupo de
Gente
Preocupada e
Sensata.
Inteligentemente, entendem que mais vale fazer algum sacrifício e ajudar a que o mecanismo que deles faz Ricos seja assegurado, não lhes acabe a galinha dos ovos de ouro, do que assistir ao esmagamento e desaparecimento da
classe média, trabalhadora, produtora, consumidora, pagadora de impostos e geradora das mais valias e riqueza que , deste GGPS faz Ricos.
Infelizmente, não é esta atitude inteligente que se vê na grande maioria das iniciativas dos Governos europeus.
Por ridiculo, masoquista e suicidário, se faz grande eco, cada vez que se anuncia um nova mediada muito penalizadora, que não é assim tão má pois deixará de fora, não se aplicará a vários milhões de cidadãos ... que já não ganham o minimo que permita que paguem quaisquer impostos !
Triste sociedade, tristes governantes que se contentam ou parece não lhes doer pronunciar tão tristes argumentos.
Os avisos têm vindo a ser repetidos cada vez com maior insistência. Foi agora a própria Directora do Fundo Monetário Internacional a recomendar e alertar para que não se ponha em causa o poder de compra que permita manter a maquina produtiva das economias a funcionar, a dar emprego, as Sociedades coesas.
Mas, naturalmente, que a fobia pelo corte a direito, pela reduçao de custos em todo o lado, fala muito mais alto.
E compreende-se, dadas as dificuldades financeiras que , também elas, por sua vez e como que pelo reverso da mesma medalha, ameaçam os equilibros de funcionamento das sociedades e dos Estados.
Como sempre na vida, por naife que pareça, o bom senso é a chave de tudo.
Há muitos casos que têm vindo a publico nas ultimas semanas em que faz falta essa boa dose de bom senso, saber feito de experiência vivida e de alguma coragem para o fazer.
Num grande numero de situações, importará que
prevalesça a regra de, desde que não haja mais prejuizo, se esqueça o conforto de gerar lucros e se permita que haja emprego. Ela por ela, sem ganhar nem perder, que se ponham as pessoas a trabalhar.
Claro que esta função só pode ser assegurada pelo Estado. Não se pode exigir ou, sequer, pedir a um privado que trabalhe só para aquecer, que esqueça ou renuncie ao lucro. Não seria de bom senso fazê-lo.
Mas, para garantir que a "máquina" continue a funcionar e as pessoas a viverem com a segurança que o funcionamento das sociedades lhes vai garantindo, para que tudo seja igual a tudo o que nós conhecemos, já é agora necessário mudar alguma coisa, reinventar alguma coisa nestas nossas sociedades civilizadas. È premente que haja alguma coisa ou alguém que labore sem a exigência, a obrigatoriedade , do lucro. Apenas a garantia de não prejuizo, ela por ela, para que muitos trabalhem, estejam saudavelmente ocupados, tenham algum rendiento e não se dediquem a corroer e destriur a malha social.
Foi isto que o GGPS viu.
É esta a dose de inteligemcia e Bom Senso que está por detrás da atitude aparentemente naife de tão benemérita do GGPS.
E o Futebol Tão á Parte
Em quase todos os sectores de actividade, num numero já muito alargado de empresas, independentemente da sua dimensão, cada vez mais se encontram os sinais visiveis da crise que já passou as fronteiras nacionais ou europeias, é, de facto, global e internacional.
Por isso mesmo, a excepção que o mundo do futebol, também neste caso, parece ser, atente-se ao que se passa desde há muito em matéria de direito, leis laborais e conflitos de clubes, por exemplo, em que o futebol tem os seus orgãos próprios, causa maior estranheza. Referimo-nos aos chamados "Grandes Clubes" pois os outros, a quase generalidade deles, mesmo há muito tempo antes da visibilidade da crise, vivem daquilo que não têm.
Como é sabido.
Até que alguma coisa aconteça, tal e qual como no caso dos Países.
Mas são , de facto, ofensivos, porque pornográfico é outra coisa e não iremos fazer confusões, os números que vêm a publico dos contratos já não só das grandes estrelas mas de um numero cada vez mais vasto de jogadores, quando comparados mesmo com quem receba dentro da média alta dos salários portugueses.
Poder-se-á argumentar que , se por um lado levam recursos , no caso das aquisições de jogadores ao estrangeiro, são fontes de entrada de divisas e de recursos, nos casos das vendas.
E, os chamados Grandes clubes portugueses, têm sobretudo cedido, vendido, as suas estrelas para o estrangeiro.
Vamos esquecer as equipas que este ano já entraram em campo só com sul americanos ou apenas com um português.
Mesmo assim, no deve e haver falta demonstrar que, mesmo nos casos de vendas fabulosas, os fundos ficam no País, ou alguma vez cá entrarão. Falta a evidência da domiciliação desses fundos, a que offshores irão parar.
Será que os jogadores, os seus empresários e todos os que, á sua volta, lucram com isso, não deveriam aprender alguma coisa com o GGPS ?
E Os Jornalistas Tão a ... Leste !
Estranho também tem sido a atitude de alguns jornalistas, muitos deles dos mais vistos e reconhecidos pela "população informada", ou , como eles lhes gostam de chamar, pelos "Portugueses".
Não importa o teor e o conteúdo da noticia, venha ela a deixar o País definitivamente mais próximo do perigoso e desprestigiante patamar dos almeidas ou não, o ar e a entoação com que é lida é de quem está fora dela, nada tem a ver com isso, está, definitivamente acima da situação. Boaventura Sousa Santos, num livro recente que já li, diz que parecem alemães esses leitores de noticias portugueses. Sim, leitores por respeito aos Jornalistas.
Os exemplos são muitos de pessoas que temos visto, em diferentes sectores e com diferentes responsabilidades que se dão ares de quem está muito acima da crise e, lamentávelmente, a velocidade com que a situação evolui, nos tem permido ver as mesmas pessoas já completamente envolvidas, apanhadas. Por lamentável que isso seja.
Alguns não disfarçaram mesmo que viam na situação dificil em que o País estava progressivamente a cair, a sua galinha dos ovos de ouro.
Não tardaram os pseudo serões de debate esclarecido com os habituas clientes/actores que explicam e debitam verdades sobre tudo o que lhes seja pedido. Mesmo os que estão há muito fora de validade , com muito merito no seu tempo mas que insistem agora em fazer de muitos parvos e fazer de si pessoas ridiculas.
Convenhamos , por isso, que os leitores de noticias, por respeito aos Jornalistas, não têm deixado ficar muito bem a classe.
Mas não só os jornalistas. Recordo, a propósito o ar ridículo, naturalmente ridículo pois se assim não fora quereria dizer que o tomei a sério e, aí, significaria também que ele tinha feito de mim e de tantos outros parvos, de um famoso empresário que veio aos ecrãs pingar consternação e pena pelos empregados que , no trabalho, por culpa, penso eu que ele queria fazer passar a mensagem, do Primeiro Ministro da altura, com quem não devia simpatizar muito, presumo, roubavam para combater a fome e a miséria que os afligia.
E ele que não sabia já como lidar com essas situações .. humanitárias, presume-se.
Não se terá lembrado de duas coisas elementares, evidentes, na altura.
Uma, de lhes pagar um pouco mais, ao nível, pelo menos, do ordenado mínimo nacional, mesmo que para isso tivesse de ver baixar os lucros escandalosos que averbava, outra, da figura ridícula e patética que vinha fazer , em público.
Lamentáveis situações, lamentável gente e lamentável crise.
Felizes os Estados, Felizes as Populações que têm um GGPS !
Carlos Pereira Martins
Conselheiro - Member
Comité Economique et Social Européen (CESE)
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